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O histórico da Gestapo macrista

21-01-2022 - Jorge Elbaum

Ex-juiz federal, Norberto Oyarbide caracterizou a operação de espionagem de 2009, liderada por Mauricio Macri, como ''uma verdadeira Gestapo''

Em 2009, ficou conhecida a existência de uma rede de espionagem criada durante o governo da cidade de Buenos Aires, na época em que o prefeito da capital argentina era Mauricio Macri. Por meio dessa infra-estrutura ilícita, foram grampeados os telefones de opositores políticos e empresários concorrentes das empresas do Grupo Macri, e até mesmo dos sogros do então prefeito.

O caso se tornou público devido a uma denúncia feita por Sergio Burstein, uma das vítimas dos grampos. Foi registado pelo Tribunal Federal No. 5 de Buenos Aires, liderado pelo juiz Norberto Oyarbide, que considerou, em Novembro de 2009, que “havia um escritório de espionagem ilegal instalado dentro do governo da cidade de Buenos Aires (…) uma verdadeira Gestapo”.

Essa frase incomodou o então prefeito Macri, que se escandalizou com a comparação. “Oyarbide fez declarações muito infelizes… falando de uma Gestapo na cidade de Buenos Aires… o que ele quer dizer com isso?”, questionou Macri.

Oyarbide processou Mauricio Macri por formação de quadrilha dedicada a grampear telefones de forma ilegal. Poucos dias depois da posse de Macri como presidente, em 29 de Dezembro de 2015, o juiz federal Sebastián Casanello absolveu o empresário-presidente, por considerar que “não havia provas de que foi ele quem ordenou a espionagem das vítimas, incluindo Burstein”.

O juiz Norberto Oyarbide faleceu em 1º de Setembro de 2021, em decorrência de uma infecção causada pela covid-19. Alguns meses antes de morrer, ele revelou que Macri tinha “a clara intenção de intimidá-lo, oferecendo dinheiro para que não o investigasse no caso dos grampos (…) ninguém tinha coragem de se intrometer em seu caminho (…) mas ele não me comprou, porque não estou cotado na bolsa”.

A macrista Gestapo não é nova. É a continuidade dos grupos que actuavam clandestinamente durante a ditadura. O nexo que os une é o que foi conformado pelos civis que sustentaram o regime: grupos empresariais que se beneficiam da destruição do tecido produtivo e da perseguição aos trabalhadores.

O genocídio que custou a vida de 30 mil opositores presos, torturados e desaparecidos teve seu prolongamento programático nas desregulamentações aplicadas durante o governo de Carlos Menem e, algum tempo depois, pelo governo de Fernando de la Rúa – ambos desenhados pelo mesmo ministro da Fazenda: Domingo Cavallo.

Actualmente, essas políticas são a bandeira do projecto macrista, condizentes com as demandas do Departamento de Estado norte-americano.

Para tornar seu programa efectivo, eles precisam – explicitamente – criminalizar os adversários políticos, romper seus laços com as grandes maiorias sociais e perseguir os sindicalistas que defendem suas centrais operárias.

Também existiu uma Gestapo provincial, durante o governo da macrista María Eugenia Vidal como governadora da Província de Buenos Aires, que realizava o mesmo tipo de operação. Se dedicou, por exemplo, a perseguir os familiares das vítimas do submarino ARA San Juan (tragédia militar ocorrida durante o governo de Mauricio Macri), e também a monitorar aliados e opositores, com o apoio operacional do falso advogado Marcelo D’Alessio e de agentes da AFI (Agencia Federal de Inteligência da Argentina), quando esta era comandada por Gustavo Arribas e Silvia Majdalani.

A violação sistemática dos princípios básicos do Estado de Direito – alavancada pelos operadores judiciais e mediáticos – não é uma anomalia. Faz parte do modus operandi da lógica neoliberal.

*Publicado originalmente em Dejámelo Pensar | Tradução de Victor Farinelli

 

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