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O programa económico do Podemos: a casa pelo telhado

05-12-2014 - Fernando Luengo*

A imprensa hostil encontrou no 'programa económico' do Podemos um novo material para continuar alimentando a campanha de intoxicação contra o partido.

As elites económicas e políticas e os grandes meios de comunicação passaram da incredulidade inicial e de uma confusão posterior em relação ao Podemos a uma posição aberta e de crescente hostilidade. A razão? As pesquisas de opinião revelam que boa parte da população está farta quanto à classe política enredada em inúmeros episódios de corrupção e incapaz de oferecer uma saída para a crise. Estas mesmas pesquisas também falam da contínua ascendência do Podemos. Em caso de se consolidar esta tendência, este novo partido estaria em condições de governar. Uma ameaça bastante inquietante - muitos privilégios para preservar, diria eu - que é preciso levar a sério.

O nó górdio da estratégia encaminhada para desacreditar o Podemos reside no programa económico, bem como em sua ausência, bem como na inconsistência das políticas a aplicar, bem como as consequências desastrosas que teria para a economia espanhola se fossem implementadas. Tudo vale quando o objectivo é criar confusão.

Até o momento, a referência para sustentar a estratégia do descrédito eram o programa apresentado às eleições europeias e a resolução sobre a dívida aprovada na assembleia cidadã constituinte. Agora contam com um novo material para continuar colocando lenha na fogueira: o documento elaborado pelos professores Vicenç Navarro e Juan Torres “Democratizar a economia para sair da crise melhorando a equidade, o bem-estar e a qualidade de vida”. Não me interessa neste momento analisar o conteúdo do texto, mas compartilhar com o leitor algumas considerações relativas ao processo de elaboração do programa económico, dentro e fora do Podemos.

Estamos curados do espanto e achávamos que tínhamos visto tudo; mas não, ainda sobrou um espaço grande para surpresas. Os que insistiram até dizer chega que o Podemos não tinha nada a dizer em matéria de economia - salvo proclamar alguns clichés roubados dos anti-sistema - e os pregadores dos sete maus em caso de aplicar suas “ocorrências” económicas, representam o PP e o PSOE, os mesmos partidos que enganaram seus eleitores com programas que, depois de eles serem eleitos, foram atirados directamente no lixo. São os mesmos, SIM, EXATAMENTE OS MESMOS que levaram a economia e a cidadania à crítica situação actual e os que aplicaram políticas que resultaram em uma fractura social de dimensões históricas e em um enriquecimento desmedido e obsceno das oligarquias.

Nada disto importa em um país onde o cinismo e a mentira estão nos discursos mediáticos e político. Tudo vale nesta inédita operação de acusação e ataque contra o Podemos. Com o texto de Torres e Navarro, a imprensa hostil encontrou um novo material para continuar alimentando a campanha de intoxicação, pois já tinham em suas mãos o programa económico ou, pelo menos, um rascunho muito avançado dele. O documento se tornou público há alguns dias e escutamos que o Podemos abriu mão de seus objectivos mais emblemáticos – como, por exemplo, a renda básica cidadã, a redução da idade de aposentadoria ou a quitação da dívida – e que o texto supõe uma viagem ao centro, onde estão ou querem estar os partidos políticos da “casta” que tanto criticavam os dirigentes do novo partido.

Nada disto me surpreende, era o esperado. E estamos no começo de uma campanha de descrédito que terá muito jogo sujo.

Entretanto, os passos dados pela direcção do Podemos em todo este processos me confundiram sim. Diante da inevitável perseguição mediática reclamando medidas concretas e a exigência de que “calculemos!”, teriam que ter lançado outra mensagem, UMA MENSAGEM EM TOM POLÍTICO DO PODEMOS: a elaboração do programa económico incumbia os círculos e a cidadania activa, que anseia por encontrar uma ponte de diálogo com os círculos, e também, claro, aos que, reunindo os conhecimentos técnicos necessários (não gosto da denominação especialistas, categoria continuamente utilizada pelas elites políticas para tirar as pessoas do debate dos grande assuntos) querem colocá-los à serviço de uma alternativa que mude o estado actual das coisas.

É um procedimento parcimonioso e finalmente ineficiente? Não, absolutamente, é um mecanismo que conecta com uma nova maneira radicalmente diferente da tradicional, de fazer política, que não busca atalhos, pois eles não existem quando se trata de mobilizar a ampla base cidadã agrupada em torno do Podemos. Proceder desta maneira, além de nos situarmos no caminho da nova e da boa política que queremos impulsionar, é possível que tivessem tirado a pressão mediática.

É evidente que o grupo dirigente do Podemos preferiu seguir outro caminho, que nos situa no olho do furacão mediático. Apesar de se ter enfatizado que o texto de Torres e Navarro seja somente um documento que quer contribuir para um debate que deve culminar no programa económico (esclarecimento que a media ignorou), o certo é que, como antes demonstrei, foi revelado em todas as plataformas mediáticas como o programa, com o alarde com que o grupo dirigente do Podemos apresentou o referido texto e as declarações de algumas das figuras mais conhecidas do partido apontam, objectivamente, para a mesma direcção.

Não é um documento, mas O DOCUMENTO DE REFERÊNCIA que vai articular – na minha opinião, que condicionará – o debate dentro e fora do Podemos. Ainda que estivéssemos diante de um material boníssimo, acredito sinceramente que este não é o caminho para construir uma força social e política com potencial transformador, que dê poder à cidadania dentro e fora dos círculos. Porque é disso que se trata, não?

* Fernando Luengo é professor de economia aplicada na Universidade Complutense de Madrid e membro do Círculo 3E (Energia, Ecologia e Energia) de Podemos e da associação econoNuestra.

Fonte: Publico.es

 

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