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UNIÃO EUROPEIA:
Merkel-Lagarde, uma equipa vencedora

01-11-2013 - Tony Barber

O render da guarda nas principais instituições da UE, no próximo ano, oferece a Bruxelas a oportunidade de nomear líderes fortes para restaurar a fé no projeto europeu. Deveríamos colocar a diretora do FMI e a chanceler alemã na liderança, defende o colunista Tony Barber.

Imagine uma UE liderada, dentro de doze meses, por Angela Merkel e Christine Lagarde: despertaria a atenção do mundo. Estará finalmente a Europa a organizar-se devidamente, perguntar-se-iam os americanos e os asiáticos.

Infelizmente, não vai acontecer. Os métodos excêntricos da UE, para conceder os cargos mais elevados, eliminam qualquer possibilidade de isso acontecer. Tendo em conta as noções contraditórias e confusas que definem o papel internacional da Europa, é muito provável que os 28 líderes nacionais da UE não tenham nenhum interesse em que isso aconteça.

Eis uma bela oportunidade desperdiçada. Merkel, que ainda há pouco venceu as eleições parlamentares na Alemanha, e tem vindo a desfrutar das suas novas responsabilidades enquanto decisora na crise da zona euro, é uma candidata que possui todas as qualificações para substituir Herman Van Rompuy na presidência do Conselho Europeu, que reúne os chefes de Governo da UE.

Lagarde, Diretora-Geral do Fundo Monetário Internacional (FMI) e antiga ministra das Finanças francesa, é a escolha certa para  substituir José Manuel Durão Barroso na presidência da Comissão Europeia, o braço executivo da UE.

Confiar as rédeas da UE a esta dupla seria uma jogada de mestre. O poder ficaria entregue a duas das responsáveis políticas da Europa mais respeitadas a nível internacional. Seria uma declaração audaciosa sobre a atitude da Europa em relação à posição que as mulheres ocupam na vida pública. Por fim, também seria o símbolo da parceria franco-alemã, sem a qual a UE não passa de um cavalo sem cavaleiro.

Não ofuscar os líderes nacionais

Para perceber a razão pela qual isto nunca passará de um sonho irrealizável, temos de analisar as palavras de Van Rompuy. Num momento de inatenção, este disse que o seu carisma era “muitas vezes subestimado”. Regressou finalmente à terra e explicou que o presidente do Conselho Europeu não pode procurar ofuscar os líderes nacionais. Comê-lo-iam vivo antes de ser servido o terceiro prato num dos jantares que seguem as cimeiras da UE. Em vez disso, o presidente da UE deve “procurar arranjar soluções, compromissos, desempenhar o papel de moderador e intermediário”.

Também procuravam alguém que viesse de um país de pequena ou média dimensão e que não fosse demasiado importante

Nesta matéria, Van Rompuy, um democrata-cristão e filósofo belga, sabe do que está a falar. É a única pessoa a ter exercido a função de presidente do Conselho Europeu a tempo inteiro, um cargo criado em 2009. Os líderes europeus nomearam-no por quererem um presidente e não um diretor executivo. Também procuravam alguém que viesse de um país de pequena ou média dimensão e que não fosse demasiado importante. Uma personalidade mundialmente reconhecida, como Tony Blair, o antigo primeiro-ministro britânico, era exatamente o contrário daquilo que tinham em mente. O que também explica por que Merkel não participa na corrida – não que ela tivesse alguma vez sugerido que o iria fazer.

Quando os líderes da UE se juntam, todos os cinco anos, para atribuir os cargos mais elevados, as principais questões debatidas envolvem o equilíbrio geográfico, nacional, político e entre géneros. Por exemplo, tendo em conta que o italiano Mario Draghi se encontra atualmente na presidência do Banco Central Europeu, muito dificilmente iremos ver Mario Monti, antigo primeiro-ministro italiano e comissário da UE, a substituir Van Rompuy, ou como poderia Franco Frattini, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros e ex-comissário da UE, assumir o cargo de secretário-geral da NATO (mais uma função que ficará disponível no próximo ano e que é sempre atribuída a um europeu), atualmente desempenhado pelo dinamarquês Anders Fogh Rasmussen. De qualquer das formas, será sensato por parte da UE nomear Monti, um brilhante burocrata cuja breve carreira política se volatilizou em chamas, ou defender a causa de Frattini, um antigo acólito de Silvio Berlusconi, um criminoso que já foi  julgado e condenado?

Os líderes nacionais tratarão de controlar o processo de seleção para a substituição de Van Rompuy, mas poderão ter alguma dificuldade em impor os seus candidatos para presidente da Comissão e alto representante para os Negócios Estrangeiros, um cargo para o qual Ashton foi designada em 2009. Segundo o tratado que regula a UE, a nomeação dos líderes deverá ser aprovada pelo Parlamento Europeu. Os dirigentes deverão portanto ouvir os partidos representados após as eleições de maio.

UE continuará a fazer más escolhas

Com o sistema de nepotismo da UE bem afinado, o cargo de alto representante para os Negócios Estrangeiros deverá ser atribuído a um membro do partido que ficou em segundo ou terceiro lugar

Pode parecer um gesto que saúda a responsabilidade democrática, mas na prática haverá muito provavelmente confusão e designações dececionantes. Cada um dos quatro maiores partidos políticos nacionais – centro-direita, centro-esquerda, liberais e verdes – tencionam, nas próximas semanas e meses, apresentar um candidato para a presidência da Comissão. Após as eleições, o partido vencedor exortará os líderes nacionais a aceitar o seu candidato. Com o sistema de nepotismo da UE bem afinado, o cargo de alto representante para os Negócios Estrangeiros deverá ser atribuído a um membro do partido que ficou em segundo ou terceiro lugar. A presidência do Parlamento Europeu (a UE tem imensos presidentes) será provavelmente repartida.

Como é óbvio, os líderes nacionais reservam-se o direito de rejeitar o candidato do partido vencedor para a presidência da Comissão. O resultado será um confronto sem interesse entre os chefes do governo e o Parlamento Europeu, um espetáculo que irá certamente afastar, ainda mais, os europeus das instituições da UE, que já são acusadas de narcisismo e não terem qualquer ligação com a vida real. Também é possível que o candidato selecionado para o cargo de alto representante para os Negócios Estrangeiros rejeite a oferta por ter maiores ambições na política nacional. Em 2009, o partido socialista elegeu David Miliband, o então secretário de Estado britânico dos Negócios Estrangeiros. Teria sido uma ótima escolha, mas rejeitou a oferta. No que pode ser considerada uma caricatura de uma tomada de decisão sensata, os líderes da UE decidiram nomear Catherine Ashton, que não tem qualquer experiência em Negócios Estrangeiros e que nunca se viu como candidata.

Enquanto os líderes nacionais procurarem a todo o custo as luzes da ribalta e o processo de nomeação se definir pela troca de favores, a UE continuará a fazer as piores escolhas para os cargos mais elevados. Talvez os líderes o prefiram assim. Mas como dizia uma velha banda desenhada americana, que estranha forma de montar um caminho de ferro.

FINANCIAL TIMES - LONDRES - Tony Barber

 

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