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ISRAEL vs IRÃO

20-06-2025 - Francisco Garcia dos Santos

Desde 1948, data da fundação do Estado de Israel, este tem sido objecto de sucessivos ataques militares por parte de países árabes do Médio-Oriente, e após a queda da monarquia persa do Irão liderada pelo ex-Xá Reza Pahlavi, com hábitos de vida ocidentais, embora de religião muçulmana xiita, mas com liberdade de culto, substituída em 1979 pela atual teocrática República Islâmica do Irão fundada pelo Ayatollah Khomeini, também e fundamentalmente por este, ainda que de forma indirecta, mediante organizações terroristas suas próceres, como o Hamas palestiniano, o Hezbollah libanês e os Houthis iémenitas. De notar que a Constituição da República iraniana prevê a extinção do Estado de Israel, “varrendo-o” do mapa político mundial.

Com todos os defeitos que se possam apontar ao Estado judaico e seus sucessivos governos, a verdade é que desde a sua fundação sempre foi uma república com sistema de governo demorático liberal e pluralista de tipo euro-ocidental, onde as mulheres têm e exercem os seus direitos tal como os homens (basta referir a grande Primeira-Ministra Golda Meir, cujo mandato ocorreu entre 1969 e 1974). Contrariamente, os Estados árabes seus vizinhos, autocráticos ou ditatoriais são absolutamente machistas, onde a mulher é um mero “objecto” propriedade do pai, do irmão ou do marido, radicalmente intolerantes face à liberdade de qualquer culto que não o islâmico, pena de morte para o adultério (sobretudo de mulheres) e para homossexuais, “LGBTI+” e flagelação pública por “delitos religiosos”, etc. (seria bom que algumas organizações e partidos políticos de esquerda e “politicamen te correctos que defendem o islamismo pensassem nisto).

Contudo, como a realidade social e pol+ítica vai evoluindo, hoje em dia o Egipto, Jordânia, Líbano, Síria e Turquia, bem como o Iraque até à “queda” de Saddam Hussein em 2003 -mas isto refere-se apenas à liberdade religiosa ou de culto, já que outras “liberdades” foram ou são, como é sabido, mais ou menos coartadas, salvo na Jordânia, que com o Rei Hussein no final do seu reinado e seu filho e atual Rei Abdullah II se democratizou e onde os direitos sociais e políticos das mulheres estão assegurados (veja-se o caso da atual Rainha Rania de origem palestiniana, nascida no Kuwait, que teve uma educação e formação de matriz ocidental nesse país e na Universidade Americana do Cairo, onde se licenciou em Gestão de Empresas).

Alguns dos países supra citados guerrearam formal e materialmente contra Israel logo desde a sua fundação, como são, entre outros (não exaustivamente), os casos das Guerras da “Independência/Árabe-Israelita” em 1948 com países da Liga Árabe; dos “6 Dias” ocorrida em Junho de 1967, em que a Síria, Egipto, Jordânia e Iraque procuraram, mas sem êxito, invadir e aniquilar Israel; do “Yom Kippur” ocorrida em Outubro de 1973, em que de novo o Egipto, Síria e Iraque procuraram conseguir o que anteriormente não haviam alcaçado -mas de novo foram derrotados; e em todos os casos perderam território a favor do Estado hebraico.

Estes, então beligerantes contra Israel, foram apoiados na “rectaguarda” em termos políticos e com armamento pela Arábia Saudita e outros Estados árabes.

Mas hoje a situação geoestratégica e geopolítica em redor de Israel é bem diferente.

De facto, a Turquia do Presidente Erdogan não hostiliza Israel, limitamdo-se a, de quando em vez, fazer declarações críticas desfavoráveis face às políticas israelitas que visam os palestinianos; o Estado judaico, de forma directa ou indirecta, tem agora como aliados alguns países árabes, como a atual Síria post Bashar al-Hassad, aliás hoje apoiada por Israel; o Líbano quase “destruido” e sem qualquer capacidade militar (portanto inofensivo para Israel); Jordânia, Egipto e Arábia Saudita, todos bons vizinhos de Israel e unidos contra o terrorismo islâmico apoiado e fomentado pelo Irão, como as organizações político-militares inspiradas, financiadas e armadas pela teocracia dos ayatollahs: Hezbollah no Líbano, Hamas palestiniano na “Faixa de Gaza” e em parte na Cisjordânia, e os Houthis iemenitas no sul da Península Arábica.

O atual relacionamento dos Governos destes países com Israel, que já dura há alguns anos, deve-se precisamente ao facto de não quererem “portas adentro” organizações radicais islamitas terroristas apoiadas pelo Irão -é que, por exemplo, a própria Arábia Saudita tem graves problemas na sua fronteira sul com o Iémen. Ora, sendo o Estreito de Ormuz, que liga o Golfo Pérsico ao Oceano Índico, dominado pelo Irão, e agora a ligação do Índico ao Mar Vermelho, que por seu lado liga pelo Canal do Suez o Índico ao Mar Mediterrânico, sendo controlado pelos Houthis, permite à República Islâmica dos ayatollahs causar bloqueios e grandes prejuízos ao enorme tráfego marítimo comercial entre o Oriente e o Ocidente e vice versa, o que não é do interesse de ninguém. Se não, vejamos no que concerne a aliados conjunturais do Irão: a Rússia já tem problemas que cheguem devido à guerra contra a Ucrânia, pelo que muito dificilmente “investirá” no Irão aquilo que nem para si chega; a China, sendo grande “cliente” do Irão no que respeita a petróleo, com mais ou menos facilidade o substituirá por outros produtores, como, por exemplo, os africanos Sudão, cuja produção petrolífera é quse toda destinada àquela, para além de outros países de África, como Angola e Nigéria, e ainda Brasil e Venezuela, pois não tem qualquer interesse no “bloqueio” do Mar Vermelho e “inoperacionalidade” do Canal do Suez, o que lhe causaria grandes danos no comércio com a Europa, ou seja, tendo o tráfego marítimo de ser feito pela “Rota do Cabo”, ou seja, contornando todo o continente africano desde e para o norte do Oceano Índico, passando pelo Cabo da Boa Esperança no ponto mais a sul de África (África do Sul), e “subir” até à costa ocidental europeia, como a portuguesa e de “países nórdicos” (Bélgica, Países Baixos/Holanda, Reino Unido, Alemanha e Dinamarca), bem assim mediterrânica (Espanha, França e Itália). No que concerne à Coreia do Norte, esta “tem mais do que fazer” com o seu permanente investimento no respectivo programa nuclear e “ajuda” à Rússia na sua guerra contra a Ucrânia.

Mas como se tal não bastásse, há décadas que o Irão tenta produzir armas nucleares, sendo que já possui mísseis balísticos convencionais de longo alcance, ou seja, de entre 1.500 a 2.000 Kms. Isto faz perigar a segurança de todos os países do Próximo e Médio Oriente até à Península Industânica/Subcontinente Indiano. Se um Estado fanático-religioso, como é o Irão, conseguisse ter um arsenal nuclear, as suas potenciais vítimas seriam logo os países Árabes seus vizinhos e Israel. Deste modo, entende-se porque é que pelo menos a Arábia Saudita e a Jordânia se têm empenhado em abater drones e mísseis disparados pelo Irão e seus próceres Houthis iémenitas contra Israel, visando não só a segurança deste país como a sua, já que se o Estado judaico retaliásse com armas nucleares, pois as possui, os efeitos das mesmas, ou seja, emissões radioactivas, atingiriam quase todos os países do Próximo e Médio Oriente.

Face ao exposto, o ataque terrorista em larga escala do Hamas a Israel em 7 de Outubro de 2023, tendo por trás o Irão, deu ao Estado judaico um óptimo pretexto para aniquilar aquele na Faixa de Gaza e Cisjordânia, o Hezbollah no Líbano, e finalmente atacar de forma directa o Irão, seu “inimigo figadal”.

Deste modo, contando com o apoio político, e nalguns casos militar, de países da Europa Ocidental, mormente França e Reino Unido, e em ambas as vertentes do Estados Unidos da América, bem como de uns quantos países árabes, Israel está em posição de, mediante o seu enorme e sofisticadíssimo poderio militar, “extinguir” ou, pelo menos, reduzir à insignificância bélica o regime dos ayatollahs iranianos, até porque no seio da própria população ou sociedade iraniana existem profundas divisões sobre a manutenção do mesmo e o seu fim, substituindo-o por outro sistema democrático pluralista não confessional e semelhante aos que vigoram na Europa e nalguns países árabes seus vizinhos.

Francisco Garcia dos Santos

 

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