O COVID-19 VAI REFAZER O MUNDO?
23-04-2021 - Dani Rodrik
Ninguém deve esperar que a pandemia altere - muito menos reverta - tendências que eram evidentes antes da crise. O neoliberalismo continuará sua morte lenta, os autocratas populistas se tornarão ainda mais autoritários e a esquerda continuará a lutar para elaborar um programa que atraia a maioria dos eleitores.
As crises vêm em duas variantes: aquelas para as quais não poderíamos ter nos preparado, porque ninguém as havia previsto, e aquelas para as quais deveríamos estar preparados, porque eram de fato esperadas. COVID-19 está na última categoria, não importa o que o presidente dos EUA, Donald Trump, diga para evitar a responsabilidade pela catástrofe que se desenrola. Embora o coronavírus em si seja novo e o momento do surto atual não pudesse ser previsto, os especialistas reconheceram que uma pandemia desse tipo era provável.1
SARS, MERS, H1N1, Ébola e outros surtos forneceram um amplo alerta. Quinze anos atrás, a Organização Mundial da Saúde revisou e actualizou a estrutura global para responder a surtos, tentando corrigir as deficiências percebidas na resposta global experimentada durante o surto de SARS em 2003.
Em 2016, o Banco Mundial lançou um Mecanismo de Financiamento de Emergência para Pandemia para fornecer assistência a países de baixa renda em face de crises de saúde transfronteiriças. O mais flagrante é que apenas alguns meses antes do COVID-19 surgir em Wuhan, China, um relatório do governo dos EUA alertou o governo Trump sobre a probabilidade de uma pandemia de gripe na escala da epidemia de influenza de cem anos atrás, que matou cerca de 50 milhões pessoas em todo o mundo.
DANI RODRIK
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