CIA na América Latina: dos golpes à tortura e assassinatos preventivos
27-02-2015 - Nil Nikandrov
Observações feitas pelo jornalista venezuelano José Vicente Rangel são geralmente vistas como bem informadas e acuradas. Para o programa de televisão Los Conficenciales (Fontes de Confiança) ele relatou recentemente a respeito do trabalho do pessoal suplementar para as estações da CIA na América Latina. De acordo com Rangel, pelo menos 500 reforços chegaram as embaixadas americana, e a outros U.S. tipos de quartel-general dos Estados Unidos na América Latina, para ajudar operacionais que já lá estavam, a aumentar suas actividades subversivas e de espionagem.
Esses agentes estão a focalizar países como a Venezuela, Bolívia, Argentina, Brasil, Equador, e Cuba. Entretanto, isso não significa que outros países estariam resguardados do policiamento imperial. De qualquer modo, por muito leais que esses governos sejam em seguir o caminho das directivas políticas americanas, as agências de inteligência dos Estados Unidos estão sistematicamente fortalecendo o seu pessoal secreto no México, na Guatemala, Colômbia, República Dominicana, Peru, Chile, e outros países. Na América Latina os serviços presidenciais e governamentais estão sendo deliberadamente infiltrados, assim também como a liderança das forças armadas, dos serviços secretos nacionais, e das agências de contra-espionagem. Os americanos estão forjando alianças para criar uma tropa de vanguarda, e cúmplices, para ajudá-los a opor-se a quaisquer potenciais inimigos deles no continente, especialmente então nos «regimes populares»
As posições operacionais dos serviços de inteligência U.S. na América Latina abriram muitos ramos novos e são agora capazes de levar a frente operações de destabilização. Em recentes anos, tais tentativas foram feitas na Venezuela, Bolívia, Equador, e Argentina, onde os governos desses países estiveram resistindo aos planos americanos de total controlo do continente abaixo do disfarce de uma criação de uma zona de comércio livre para todo o continente. Os esforços da CIA para forjar uma «revolução colorida» [lê-se golpe de estado] na Venezuela em 2002-2003 deu em nada: o Presidente Hugo Chavez não só sobreviveu mas conseguiu também ter sucesso em unir a América Latina. O seu sucessor, Nicolás Maduro, continua leal aos princípios da Revolução Bolivariana, enquanto rigorosamente resiste ás tentativas dos Estados Unidos para minar as suas realizações, isso sendo feito então através de conspirações económicas e financeiras além de encorajar provocações vindas da oposição radical na Venezuela.
Uma estratégia similar está sendo usada pela CIA contra o governo de Cristina Fernandez Kirchner na Argentina. Na Bolívia e no Equador estações da CIA estiveram tentando destabilizar o legitimamente eleito governo com a ajuda de forças policiais, dos quais muitos líderes tradicionalmente estiveram debaixo do domínio de instrutores americanos. O Presidente Rafael Correa do Equador por pouco escapou a morte quando rebeldes circundaram o edifício onde os seus guarda-costas o estavam protegendo quando franco-atiradores treinados pela CIA estiveram por muitas horas atirando nas janelas do seu refúgio. Uns bandos de militantes da Europa, usados pela CIA para actos terroristas foram incumbidos com a tarefa de assassinar o Presidente Evo Morales da Bolívia. De acordo com investigadores, a estação da CIA na Irlanda e na Hungria que montou os grupos.
A CIA na América Latina está claramente se preparando para exacerbar a situação. A vigilância electrónica da NSA, agência nacional de segurança dos americanos, apesar das revelações de Edward Snowden, Julian Assange e outros, não só continuam como aumentam, e muito, a sua intensidade. Os dados obtidos pela NSA estão sendo distribuídos para específicos serviços da comunidade de inteligência americana, dependendo das suas áreas de especialização. A CIA é o maior consumidor desse material, o qual é usado para o planeamento de «revoluções coloridas» ou seja, golpes de estado, assim também como para chantagem, recrutamento, provocações, campanhas de propaganda subversiva, e coisas do género. Note-se que cada administração americana –de Bush a Obama – focou-se na colheita de dados de espionagem, uma tarefa que tinha tido responsabilidade dos chamados «clean» empregados de várias agências, especialmente então do Departamento do Estado dos Estados Unidos. Isso foi motivado pela necessidade de aumentar a luta contra o terrorismo.
Num memorando assinado na época de Condoleezza Rice, mas aprovado pelos seus sucessores, Os diplomatas americanos ficavam encarregados de recolher dados a respeito de instalações militares, sistemas de comunicação usados nos países onde se encontravam, como os líderes eram protegidos, onde eles moravam e estacionavam os seus carros, quais os seus endereços de e-mails, números de telefone, etc. Um componente dessa tarefa é particularmente inquietante – os diplomatas ficaram também incumbidos de colher informação do estado de saúde de seus “alvos”, incluindo-se aqui dados a respeito da estabilidade mental de cada um. Menções também são feitas a respeito da necessidade de obter material visual, impressão digital e «material biológico». Esses últimos, de acordo com peritos do assunto, seriam úteis no planeamento de assassinatos com uso de tecnologia avançada. Brasil e Venezuela, assim como China e Rússia estão incluídos na lista de alta prioridade do Departamento de Estado americano para relatórios de inteligência de diplomatas na América Latina. Delegados e representantes dos países aqui mencionados devem ser seguidos continuamente, e isso não só na América Latina mas, por todo o mundo.
Entretanto a maior caça é feita contra os cidadãos da Rússia. Para aumentar sua efectividade os serviços de inteligência americanos usam um amplo arsenal de provocações e duplicidade. O piloto Konstantin Yaroshenko, que foi acusado do tráfico de drogas, foi envolvido num desses tipos de armadilha. De acordo com agências de notícias, uma empregada do pessoal da embaixada U.S. na Colômbia deu um secreto instrumento de gravação para um cidadão local que era um agente da DEA operando abaixo do nome de «Santiago». Depois de vários encontros entre o agente e o piloto, que resultou num vídeo e numa áudio gravação de suas conversas, os mesmos foram redigidos e apresentados num tribunal nos Estados Unidos, ainda que uma significante parte do seu conteúdo tivesse sido apagada, o que deu então um impacto directo no veredicto. Cidadãos do Brasil, Argentina, Venezuela, Nicarágua e muitos outros países foram vitimados por esse tipo de operações, sendo que as implicações são sempre as mesmas: A América Latina não conseguiria evadir-se da cooperação com a CIA!
De qualquer maneira, a agência tem um dossier na América Latina que levanta espanto até em governos que são leais a Washington. Uma agoirenta indicação das tácticas estilo Gestapo da CIA foi a criação da base militar U.S. de Guantanamo, em Cuba, com um campo para prisioneiros suspeitos de actividades terroristas, ou de instigação dos Talibãs. Em Dezembro de 2005, Condoleezza Rice declarou-se como defendendo a ideia desse campo, sublinhando o facto de que dessa maneira a CIA «tinha impedido ataques terroristas e salvado vidas inocentes na Europa, assim como nos Estados Unidos, e outros países». A respeito da revelação das prisões secretas Rice arrogantemente disse que «era para todos esses governos e seus cidadãos se decidirem contra ou a favor de trabalhar com os Estados Unidos para impedir ataques terroristas contra seu próprio país.
Em Dezembro de 2014. O Comité Americano de Selecção do Senado para inteligência publicou um relatório de 500 páginas quanto ao uso de tortura pela CIA para extrair confissões de indivíduos suspeitos de terrorismo. A versão completa tinha quase que 7.000 páginas e incluía muitos detalhes das «melhoradas técnicas de interrogação» usadas pela CIA. A sua publicação foi considerada como muito perigosa por que essa poderia proporcionar retaliação. O documento original foi redigido e retiraram-se os nomes das prisões secretas na Europa e na Ásia, assim como os nomes dos chefes da CIA que deram seu consentimento a tortura de prisioneiros, assim como o nome do pessoal que as administraram. Eles tiveram especialmente muito cuidado em apagar as informações a respeito das «tácticas avançadas de interrogação» usadas em Guantanamo.
O Secretário do Estado John Kerry também tentou tirar outros factos do documento dizendo que a publicação iria por em perigo vidas de diplomatas americanos no exterior. Só a intervenção de organizações dos direitos humanos conseguiu impedir isso. Agora a Human Rights Watch, a American Civil Liberteis Union, e outras organizações, estão tentando obter os nomes dos que criaram essas prisões e introduziram o uso de tortura. Entretanto, esses seus esforços estão sendo impedidos pela direcção John Brennan da CIA. A mesma desculpa é oferecida – a publicidade poria em perigo a vida dos empregados.
É importante para John Brennan poder manter seus empregados experientes depois das grandes reformas da CIA, projectadas por ele. Informações surgiram na media a respeito da natureza da planeada reorganização: em vez de ter departamentos especializados nas agências, e um serviço separado para análises do material de inteligência, centros de fusão serão criados. Esses centros de fusão deveriam ser responsáveis por regiões específicas e por ameaças sistemáticas a segurança dos Estados Unidos. Na perspectiva de John Brennan tem-se que principalmente dado ao facto de que a CIA durante muito tempo esteve concentrada nas guerras no Afeganistão e Iraque, assim também como nas operações do Norte da África e outras regiões remotas, incluindo-se aqui a Ucrânia, essas ameaças estariam agora vindo da América Latina.
Alianças estão sendo solidificadas no continente, e a formação e consolidação de organizações regionais como CELAC, UNASUR, MERCOSUR, ALBA e outras, enfraqueceram a posição dos Estados Unidos no continente. Washington vê as entradas sendo feitas pela China e Rússia [massivas ofertas de financiamentos, empréstimos e desenvolvimento da infra-estrutura sem exigências de cortes no desenvolvimento social] e isso não só em comércio e economia como também quanto a tecnologia e exploração espacial. A construção do Canal da Nicarágua com a assistência da China, Rússia e Brasil é um símbolo do desgaste geopolítico dos Estados Unidos.
Tendo-se em conta a natural arrogância dos mesmos, fracassos dessa magnitude são difíceis de serem engolidos, o que poderia explicar maquinações de revange através de simultaneamente destabilizar os governos populares e incitar guerra civil na Venezuela. As novas tropas chegando nas estações da CIA nas embaixadas americanas, e outros lugares, já estão mergulhando nos seus novos afazeres.
Nil Nikandrov
Referências e Notas:
- Artigo em inglés: The CIA in Latin America: From Coups to Torture and Preemptive Killings , strategic-culture.org, 22 de janeiro de 2015
- Artigo em russo: ЦРУ в Латинской Америке : от переворотов до пыток и превентивных убийств – www.fondsk.ru
- Traduzido da versão em inglês baseada no original russo – www.strategic-culture.org : Anna Malm, artigospoliticos.wordpress.com para Mondialisation.ca
Fonte: Global Research
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