Raul Castro exige fim do embargo
06-02-2015 - Redacção
Segundo Raul, Obama 'poderia utilizar suas amplas faculdades executivas para modificar substancialmente o bloqueio, mesmo sem a decisão do Congresso.'
O presidente de Cuba, Raúl Castro, exigiu dos Estados Unidos o fim do bloqueio económico contra a ilha. “O estabelecimento de relações diplomáticas é o início de um processo rumo à normalização das relações bilaterais, mas isto não será possível enquanto o bloqueio existir”, afirmou Castro em seu discurso diante do plenário da Cúpula da Comunidade de Estados Latino-americanos e Caribenhos (Celac), realizada na Costa Rica. Esta foi sua primeira declaração após a reunião bilateral de alto nível feita na semana passada em Havana. “O problema principal não foi resolvido. O bloqueio económico, comercial e financeiro, que provoca enormes prejuízos humanos e económicos e é uma violação do direito internacional. Precisa parar”, defendeu Castro, ao reconhecer que o caminho que precisa ser trilhado é longo e difícil.
O chefe de Estado cubano reconheceu o chamado feito na semana passada pelo presidente Barack Obama ao Congresso norte-americano para que seja colocado um ponto final no embargo vigente desde 1962, mas pediu que avançasse mais após afirmar que as medidas de flexibilização são limitadas. “Poderia utilizar com determinação suas amplas faculdades executivas para modificar substancialmente a aplicação do bloqueio, mesmo sem a decisão do Congresso”, considerou o mais novo dos irmãos Castro em relação à possibilidade de Washington encerrar o embargo por decreto. Os departamentos de Comércio e do Tesouro anunciaram recentemente uma série de mudanças para flexibilizar as restrições a viagens de cidadãos norte-americanos a Cuba e o intercambio comercial bilateral, mas o grosso das sanções económicas e comerciais está mantido, pois estão codificadas em lei – em especial, naquela denominada Helms-Burton, de 1996 – e somente poderão ser desmanteladas mediante prévio debate e aprovação no Congresso.
Por sua vez, o presidente cubano lembrou que, para que a normalização das relações com a ilha chegue a um bom patamar, seu país precisa ser retirado da lista norte-americana de países que financiam o terrorismo, o território de Guantanamo deve ser devolvido e precisam mudar as normas migratórias norte-americanas que estimulam a migração ilegal de Cuba. “É o que nossa delegação disse ao Departamento de Estado nos diálogos bilaterais da semana passada e pedirão mais reuniões para tratar desses assuntos. Compartilhamos com o presidente dos Estados Unidos a disposição em avançar rumo à normalização das relações bilaterais, uma vez que sejam restabelecidas as relações diplomáticas, o que implica em adoptar medidas mútuas para melhorar o clima entre os dois países”, disse Castro. O veterano dirigente se refere ao primeiro encontro com colegas latino-americanos desde o histórico anuncia de 17 de Dezembro sobre a reconciliação entre Cuba e Estados Unidos, e agradeceu os países da Celac, que não inclui os Estados Unidos e o Canadá, sua postura de rechaço ao bloqueio.
Entretanto, o presidente equatoriano, Rafael Correa, assegurou que os países latino-americanos, com seu nível de orçamento actual, poderiam erradicar toda forma de pobreza se tivessem uma distribuição melhor de renda. Citando dados da Comissão Económica para a América Latina (Cepal), o presidente equatoriano disse que 167 milhões de latino-americanos vivem em condições de pobreza, dos quais 71 milhões são indigentes, o que, segundo ele, é uma forma de violência. Correa defendeu a necessidade de a Celac adoptar medidas quantificáveis em sua gestão, como reduzir a pobreza extrema pela metade do seu nível actual nos próximos cinco anos. Convidou o bloco para prestar mais atenção à ciência, tecnologia e inovação para alcançar o desenvolvimento e o crescimento económico.
O secretário-geral da Organização de Estados Americanos (OEA), José Miguel Insulza, convocou a Celac para procurar posições conjuntas para conseguir maior integração. “O lento crescimento económico pelo qual a região passa coloca em risco o êxito alcançado na redução da pobreza e da desigualdade”, disse Insulza em um discurso durante a III Cúpula da Celac. “O desafio é recuperar o ritmo de crescimento da década passada na América Latina e no Caribe e alcançar mais integração regional, fortalecimento dos mercados internos, melhor educação, infra-estrutura e ciência e tecnologia”, afirmou o dirigente chileno, em sintonia com a intervenção de Correa.
Fonte: Pagina 12
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