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POR QUE A CHINA CONTINUA EM ASCENSÃO

24-12-2021 - Zhang Jun

Em apenas quatro décadas, a economia da China atingiu um nível inédito de riqueza e desenvolvimento, e, até recentemente, sua trajectória ascendente de crescimento económico e prosperidade pareciam destinados a continuar. Mas à medida que pressões políticas e o coronavírus vêm forçando muitos países - os Estados Unidos, em particular - a adoptar políticas económicas mais nacionalistas, o ponto alto da globalização pode em breve ser substituído por uma era pós-pandemia definida por preocupações de segurança nacional e controle de fronteiras.

Não são boas notícias para a China, que preferiria que o mundo mantivesse a abertura económica que obteve nas últimas décadas. Por este motivo, a China vem trabalhando fortemente para alinhar suas actividades económicas e comerciais com as regras e regulamentações internacionais. Contudo, no momento parece que a China terá de se preparar para um futuro caracterizado por barreiras e restrições comerciais maiores.

Neste sentido, o 14º Plano Quinquenal da China deixa claro que o país vai buscar diminuir sua dependência da demanda externa. A “estratégia de circulação dupla” anunciada no plano, em vez disso, enfatiza a confiança na imensa população do país. A China também planeja investir pesadamente em sectores de ponta, como inteligência artificial e semicondutores, além de trabalhar para obter auto-suficiência em tecnologias fundamentais.

Forasteiros estão profundamente desconfiados das movimentações chinesas para ampliar o controle estatal sobre o desenvolvimento económico do país asiático, como impôr novas regulamentações em empresas de tecnologia e mercados de capital. O receio deles é que o país esteja priorizando seus objectivos geopolíticos em detrimento da busca pela construção de uma economia de mercado. Alguns temem até que a China volte ao modelo de desenvolvimento que predominava até Deng Xiaoping lançar a “reforma e abertura” do país.

Tais receios são desproporcionais. É improvável que a China volte a uma economia controlada pelo Estado ou que implemente políticas económicas isolacionistas. Em vez disso, o papel ampliado do Estado na economia e uma guinada rumo à auto-suficiência devem ser interpretadas como uma resposta a um ambiente externo em mudança (e, em alguns casos, hostil).

É provável que esta mudança ocorresse mesmo que as relações sino americanas não tivessem deteriorado como vem acontecendo, por causa da enorme população da China. Ao reconhecer o potencial de seu gigantesco mercado interno, as lideranças chinesas há tempos têm buscado ampliar as demandas internas como protecção contra mudanças internas. Quanto ao progresso tecnológico, uma população maior implica em mais talentos e maiores retornos em inovação.

Contudo, em meio no recuo da globalização, a vantagem da China pode ser ainda maior. Em um artigo de 2018, Klaus Desmet, Dávid Krisztián Nagy e Esteban Rossi-Hansberg mostraram que, em um mundo com restrição a negócios e migração entre países, os países com grandes populações podem oferecer mais oportunidades  para ampliar os resultados económicos por meio do comércio internacional e da especialização.

Os países mais populosos não são necessariamente os mais ricos hoje, notam os autores, em grande parte por causa da migração. Porém, se as barreiras à migração se tornarem grandes demais, os países populosos vão ultrapassar o ritmo dos menores em inovação, ainda que os últimos sejam mais ricos. Como o crescimento no longo prazo é guiado por melhorias em tecnologia, isto se traduz em uma grande vantagem económica para os países com populações maiores. Este resultado enfatiza quão contraproducente é a virada interna da América: está claro que o sucesso da América é graças à migração e à globalização.

Sem dúvida, a China tem lidado com fortes vendavais demográficos: a taxa de natalidade do país caiu a um nível recorde  em 2020. Só que os efeitos desta queda vão demorar algumas décadas para causar impacto. A demografia actual da China dá ao país vantagem significativa sobre os EUA em termos de capital humano ao menos durante os próximos 20 anos. Projecções sobre o crescimento futuro da China sugerem que, se o país aproveitar ao máximo esta vantagem - como parece disposto a fazer -, será praticamente impossível para os EUA conter o progresso económico da China. Em vez de impedir as ambições da China, as políticas económicas da América vão encorajar o país asiático a continuar protegendo suas apostas, o que inclui repensar sua estratégia de segurança nacional e canalizar mais recursos para seus sectores de ciência e tecnologia. No pior cenário de desvinculação, as duas maiores economias do mundo vão acabar dominando seus próprios sistemas de fornecimento de tecnologia, cada uma com suas próprias regras e demandas.

Esta é uma possibilidade distinta. Mas políticos visionários deveriam apreciar quanto mais poderiam conquistar dos dois lados se em vez disso os países trabalhassem juntos. Os EUA estariam muito melhor servidos aproveitando as oportunidades criadas pela ascensão chinesa. Além disso, embora a grande população da China dê ao país uma enorme vantagem num mundo desglobalizado, ela ainda tem muito a aprender com as economias mais avançadas, começando pelos EUA. A China continua a ser uma economia em desenvolvimento, no fim das contas, com um PIB per capita que representa apenas um quarto da média da OCDE.

De modo mais amplo, ainda que um país mais populoso tenha um enorme mercado doméstico com que contar, isso não substitui o acesso ao mercado global. Do mesmo modo, conexões com o mundo exterior, inclusive o compartilhar de conhecimento e ideias, invariavelmente aceleram o progresso tecnológico. E um sistema económico aberto e descentralizado que incentive as actividades lideradas pelo mercado é muito mais propício ao processo evolutivo vital para o comércio de inovações.

Está claro que a China tem muito a ganhar de um sistema económico global mais aberto. As lideranças do país vêm enfatizando que não estão abandonando o caminho do desenvolvimento liderado pelo mercado e retornando a um modelo económico fechado - e não há motivo para crer em outra coisa.

ZHANG JUN

Zhang Jun, reitor da Escola de Economia da Universidade de Fudan, é director do Centro de Estudos Económicos da China, um think tank com sede em Xangai.

 

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