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Vem aí mais globalização selvagem

05-06-2020 - Ana Moreno

Por mais que o desequilíbrio e a insustentabilidade do actual modelo de globalização venham sendo demonstrados e denunciados, nunca foram motivo de desaceleração da mesma. A presente pandemia desmascarou, mesmo para quem nunca quis ver, o seu lado absurdo.

Poder-se-ia ingenuamente esperar que a visibilidade desse absurdo forçasse o início da urgente mudança de rumo da política comercial e de investimento da UE. Mas o contrário é o caso.

Segundo o Comissário do comércio Phil Hogan, “embora ultimamente a maioria dos nossos esforços se tenha concentrado na resolução da crise do coronavírus, também temos trabalhado para fazer avançar a nossa agenda de comércio aberto e justo, que continua a ser muito importante. A abertura, as parcerias e a cooperação serão ainda mais essenciais à medida que reconstruirmos as nossas economias após esta pandemia“. Para Hogen, devido à pandemia, “precisamos de ainda mais acordos de comércio livre!”.

A conclusão, no passado dia 28 de Abril, das negociações com o México, o EU-Mercosul, UE-Nova Zelândia, UE-China, UE-Austrália, UE-Indonésia, para não falar nos secretos arranjinhos que estão a decorrer com os EUA, vão continuar a expandir pelo mundo a rede de tratados que a Comissão, com o beneplácito dos estados-membros, continua a negociar e assinar.

Ou seja, irão continuar a todo o vapor a desregulação, liberalização e privatização, cadeias de abastecimento que atendem exclusivamente ao critério do baixo preço, ignorando princípios de sustentabilidade e direitos humanos, e sem a contabilização de externalidades negativas, a subserviência ao mercado de todas as áreas, a progressão explosiva e descontrolada dos fluxos financeiros com a sua própria lógica especulativa e a submissão voluntária dos estados às poderosas multinacionais (global players), no âmbito de acordos de investimento que atribuem àquelas o direito de processar os segundos em tribunais privados ad hoc, quando estes tomam decisões que possam afectar os seus lucros presentes ou futuros (através do mecanismo ISDS).

O reforço dos mercados e dos ciclos económicos regionais e locais para uma economia mais resiliente, menos dependente de longas cadeias de abastecimento (relocalização), a protecção do clima, o reforço dos serviços públicos, a aplicação do princípio da precaução, o controlo dos fluxos financeiros e a garantia do direito dos estados a regular em favor do bem comum e do ambiente – sem estarem expostos ao pagamento de indemnizações gigantescas de milhares de milhões decididas em tribunais privados -, continuarão pois a ser sacrificados à religião do crescimento infinito.

Para meu grande espanto, até Wolfgang Schäuble, o detestado ex-ministro das finanças alemão e actual presidente do Bundestag, declarou recentemente que este tipo de globalização é “injusta” e “provavelmente exagerada”. Caramba, tanto lhe deram ouvidos durante a sinistra austeridade e, agora, que neste ponto se lhe fez luz, já não convém ouvir, não é?

Fonte: TROCA

 

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