Europa vive com medo de outro atentado
16-01-2015 - Elena Llorente
Duas pesquisas realizadas separadamente na Alemanha e na Itália demonstram que 49% dos alemães 62% dos italianos temem um ataque terrorista.
Desde o dia do atentado contra a revista Charlie Hebdo, em Paris, no dia 7 de Janeiro, que custou a vida de 12 pessoas, a Europa vive com medo. É que as acções terroristas que aconteceram em Paris e fora da capital francesa poderiam ser o começo de um caminho, pois os chamados “combatentes estrangeiros” da Jihad islâmica poderiam empreender sem problema, tendo todos eles – como os terroristas de Paris – passaportes europeus.
Para começar, duas pesquisas realizadas separadamente na Alemanha e na Itália demonstram que 49% dos alemães (entre 500 entrevistados) temem um ataque terrorista. Na Itália, têm o mesmo medo 62% das pessoas, segundo o Instituto Demoscópico Ixé, em pesquisa realizada para a RAI (Rádio e Televisão Italiana), que entrevistou mil pessoas. O temor se difundiu rapidamente por todas as partes. Os alarmes falsos de bombas ou pacotes suspeitos apareceram em muitos países.
Na Espanha, várias linhas do metro ficaram paralisadas por um alarme falso de bomba que provocou um caos na circulação do tráfego em geral no centro de Madrid. Era um pacote abandonado, uma simples caixa com um par de sapatos dentro. Mas houve deslocamento policiais e de agentes especializados e, certamente, mudanças no trânsito e engarrafamento por algumas horas. E esta não foi o único alarme falso nas cidades espanholas.
Na Itália, o governo multiplicou as medidas de segurança, com supervisões frequentes e/ou permanentes de regiões da cidade consideradas “delicadas” porque são muito frequentadas ou porque ali vivem ou frequentam personagens de envergadura. Trata-se da praça São Pedro, do Vaticano, do Coliseu, do palácio presidencial do Quirinal ou da sede do governo Palácio Chigi. Os aeroportos e os bairros judeus são lugares de especial atenção, em particular, por exemplo, o Gueto Romano (bairro judeu) e o Gueto de Veneza, este último considerado o mais antigo da Europa. Claro, as mesquitas são também lugares vigiados em toda Itália, especialmente em dias de rituais para os muçulmanos.
Apesar do medo, as manifestações de solidariedade não param na Europa. No Porto, norte de Portugal, e em Lisboa, as pessoas levantavam cartazes “Eu sou Charlie” e lápis que se transformaram em símbolos. Em Berlim, cristãos, judeus e muçulmanos decidiram fazer uma declaração conjunta publicada pelo jornal Bild. “Não se pode matar em nome de Deus. A Bíblia, a Torá e o Corão são livros do amor, não do ódio”, disseram.
A comunidade muçulmana de Milão, por sua vez, anunciou que se manifestará “para mostrar sua distância dos atentados terroristas de Paris e para mostrar sua solidariedade com as famílias das vítimas”, disse Abdel Hamid Shaari, arquitecto líbio fundador do Instituto Cultural Islâmico de Milão.
Mas, em todo caso, o que as pessoas esperam são medidas de governo fortes, uma decisão que permita conter a ameaça terrorista. E por isso vê com grande esperança a reunião agendada para domingo (09/01) em Paris entre vários chefes de governo europeus. “A tragédia de Paris não afecta somente a França, mas a Europa e o mundo. A integração na sociedade não se forma espontaneamente. É um processo que vai sendo construído. Sem a intervenção decidida da política, acontece o contrário. Integração e segurança são as duas caras da mesma moeda”, comentou por sua vez o prefeito de Turim e velho dirigente do Partido Democrático, Piero Fassino, em declarações ao jornal italiano Avvenire. “A Europa precisa reagir diante da tentativa de silenciar a voz de Charlie Hebdo, que constitui um ataque à nossa forma de vida”, disse o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker, quem disse também que a comissão está elaborando uma nova estratégia contra o terrorismo.
Umas das medidas poderia passar pelo reforço no controle sobre passaportes. Alguns dizem que a Europa poderia fazer como a Turquia nos últimos tempos, cujos serviços secretos dizem ter expulsado do próprio território 1056 pessoas, eventuais candidatos para a Jihad e decretou a proibição de entrada de 7800 pela mesma razão. Segundo a imprensa turca, depois dos atentados de Paris, a Turquia também aumentou o risco de atentados.
Fonte: Roma (Página 12)
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