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A vantagem económica de Biden

30-10-2020 - Jeffrey Frankel

Em alguns dias, os americanos escolherão um presidente. Pesquisas de opinião indicam que os eleitores preferem o ex-vice-presidente Joe Biden em termos de políticas sociais, política externa, meio ambiente e gestão da pandemia, sem falar em carácter pessoal. Porém até recentemente, algumas pesquisas indicavam que, na condução da economia, os eleitores preferiam o presidente Donald Trump.

Não é de hoje a impressão geral de que a economia americana tem um desempenho muito melhor com os republicanos do que com os democratas. Mas os fatos não a comprovam.

Nos 16 mandatos presidenciais completos desde a Segunda Guerra Mundial, desde Harry Truman até Barack Obama, o crescimento anual do PIB  registou uma média de 4,3% com os presidentes democratas, contra 2,5% nos governos republicanos. A presidência de Trump puxou a nota republicana ainda mais para baixo. De fato, a média do crescimento anual durante o governo dele até o momento tem sido negativa.

O qualificativo necessário em tais comparações é que o presidente é somente uma de várias influências na economia. A sorte também tem um grande papel. É possível optar por excluir 2020 do histórico de Trump, por exemplo, usando-se o argumento de que o coronavírus foi um caso de azar. Porém, mesmo as altas pré-pandémicas do PIB, emprego e mercado de acções no governo Trump apenas deram continuidade a tendências que ele herdou de Obama.

Não só isso, não se pode absolver Trump da responsabilidade de ter administrado a pandemia de modo descuidado. O único “plano” dele continua ser a previsão de que o vírus irá desaparecer em algumas semanas. Ele enfraqueceu de modo agressivo as medidas defendidas por especialistas, como uso de máscaras e testagem em massa, que teriam protegido melhor tanto a saúde pública quanto a economia.

De todo modo, a diferença no desempenho económico médio entre os governos democratas e republicanos é estatisticamente significativa - isto é, não é explicável somente por questões de puro acaso.

Um simples cálculo pode fortalecer este argumento. As cinco últimas recessões, inclusive a actual, começaram quando um republicano estava na Casa Branca. Se as chances de uma recessão começar com um presidente democrata ou republicano fossem iguais, então as chances disso acontecer seriam de uma em 32, ou pouco acima de 3% - as mesmas chances de conseguir o mesmo resultado em cinco jogadas de moeda seguidas. Não é algo muito provável.

A diferença em termos de desempenho prévio parece forte demais para ser verdadeira. O ideal seria que pudéssemos identificar e quantificar com confiança políticas económicas que presidentes democratas adoptaram capazes de explicar directamente a disparidade. Mas isso é pedir demais. Portanto, consideremos apenas as políticas económicas que se espera que um governo Biden implemente, pelo menos se a eleição resultar em um Senado com o qual ele consiga trabalhar.

Trump vem tentando convencer os eleitores de que Biden implementaria políticas esquerdistas radicais caso fosse eleito. Outros concorrentes à indicação para candidato  democrata à Presidência apoiam políticas que, se levadas ao pé da letra, seriam muito mais à esquerda da maioria do eleitorado americano, e até mesmo à esquerda do eleitor democrata médio. A lista incluiria a proposta de “Medicare para Todos” do senador Bernie Sanders, que aboliria convénios de saúde particulares, e a garantia federal de empregos do Novo Acordo Verde proposto pelos parlamentares democratas.

Ainda que Biden tenha rejeitado explicitamente estas políticas, e ganhado a prévia democrata como um moderado, seu plano económico tem uma enorme diferença comparado à abordagem de Trump. A recente convenção nacional republicana não produziu uma plataforma, de modo que temos de olhar para as acções do primeiro mandato do presidente para avaliar o que ele pode fazer se reeleito. Três delas se destacam: as tentativas de Trump de desmontar a Lei dos Serviços de Saúde Acessíveis de 2010 (Obamacare), o corte de impostos de Dezembro de 2017, que em grande parte aumentou os lucros das companhias, e uma guerra comercial  que deixou quase todos os envolvidos em situação pior. Ainda que Trump tenha prometido ajudar trabalhadores americanos, estas políticas têm o efeito contrário, como pelo menos 850 conomistas concordam.

Em comparação, as propostas de política económica de Biden abordam objectivos que a maioria dos americanos compartilha: restabelecer a prosperidade económica, fazer mais para ajudar as famílias deixadas para trás até mesmo antes da pandemia e restaurar os avanços nas protecções ambientais. Além disso, ele perseguiria estar objectivos de maneiras que são práticas, em vez de serem só algo que fica bonito em um adesivo de campanha.

Para começar, Biden implementaria um plano federal para combater o coronavírus, baseado no conhecimento de cientistas e profissionais de saúde. Isto inclui disponibilizar testes gratuitos em grande escala, eliminar barreiras de custo à prevenção e tratamento da covid-19, e desenvolver uma vacina segura, eficiente e confiável, além de fortalecer a capacidade da saúde pública da América de administrar crises futuras.

Biden renovaria grandes programas de gastos que o Congresso deixou caducarem, como um auxílio-doença pago àqueles que não podem comparecer ao local de trabalho por motivos de saúde. Ele manteria o grande incentivo macroeconómico até que a renda e o emprego voltassem aos níveis pré-pandémicos.

Investimentos em grande escala em infra-estrutura e pesquisa e desenvolvimento, além de educação que estimule o crescimento da produtividade ao longo do tempo também são centrais ao plano Biden. Além disso, ele também avançaria nas conquistas do Obamacare e diminuiria drasticamente o número de americanos sem plano de saúde, em vez de reverter essas conquistas, como os republicanos têm trabalhado para fazer.

Biden propõe suportar tais despesas com a tributação progressiva, que inclui revogar o corte de impostos de empresas de 2017 e aumentar o teto dos salários sujeitos à taxa sobre a folha de pagamento que ajuda a financiar a Previdência Social. Ele vem prometendo não aumentar impostos para rendas inferiores a US$400 mil. A Moody's estima que os ganhos com os novos gastos propostos por Biden compensariam o efeito de enfraquecimento causado por sua alta tributária; até 2024, o PIB real seria 4,5% maior do que sob as políticas económicas actuais.

Biden seria agressivo no cumprimento de metas ambientais. Embora a estratégia dele inclua uma expansão acelerada contínua da energia renovável, nós não deveríamos fingir que a energia solar e eólica é capaz de atender 100% das necessidades energéticas americanas num futuro próximo. Biden não acha que o fracking deve ser proibido nas regiões do país que querem os empregos que ele traz. Porém, vazamentos de metano e outros efeitos colaterais ao meio ambiente podem e devem ser firmemente contidos por meio de regulamentação; do contrário, o fracking não deve continuar.

Por fim, um governo Biden buscaria restaurar o papel internacional prévio dos EUA mantendo o país na Organização Mundial de Saúde, voltando ao Acordo do Clima de Paris, apoiando outros acordos internacionais e tratando nossos aliados melhor do que nossos adversários.

Os presidentes democratas do pós-guerra têm sido significativamente melhores para a economia americana do que os republicanos. Há motivos de sobra para acreditar que esta tendência irá continuar se Biden vencer no dia 3 de Novembro. Houve poucas eleições com uma diferença tão visível na qualidade provável das políticas económicas dos dois candidatos. Neste caso, as de Biden são melhores.

JEFFREY FRANKEL

Crescimento de Capital da Universidade de Harvard, actuou anteriormente como membro do Conselho de Consultores Económicos do presidente Bill Clinton. Ele é pesquisador associado do US National Bureau of Economic Research.

 

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