O QUE É A JANELA DE OVERTON
08-08-2025 - Pedro Pereira
O nome de “Janela de Overton”, tem como seu autor Joseph P. Overton, que foi um analista político, antigo vice-presidente no Mackinac Center for Public Police, um tink tank no estado de Michigan, EUA.
Overton desenvolveu a teoria que lhe leva o nome, na década de 1990 para explicar como certas ideias políticas que num dado tempo aparentam ser radicais ou inaceitáveis, podem, eventualmente, tornarem-se populares e ser adoptadas pela sociedade. A ideia principal por detrás desta teoria é a de que a opinião pública e as políticas governamentais são influenciadas por um sentido limitado de ideias consideradas legítimas e aceitáveis num determinado contexto, tempo e lugar específicos.
Este, é hoje considerado um conceito fundamental para compreender como evoluem as normas sociais e as políticas públicas ao longo do tempo e como os líderes políticos e sociais podem influenciar essa evolução.
Para se poder compreender melhor a Janela de Overton, é fundamental imaginar o seu espectro de ideias políticas que vão desde as mais extremas ou radicais até às moderadas e aceitáveis, estas últimas, aceites pela maioria das sociedades em dado momento histórico. Estas ideias são as que têm mais possibilidade de ser adoptadas pelos líderes políticos e de converter-se em políticas públicas.
Fora da Janela de Overton, nos extremos, encontram-se as ideias que são consideradas extremamente radicais ou inaceitáveis nesse momento. Ideias que normalmente são ignoradas ou descartadas pela sociedade em geral e pelos líderes políticos.
No entanto, o que está fora da janela de Overton, pode a uma dada altura mudar, devido a uma série de factores, como mudanças da opinião pública, eventos históricos, líderes carismáticos ou movimentos sociais.
A Janela de Overton pode ser manipulada e mudada por líderes políticos, grupos de pressão e meios de comunicação social (televisão, rádio, imprensa, redes sociais, etc.), com o objectivo de influenciar a opinião pública.
Um exemplo contemporâneo da Janela de Overton em acção, é o debate sobre as mudanças climáticas e as políticas ambientais.
Nas últimas décadas, as preocupações relativamente ao aquecimento global e meio ambiente conduziram a uma mudança de percepção na opinião pública. O que antes poderia ser visto como medidas radicais para combater as mudanças climáticas, como a transição para fontes de energia renováveis, foram gradualmente conquistando a aceitação gradual da maioria das pessoas de forma a abordar esta problemática e aceitarem-na gradualmente.
De acordo com o seu autor, a Janela de Overton é uma teoria essencial para se entender a evolução das normas sociais e das políticas públicas, no decurso do tempo.
Acontece que os políticos e estrategas políticos utilizam uma variedade de técnicas para mover a Janela de Overton no sentido dos seus interesses e promover ideias ou políticas que inicialmente podem ser consideradas fora de uma categoria aceitável.
Estas técnicas podem ser subtis ou directas, e frequentemente implicam a sua influência na opinião pública e a persuasão dos eleitores. Assim, as técnicas mais comuns que os políticos empregam para alcançar esse objectivo são as seguintes:
Primeiro estádio: do impensável ao radical;
Segundo estádio: do radical ao aceitável;
Terceiro estádio: do aceitável ao sensato;
Quarto estádio: do sensato ao popular;
Quinto estádio: do popular ao político;
Neste sentido, todos quantos se confrontam com a Janela de Overton, mudam radicalmente a sua forma de pensar sobre determinadas questões, o que se explica pelo “assalto” à sua racionalidade e tolerância, no sentido em que algo que inicialmente era inaceitável, acaba, por fim, por ser totalmente aceite após um determinado processo.
Estratégias para deslocar a Janela de Overton:
Normalização : Repetir uma ideia até que ela pareça comum;
Reenquadramento : Apresentar uma proposta radical como solução sensata para um problema urgente;
Choque e debate : Introduzir ideias extremas para tornar outras mais moderadas, aceitáveis por contraste;
Narrativas provocatórias: Introduzir ideias radicais de forma gradual, tornando-as menos chocantes com o tempo;
Uso dos média: Repetição de certos temas em jornais, redes sociais e entretenimento para gerar conceitos antes considerados extremos;
Mobilização de influenciadores: Pessoas com credibilidade ou carisma ajudam a tornar ideias controversas mais “comestíveis”;
Estratégia do “Cavalo de Troia”: Apresentar uma ideia aparentemente inofensiva que, ao ser aceita, abre espaço para mudanças mais profundas;
Reengenharia social: Alterar valores culturais por meio da educação, arte, legislação ou políticas públicas;
Normalização de pautas antes impensáveis : Temas como legalização de drogas, políticas de identidade de género, ou vigilância digital passaram por esse processo. Hoje, muitos deles já estão dentro da janela do “aceitável” ou “popular”;
Uso estratégico da mídia e redes sociais : A repetição de certos discursos — seja por influenciadores, jornalistas ou memes — ajuda a mover a janela. O que era “radical” ontem pode ser “sensato” amanhã.
Atentemos que, nos conturbados novos tempos que vivemos, os valores da sociedade mudaram, dado que o que antes era considerado bom, hoje está fora de moda, e o que era mau, agora é considerado bom. Os ideais e valores, frutos de saberes e experiência construídos ao longo dos tempos pelos nossos antepassados, são ostracizados, quando não, vilipendiados, sendo que a divisão entre o bem e o mal se transformou numa linha contínua. O relativismo é moda e o sucesso das pessoas, mede-se pela posse dos bens que possuem.
Resumindo: Neste cenário, a Janela de Overton, não é mais do que uma ferramenta de engenharia social, cujo objectivo fundamental é o de moldar a opinião pública, criando novos contextos sociais.
Pedro Pereira
|