A Ucrânia e o Batalhão Azov
12-09-2014 - Flávio Aguiar
O Batalhão ganhou força com a adesão de militantes de extrema-direita de outros países, tornando-se uma verdadeira brigada internacional neofascista.
No meio do bombardeio mediático ocidental para criminalizar a Rússia como única responsável pelos confrontos no leste da Ucrânia, transparecem algumas considerações que, embora não valorizadas, são eloquentes sobre a falta de interesse, por parte de algumas forças ucranianas, em criar espaço para uma solução negociada do conflito.
Entre estas forças está o chamado “Batalhão Azov”. Informações publicadas no The Telegraph, de Londres (11 de Agosto de 2014, artigo de Tom Parfitt), e no The Guardian, dão conta deste grupo como “de extrema-direita”, ligado ao partido chamado de “Right Sector”, em inglês. Também podem ser obtidas informações na internet sobre este Batalhão.
O Ministério do Interior da Ucrânia, encarregado da Defesa, dominado pela extrema-direita, depois de dar-lhe outras missões (como atacar Donetsk, bastião dos rebeldes) encarregou este Batalhão da defesa do porto de Mariupol. Comandantes dele (como Andriy Biletski) deram seguidas declarações contrárias ao cessar-fogo estabelecido a partir da última sexta-feira. E de fato, em Mariupol vêm ocorrendo as mais constantes violações da trégua.
As posições do Batalhão são bem conhecidas: limpeza étnica do país, anti-semitismo, homofobia, patriotismo xenófobo exaltado, entre outras “qualidades”. O Batalhão Azov saiu directamente dos manifestantes neofascistas da praça Maidan, tratados sistematicamente como “heróis da democracia” por boa parte da media do Ocidente.
Entretanto, o Batalhão ganhou força com a adesão de militantes de extrema-direita de outros países, tornando-se uma verdadeira brigada internacional neofascista em território ucraniano. Entre eles, segundo a BBC, veio o perito franco-atirador sueco Mikael Skillt, um conhecido militante das causas neonazis na Europa. Além dele, mais suecos teriam vindo (segundo a própria polícia sueca), e também de países como Irlanda, Grécia e Itália.
Segundo o Telegraph, há mais batalhões semelhantes, como Donbas e o Dnipro, todos abrigados sob o guarda-chuva do Ministério. Ainda segundo o Telegraph, todos eles têm um treino militar algo precário, mas uma segura doutrinação ideológica, que inclui, entre outras coisas, a defesa da “supremacia branca”.
Tais entrelinhas desmentem as perspectivas maniqueístas sobre o conflito, permitindo a percepção da complexidade da situação ucraniana. O conflito ressuscitou e acirrou o clima de Guerra Fria na política internacional e na media do Ocidente. Fomenta-se uma comparação entre a política de Putin e a de ‘Lebensraum” de Hitler. Recentemente o tablóide sensacionalista de direita de Berlim, Bild, publicou uma foto que parodia do filme “O Grande Ditador”, de Chaplin, com o presidente russo segurando um globo terrestre nas mãos.
A NATO promete intensificar o cerco à Rússia, movimento que tem a discreta oposição da Alemanha, que teme ser a provocação demasiada. O presidente Dmitri Medvedev ameaçou fechar o espaço aéreo russo para empresas de aviação de países que mantenham sanções económicas contra os sectores financeiro e energético da Rússia.
Seguidamente o secretário-geral da ONU, Ban Ki Moon, tem repetido que não há perspectivas de solução militar para o conflito no leste da Ucrânia. Esta não parece ser a perspectiva do Batalhão Azov, cujos líderes já afirmaram que vêm as eventuais tréguas apenas como uma oportunidade para rearmarem-se e se reposicionarem no terreno, não descartando uma hipotética guerra de guerrilhas caso o Exército de Kiev suspenda acções militares contra os separatistas.
Voltar |