O Novo Governo em França, François Hollande capitula diante de Angela Merkel
29-08-2014 - Flávio Aguiar
É claro que o presidente François Hollande rendeu-se de vez à política de austeridade imposta na Europa a partir do epicentro alemão.
A chanceler alemã Angela Merkel, polidamente, recusou-se a fazer qualquer comentário sobre a crise no governo francês, mas é claro que o presidente François Hollande rendeu-se de vez à política de austeridade imposta na Europa a partir do epicentro alemão e “despediu” as vozes discordantes do seu ministério. Visitando a espanha, ela limitou-se a elogiar a política do primeiro-ministro conservador, Mariano Rajoy, que segue completamente a cartilha ditada a partir de Berlim.
No fim de semana, dando curso a uma tensão que vinha crescendo já há algum tempo, o ministro da Economia, Arnaud Montebourg, criticou abertamente em entrevista à imprensa a política de “austeridade”, dizendo que é ela que impede a recuperação económica do continente e que está abrindo as portas para a extrema direita, inclusive na França.
O pano de fundo desta declaração é a estagnação das principais economias europeias, a começar pela alemã, seguida pelas da França e da Itália, que registaram crescimento nulo ou índices negativos nos últimos meses. Entretanto o establishment alemão – apoiado pela mídia conservadora – mostrou-se irredutível, com declarações por intermédio de porta-vozes, num tom de “os incomodados que se retirem”.
Na segunda-feira o presidente François Hollande jogou a toalha, e pediu ao primeiro-ministro Manuel Valls que reorganizasse o ministério. Além de Montebourg deixaram o governo no mesmo dia o ministro da Educação, Benoît Hamon, e a ministra da Cultura, Aurélie Filippetti. O ministro das Finanças, Michel Sapin, e os da Agricultura e da Defesa devem permanecer.
Analistas já vinham apontando a tensão interna no governo e no Partido Socialista entre Montebourg e Valls. Aparentemente a entrevista do primeiro fez o segundo exigir uma definição de Hollande, na base de “ou eu ou ele”. Hollande, que até então vinha pondo panos quentes na disputa, decidiu-se então por Valls e pela política recessiva de contenção de despesas públicas para agradar os investidores financeiros.
Para o governo esta decisão pode ser a pá de cal na tentativa de recuperar sua popularidade, que anda num nível baixíssimo, de 17%. Com a União por um Movimento Popular também em maus lençóis, com os processos contra o ex-presidente Nicolas Sarkozy, acusado de corrupção e abuso de poder, a favorecida por esta situação é, de fato, a Frente Nacional de Marine Le Pen, da extrema-direita.
Montebourg saiu do governo, mas não da liça: provavelmente disputará a liderança de Valls e do próprio Hollande no Partido Socialista, tendo em vista as próximas eleições presidenciais. A mídia conservadora, que elogia a decisão de Hollande, já propala que o ex-ministro deseja se apresentar com um “mártir da esquerda” para favorecer “suas ambições presidenciais”.
Porém, se a decisão de Hollande fá-lo ser levado de arrasto na esteira da “austeridade germânica”, também é verdade que cada vez mais e mais vozes vêm condenando esta política, que além de cortar investimentos sociais vem baixando o poder aquisitivo da população e levando a uma deflação que até mesmo o Banco Central Europeu vê com preocupação.
Recentemente o primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi, somou-se aos críticos da política hoje hegemónica na Europa, falando em privilegiar o crescimento económico e a geração de empregos. Enquanto isto, uma nova dupla parece estar substituindo a antiga, chamada de Merkozy (de Merkel Sarkozy): a “Hollanderkel”.
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