Num programa de televisão, a propósito da morte do grande actor Nicolau Breyner, cantaram a “Festa da Vida”, desse meu grande amigo e companheiro de algumas lutas, Zé Niza, autor deste poema, na época interpretado superiormente por Carlos Mendes.
Com o Nicolau Breyner - e porque sou sectário - ou são de esquerda ou não prestam, custou-me a engolir que um homem que foi um opositor ao regime fascista de Salazar e Caetano se tivesse candidatado à Câmara Municipal de Serpa no Alentejo, pelo CDS.
Com o tempo desculpei-lhe este devaneio, se é que sou alguém para lhe desculpar alguma coisa, mas não gostei de o ver alinhado com a direita mais reaccionária deste País, mas enfim, já lá vai e já não faz parte dos meus ressentimentos há muitos anos, até porque Nicolau, depois de sentir alguns problemas na própria carne virou à esquerda. Bem-haja.
Perdeu-se um homem da cultura e da arte de Molière, dizendo quem o conhecia bem, que era e sempre foi um grande amigo.
Mas voltando ao que me levou a escrever estas linhas, ouvir num programa de televisão como homenagem ao Nicolau, a “Festa da Vida” do José Niza, tema de um homem vertical, politicamente honesto - muitas discussões tive com ele sobre o PS – e que acabava sempre por dizer, “sou do PS, sou socialista e não mudo”.
Aprendi algumas coisas com as histórias que me contava, da Constituinte, do Serviço Nacional de Saúde. Também ele fez parte do grupo que desenhou o SNS com o António Arnaut, até porque Zé Niza era Médico Psiquiatra, sendo que tinha a mesma opinião que eu em relação aos novos políticos: alpinistas profissionais e defendia que em parte isto resultava das jotas.
Fiz duas campanhas presidências com ele e guardo a imagem da competência, da amizade, da solidariedade e da verticalidade e espero que este País o reconheça como um dos seus heróis na luta pela liberdade e pelo que deu à cultura.
Que os dois, um que era meu amigo e o outro por quem eu tinha consideração, descansem em paz, pois há muita gente que nunca vos vai esquecer.