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Flurona: quando os vírus da gripe e da covid-19 se juntam

07-01-2022 - Ana Bela Ferreira

Ainda não há casos registados em Portugal. Israel e EUA já registaram situações de doentes que estavam infetados ao mesmo tempo com gripe e covid-19. Estudos ingleses apontam para o dobro do risco de morte, comparado com a covid-19.

Este fim de semana, Israel anunciou o primeiro caso confirmado de Flurona. Mas já no ano passado, os EUA tinham feito referência a que alguns doentes tinham simultaneamente covid-19 e gripe. É a esta combinação de vírus que se dá o nome de Flurona e que ainda não foi registado em Portugal.

No entanto, teme-se que com o aumentar de casos de gripe possam surgir mais destas infeções concumitantes. O que já se sabe e o que esperar desta infeção conjunta que pode duplicar o risco de morte?

O que é a Flurona?

É o contágio simultâneo pelo vírus Influenza (gripe) e o SARS-CoV-2 (coronavírus), daí o nome Flurona (a junção de flu e corona, da designação dos dois vírus). Foi anunciado por Israel este fim de semana o primeiro caso registado de uma grávida não vacinada que teve alta hospitalar a 30 de dezembro, depois de ter sido tratada a sintomas ligeiros. No entanto, os especialistas já tinham alertado para este problema no verão, quando se falava dos riscos para este inverno. Também nos EUA foram relatados casos suspeitos no ano passado.

No verão, os especialistas já tinham alertado para o expectável aumento da gripe este ano, que poderia provocar infeções pelos dois vírus, como recorda à SÁBADO o pneumologista Filipe Froes. "Estamos a voltar à normalidade e com isso a criar condições para que os vírus que circulavam antes da pandemia voltam a circular", sublinha.

Há casos em Portugal?

Na segunda-feira, o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA) disse não ter registo de casos de infeção simultânea, mas admitiu que estas situações ocorram, face ao previsível aumento da atividade gripal. "Com o aumento da circulação do vírus da gripe e a continuação da circulação do SARS-CoV-2, as coinfeções podem vir a ser detetadas", disse à Lusa Raquel Guiomar, responsável pelo laboratório nacional de referência para o vírus da gripe e outros vírus respiratórios do Departamento de Doenças Infecciosas do INSA.

"Em Portugal ainda não detetámos casos de infeção pelo vírus da gripe e por SARS-CoV-2. A pesquisa de SARS-CoV-2 e gripe está a ser feita em paralelo em todas as amostras do programa nacional vigilância da gripe e de outros vírus respiratórios e não foram detetadas coinfecções covid/influenza", adiantou Raquel Guiomar.

É um fenómeno raro?

De acordo com o microbiologista espanhol José Antonio López Guerrero esta dupla infeção não é "extraordinária" nem uma mistura de genomas dos dois vírus. O diretor do Departamento de Cultura Científica do Centro de Biologia Molecular Severo Ochoa e diretor do Grupo de Neurovirologia da Universidade Autónoma de Madrid (UAM) explicou ainda que infeções mistas podem ser subdiagnosticadas.

"'Flurona' não é uma quimera formada pela mistura de genomas de dois vírus, mas uma infeção simultânea de ambos", disse à agência EFE, adiantando que "não precisa de ser extraordinário" devido à disseminação da variante Ómicron da covid-19.

Filipe Froes que até prefere o nome coviflu, explica, à SÁBADO, que "o que acontece na infeção concomitante é que há um aproveitamento de um sistema imunitário fragilizado. Ou seja, primeiro apanha-se o vírus da gripe e depois com o sistema imunitário em baixo cria condições para que o SARS-CoV-2 ataque". "Um vírus ataca e depois o outro encontra já o castelo fragilizado." E, daquilo que já se conhece, primeiro é o vírus da gripe a atacar e depois a covid - daí também a origem do nome Flurona.

Pode haver casos que não tenham sido diagnosticados?

Sim. Como explica José Antonio López Guerrero estas situações de infeção mista são quase "indetetáveis", a menos que seja feita uma busca específica pelo genoma do vírus da gripe. "Certamente houve mais casos do que os detetados, mas não foram procurados. Se uma pessoa com certos sintomas de gripe passa por um teste de diagnóstico de SARS-CoV-2 e dá positivo, a mesma para de procurar outros patogénicos. As infeções mistas podem ser subdiagnosticadas", indicou.

O mesmo frisa Filipe Froes. "O facto de não termos detetado não quer dizer que não existam casos. E os países que detetaram deve ter acontecido por terem usado métodos de diagnóstico que detetam vários vírus ao mesmo tempo. É previsível que se passe a incorporar os diferentes vírus no mesmo teste", refere o também coordenador do Gabinete de Crise da Ordem dos Médicos para a a covid-19.

É mais grave do que cada um dos vírus isolado?

Ainda se sabe pouco sobre os riscos e gravidade da infeção com os dois vírus. No entanto, os estudos britânicos apontam para o dobro do risco de morte em casos de flurona. A gripe afeta normalmente os pulmões, pode causar pneumonia, problemas cardíacos e sepsis, o que pode levar à morte. Logo, na eventualidade de uma infeção aguda pelo vírus influenza, o sistema imunitário fica enfraquecido e se um doente contrair covid-19 isso aumenta o risco de falhas de órgãos e morte.

O especialista José Antonio López Guerrero prefere evitar alarmismos dado o pouco conhecimento sobre a Flurona. "Os sintomas de uma infeção mista variam, dependendo da carga viral com a qual se está infetado com cada um dos vírus e também idade, estado imunológico, outras patologias sofridas... Também pode influenciar se já passamos ou não da infeção por coronavírus, se formos vacinados contra um ou ambos os vírus. Casos mais graves podem ocorrer ocasionalmente, mas há muita discussão em torno das infeções", disse.

Já para Filipe Froes fica claro que o alerta é para "vacinarmos ainda mais os grupos de risco". Dado que "as populações de risco são muito sobreponíveis nas duas infeções".

Porquê que só se começou a falar da infeção mista agora?

Primeiro, porque não existe uma procura pelos dois vírus nos testes usados quando há suspeitas de covid-19. E depois porque nos últimos dois invernos (2020 e 2021), quando a covid-19 já estava a circular, as medidas de proteção contra a pandemia acabaram por proteger a população de outros vírus respiratórios.

"As medidas como o confinamento, uso de máscara, distanciamento social e proibição de viagens aéreas fez com que estes vírus habituais como a gripe deixassem de circular. O que ajudou foi isso. Este ano, com a mobilidade a aumentar e abertura progressiva levou ao aumento da circulação dos vírus respiratórios", explica Filipe Froes.

Como prevenir a Flurona?

Antonio López Guerrero indicou ainda que, além da vacinação de grupos de risco contra a gripe, as pessoas devem continuar a usar máscaras, a manter o distanciamento social, a higienizarem-se, a evitarem locais mal ventilados e a completarem a vacinação contra a covid-19. "A infeção mista não tem, em princípio, o perfil de uma pessoa mais suscetível, embora obviamente os vacinados contra o coronavírus e o influenza devam ter uma janela estreita de positividade para ambos os vírus e, caso sofram, devem ser infeções praticamente assintomáticas ou silenciosas", garantiu.

No futuro, admite Filipe Froes, podemos estar a falar de uma vacina anual que combine os dois vírus e que seja administrada às populações de risco.

Em Portugal, já foram dadas mais de 2,4 milhões de vacinas da gripe sazonal e mais de 3 milhões de doses de reforço para a população de maior risco, no caso da covid-19, indicou na terça-feira a Direção-Geral da Saúde (DGS).

Fonte: Sabado.pt

 

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