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Sobre a fúria direitista

14-11-2014 - José Steinsleger

Em escala continental, nenhum campeão da ética e da moral republicana repudiou as declarações de Mario Vargas Llosa quando ele incitou a execução de Maduro

A democracia com adjectivos percorre caminhos novos na América Latina. Nunca aconteceu algo igual. Vamos identificá-la: socialista, bolivariana, cidadã, plurinacional, populista, progressista… Interessa debater qual seria a mais avançada ou sublinhar que todas foram estabelecidas pelas urnas, impulsionando projectos de transformação social que deixam para trás épocas menos afortunadas?

Imprevisível e complexa, a reacomodação das forças políticas e económicas em escala global sugere a necessidade de apontar as conquistas alcançadas. Por conseguinte, vitórias eleitorais como as do Brasil, Bolívia e Uruguai mereceriam ponderações menos mesquinhas que seu aparente caráter pirríquio. Somam-se a processos similares que surgem no horizonte (Venezuela, Equador e Argentina), que poderiam entrar em uma etapa de estabilização após a crise económica mundial.

Mas o inusitado radica nas potencialidades emancipadoras dos processos que, da América do Sul, transmitem fortes mensagens democráticas aos mais castigados do México e da América Central. Quadro colorido, em suma, que começa a dar conta de realidades sociais de múltiplas facetas e de alianças políticas dispostas a canalizar reivindicações, reclamações e direitos soterrados em 200 anos de frustrações republicanas.

No campo oposto, a velha ordem conservadora, que ontem criticava a escassa disposição democrática dos representantes dos povos na luta, e hoje deplora o fato de conquistarem com suas próprias regras espaços de poder. Fenómenos que em certas esquerdas académicas (teimando em marcar as diferenças entre revolução e reformismo e em mudar o mundo, mas totalmente inúteis para mudar um simples plano de estudos) também são causa de mau humor, confusão e irritação.

Em alguns sites insurgentes, essas esquerdas (do século XX?) que anunciam o fim do ciclo progressista ou a iminente chegada da revolução anti-capitalista subjaz um modo de ver as coisas que, paradoxalmente, subestima as forças vivas da velha ordem sistémica. Ordem que sem discurso e sem projeto conta ainda com inteligência e poder para restaurar seu poderio. E que para consegui-lo aglutina informalmente um emaranhado de meios de comunicação e consultorias políticas, o chamado crime organizado e empresas de mercenários, gangues e assassinos recrutados nos pântanos do modelo neoliberal. Vejamos alguns casos.

Em escala continental (e fora das esquerdas) nenhum campeão da ética e da moral republicana se afastou das declarações de Mario Vargas Llosa quando ele incitou a execução do presidente da Venezuela, Nicolás Maduro. Declaração que assusta menos do que o silêncio dos que asseguram não concordar, mas que ele tem o direito de pensar diferente.

No Equador, o jovem Mauricio Rodas (quem chegou à prefeitura de Quito com o apoio de muitos inimigos do presidente Rafael Correa) começou a perder prestígio após seu suposto consultor, o mexicano Luis Ignacio Muñoz Orozco, ser acusado nos Estados Unidos de lavar dinheiro para o cartel de Sinaloa. Rodas é bem conhecido no México e é interessante revisar lista de mexicanos que estão na Fundación Ethos, que em seu site se apresenta como laboratório de ideias (Processo, número 1983, 2/11/14).

Na Argentina, o jornalista Jorge Lanata (figura de proa do outrora progressista jornal Clarín, salpicado atualmente com sangue dos torturados e desaparecidos da ditadura militar) causou comoção ao humilhar o menino Casey Wander (11 anos) por ele ter manifestado em uma entrevista casual seu apoio ao kirchnerismo, com precisão e entusiasmo. O vídeo se tornou um viral. Então, Lanata (apresentador de um programa de televisão de grande audiência) o criticou publicamente dizendo que seus pais estavam estragando o menino. Cabe recordar que Clarín e Lanata são as vítimas preferidas da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP) que, em suas reuniões semestrais condena a ausência de liberdade de expressão na Argentina.

No Chile, o ex-capitão do exército Augusto Pinochet (Molina), neto do ditador, anunciou a criação de um partido que espera consolidar como uma nova alternativa (sic) na política do país andino, e que teria como nome Orden Republicana mi Pátria (Ordem Republicana minha Pátria), entidade patriótica, libertária e conciliador que qualifica como fatos pontuais as violações dos direitos humanos cometidas entre 1973 e 1990.

Segundo Pinochet Molina, “…a ideia é expor uma nova opinião (sic); uma direita mais direita, sem nenhuma vergonha do que somos”. O site da Avanzada Nacional assegura que no ano passado foram reunidas mais de 20 mil assinaturas para registar o novo partido político na região do Biobío.

(*) Escritor e jornalista argentino residente no México. Colunista do La Jornada

Tradução: Daniella Cambaúva

Fonte: La Jornada

 

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