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A Grécia não aceitará mais ordens

13-02-2015 - Luis Casado

O ruim para a Europa é que a bomba atómica está com a Grécia. Perdido por perdido, o governo pode decidir sair do euro. Tsipras, você terá essa coragem?

A inflexibilidade da Alemanha deixa à Grécia a alternativa de se ajoelhar ou de dar um soco na mesa... Sair do euro e recuperar a soberania perdida. A partida ainda não acabou, e a irresponsabilidade do neoliberalismo financeiro adquire traços de fundamentalismo.

“A Grécia não aceitará mais ordens, especialmente ordens recebidas por e-mail”, asseverou Tsipras no Parlamento grego, na primeira sessão do Syriza.

Como não observar com emoção o que ocorre na Grécia e na Europa? Pela primeira vez em décadas, um chefe de governo actua em defesa do povo grego, contra os poderes financeiros que esmagam a vida de milhões e milhões de famílias.

Não se pode esquecer o desgraçado episódio de Yorgos Papandreu, presidente da Internacional Socialista Europeia, na ocasião primeiro-ministro da Grécia (2010), que diante das exigências da troika (FMI, Comissão Europeia e Banco Central Europeu), anunciou a realização de um referendo para que o povo grego decidisse sobre seu próprio destino.

Angela Merkel, chanceler alemã, e Nicolas Sarkozy, presidente da França, voaram em sua jugular e o proibiram de levar adiante o referendo, negando a palavra ao povo que inventou a democracia. Yorgos Papandreu não resistiu nem 24 horas, e se humilhou obedecendo ordens de governantes estrangeiros. Yorgos Papandreu, o presidente da Internacional Socialista Europeia, da social-democracia que actua em nome da... democracia.

As bolsas europeias desabaram, e a Grécia iniciou seu caminho da cruz em direcção ao calvário em que a crucificariam em nome de interesses financeiros. Devo acrescentar que, em um par de horas, mais de 200 bilhões de euros saíram da Grécia em direcção aos paraísos fiscais do Mediterrâneo? Quatro anos mais tarde, a dívida pública passou de 120% a 190% do PIB, a taxa de desemprego supera os 26% (quase 60% dos jovens) e a riqueza criada na Grécia (PIB) diminuiu mais de 25%.

Aí estão as soluções da troika.

Nos últimos dias, Alexis Tsipras e seu ministro de Finanças, Yanis Varufakis, percorreram a Europa explicando que a troika deve desaparecer, que a Grécia não aceitará mais ordens, e que de agora em diante devem prevalecer os interesses do povo grego.

A imprensa e a TV europeias – os papagaios de pirata – cacarejam alegando que “os acordos são os acordos”, e que a Grécia deve pagar o que é impagável. Uma dívida contraída contra os interesses da imensa maioria dos gregos, com interesses que beneficiaram, entre outros, bancos alemães e franceses.

Entretanto, o Banco Central Europeu comprou a dívida grega, liberando os bancos privados de qualquer risco... Agora o BCE exige o pagamento, sob o pretexto de que, se a Grécia não pagar, são os cidadãos europeus que sairão prejudicados.

Por que a Grécia deveria pagar juros usurários? Por que, segundo as regras da máfia financeira, um cliente que representa um risco maior deve pagar juros mais altos. Quanto mais risco apresentar o cliente, mais altos são os juros. Os bancos colocam o esparadrapo antes da ferida.

Então... por que os bancos se fingem de surpresos quando o risco se materializa e o devedor não pode pagar? Esse é o risco que fizeram pagar com acréscimos. A Grécia não está doente do crédito, mas sim dos juros.

O Banco Central Europeu repassa o dinheiro aos bancos privados a taxas de juros de zero por cento, e ainda a taxas de juros negativas, dinheiro que os bancos privados colocavam na Grécia a taxas de 18%.

Detalhe: o Banco Central Europeu, banco central da zona do euro, proíbe em seu Estatuto emprestar dinheiro directamente aos Estados: a dívida pública, ou soberana, eis aí o grande negócio.

Mas a frente anti-grega rachou. A Itália, que possui a mais gigantesca dívida pública do planeta, compreende que depois da Grécia virá ela. O pouco confiável Hollande, presidente da França, afirma que a dívida deve ser paga, mas propõe negociar.

O Banco Central Europeu – dirigido por Mario Draghi, um burocrata com um prontuário de filme – cortou o financiamento aos bancos gregos e os obriga a pegar créditos ainda mais caros. Com essa decisão, conforme disse Jean-Luc Mélenchon, e com a sinistra declaração de Jean Claude Juncker – outro burocrata –, segundo a qual “não pode haver decisões democráticas contra os tratados europeus”, proclamou-se a soberania limitada dos povos europeus.

O ruim para toda a Europa é que, nesse caso, a bomba atómica está com a Grécia. Perdido por perdido, o governo de Alexis Tsipras pode decidir sair do euro, restabelecer o dracma, a moeda nacional, confiscar o Banco Central grego, e ordenar a emissão do que faz falta. Tsipras, você terá essa coragem?

Indubitavelmente, a Grécia passaria por um mal momento. Muito mal. Entre as dificuldades técnicas da reinstalação do dracma, disse Frédéric Lordon, estão as imperfeições da implementação do controle de capitais, a super desvalorização de fato, a imediata inflação importada, o tempo de resposta das exportações etc., um processo de default-saída do euro começaria por uma fase caótica, cuja estabilização, e logo a materialização dos benefícios, exigiriam entre doze e dezoito meses.

Mas a Europa e o euro ficariam afectados, e o potencial efeito de imitação dos outros países que sofrem do mesmo mal poria a Alemanha e a Europa eu uma posição ruim. Os chefes de governo mais lúcidos já compreenderam isso. Mas lhes falta coragem para rechaçar o diktat e buscar uma solução negociada.

Se os gregos conseguirem sair dessa, poderemos dizer tudo o que se disse da Inglaterra de Churchill resistindo diante dos nazistas: “Nunca tantos deveram tanto a tão poucos”.

Tradução de Luis Casado

Luis Casado - Editor do POLITIKA, Chile

 

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