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De uma guerra fria a outra?

02-01-2015 - Emir Sader

O estreitamento das alianças da Rússia com a China, assim como os acordos do Brics (1), contribuíram para configurar um novo desenho geopolítico do mundo.

“Os últimos soldados da guerra fria” seriam, segundo o título do livro do Fernando Morais, os 5 cubanos que agora se reuniram em Cuba, depois da espectacular operação diplomática de normalização das relações com os EUA. Teria sido virada a última página da guerra fria.

Uma guerra fria (ou paz armada, especialmente de armamentos nucleares, o que explicava o equilíbrio relativo entre os dois campos e a impossibilidade de uma outra guerra aberta) que teve seu auge em todo o período do segundo pós-guerra até o fim da URSS. A queda do Muro de Berlim desarmou o símbolo maior da guerra fria, que seguiu tendo em Cuba sua sobrevivência, até os acordos recentes.

Vitoriosos na guerra fria, os EUA acreditavam que se imporiam solitários no novo mundo globalizado. Chegaram até em pensar no bombardeio da Síria e, por extensão, do Irão. Ate que o Obama se deu conta que, nas suas próprias palavras, não conseguiu apoio para bombardear a Síria, nem sequer na sua própria família. E recordou-se que se pode fazer tudo com uma baioneta, menos sentar-se encima delas.

E teve que aceitar a proposta russa de negociação com a Síria e, por extensão, com o Irão, na metade de 2013. Instalava-se um clima de relativa distensão nas relações entre os EUA e a Rússia.

Até que o assanhamento da UE e dos próprios EUA com a Ucrânia levaram ao derrube do governo e a excitação pela adesão do país à UE e até à Otan. Se esqueceram que nos acordos de capitulação do Gorbachev diante de Ronald Reagan havia uma única ressalva: que avançassem sobre o espólio do ex-campo socialista, mas preservassem as fronteiras com a Rússia.

A reacção russa não se fez esperar: com o apoio total da população local, reincorporou a Crimeia a seu território e colocou os limites para os avanços das potências ocidentais. Não demorou para a população das regiões próximas revelasse sua vontade de desmembrar-se da Ucrânia e seguir caminho similar ao da Crimeia.

As medidas de represália económica à Rússia tiveram respostas inesperadas para o Ocidente, que levava em consideração apenas o fornecimento de gás para a Europa como arma russa. Mas Putin suspendeu compras de produtos agrícolas da Europa e do EUA, passando a comprar de países latino-americanos, levando a que países europeus jogassem fora alimentos produzidos e sem possibilidade de comercializá-los.

A imprensa ocidental entoou gritos de guerra, chamando Obama de covarde, o próprio governo da Ucrânia diz não reconhecer a adesão da Crimeia à Rússia. Mas o que faz da nova situação uma nova guerra fria é exactamente a colocação de limites à acção dos EUA, incapazes de intervir militarmente na Ucrânia, pelas fronteiras com a Rússia recuperada em termos políticos e militares como potência.

Não se pode falar de uma nova guerra mundial, pelas mesmas razões daquela guerra fria: todos seriam aniquilados. Mas não bastam as declarações de que não seria uma nova guerra fria, porque se trata disso: da nova delimitação de dois campos internacionais de enfrentamento.

O estreitamento das alianças da Rússia com a China, do ponto de vista económico e militar, assim como os acordos do Brics, contribuíram para configurar esse novo desenho geopolítico do mundo no século XXI. Já havia uma multi-polaridade económica no mundo, que fez com que países do Sul não fossem arrastados pela recessão no centro do capitalismo, mas revelassem capacidade de resistência, graças aos intercâmbios Sul-Sul. Agora essa resistência se transfere para o campo geopolítico, levando o mundo a um novo clima de guerra fria.

(1) BRIC: Brasil, Rússia, Índia e China) e à África do Sul, que juntos formam um grupo político de cooperação. Em 14 de Abril de 20112 , o "S" foi oficialmente adicionado à sigla BRIC para formar o BRICS, após a admissão da África do Sul (em inglês: South Africa) ao grupo. Os membros fundadores e a África do Sul estão todos num estágio similar de mercado emergente, devido ao seu desenvolvimento económico. É geralmente traduzido como "os BRICS" ou "países BRICS" ou, alternativamente, como os "Cinco Grandes".

 

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