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HISTÓRIAS – XLVII

13-03-2020 - Henrique Pratas

Estávamos no Inverno, Ciclo Preparatório, férias de Natal e uma das atividades que tínhamos na Escola naquela altura era a Mocidade Portuguesa, que era uma forma de o regime atual tentar incutir as suas crenças e surge uma “obrigação”, hoje designada por atividade de campo, ir acampar para a Lagoa Azul, em Sintra.

Ao tempo aquela zona era composta por muita vegetação e a estrada era de terra, deixaram-nos no princípio onde esta começava e para chegarmos ao local onde íamos acampar teríamos que fazer todo o percurso a pé, debaixo de chuva com mochila às costas e com a farda típica da Mocidade Portuguesa, sob a orientação de uns presunçosos, mais velhos que se riam da nossa condição de submissão aos desmandos que exerciam sobre nós.

Andámos bastante e quando chegámos estávamos encharcados até aos ossos sem necessidade nenhuma, mas quiseram assim e para não sofrermos sevícias cumprimos à risca tudo o que nos foi pedido.

Chegados ao local onde iriamos ficar durante uma semana, como lhes referi molhados até aos ossos, obrigaram-nos a montar as tendas, como nos haviam explicado, isto foi digno de um exercício de uma tropa especial qualquer dos ramos das forças armadas, eu estava chateado que nem um peru e só me apetecia mandá-los àquela parte, porém tinha que me conter e fazer as coisas de uma forma mais sibilina.

Demorou algum tempo a montar as tendas apesar de serem armadas por três companheiros, mas estávamos todos com uma vontade que não imaginam, apesar de estar a chover torrencialmente, tivemos que executar esta tarefa e quando a terminámos tivemos que formar há porta das mesmas esperando por aqueles que ainda não tinham acabado de o fazer, para que um comandante de castelo passasse revista às tendas para verem se elas estavam em condições de podermos pernoitar nelas.

Como imaginam isto levou horas e a chuva a cair torrencialmente e eu só pensava no que me iria acontecer quando fosse altura para cumprir o serviço militar obrigatório. Se a intenção era criar lastro ou qualquer espécie de gosto pelo cumprimento do serviço militar o efeito foi completamente ao contrário, cada vez mais me irritava mais o que tivesse a ver com estas atividades paramilitares e militares, a experiência foi completamente para esquecer e produziu um efeito completamente contrário ao desejado, ninguém se divertiu e a aversão que foi criada àquelas atividades foi mais do que muita.

Estivemos lá durante uma semana a comer o que cozinhávamos, lavámos os pratos com terra para tirar a gordura e desenvolvíamos umas atividades que considerei completamente sem nexo, o tempo custou a passar de tal forma que quando chegou o dia de regresso foi uma alegria para todos e quando nos perguntaram se tínhamos gostado de lá estar, obviamente que dissemos que sim, correndo o risco de algum dos iluminados ter a ideia de repetir o “evento”, mas dizer que não era proibido, daí que optámos pela primeira resposta.

Companheiros meus, mais avisados apresentaram baixa médica para não participarem neste tipo de atividade e com toda a propriedade pois não se aprendeu rigorosamente nada, ficou-se apenas a conhecer melhor uma parte desagradável da Mocidade Portuguesa.

Alertado par o facto, esta foi a minha última participação nas atividades desenvolvidas pela Mocidade Portuguesa, nunca mais tive disponibilidade para participar em nada, por razões médicas.

Esta foi mais uma das atividades criadas pelo Estado Novo para dar continuidade ao regime, que na minha opinião não deu resposta às suas intenções.

O que de bom a Mocidade Portuguesa teve foi de juntar a rapaziada em atividades como o remo, o andebol, o atletismo, o voleibol, a vela e outras que permitiram que estivéssemos em contato uns com os outros e criássemos um espirito de união contra uma coisa em que não queríamos, aquele regime e a Guerra Colonial.

Neste sentido foi bom que tivesse existido a Mocidade Portuguesa.

Aquando do 25 de abril de 1974 muitos dos “cabecilhas” da Mocidade Portuguesa engrossaram as fileiras do MRPP (Movimento Revolucionário do Partido do Proletariados), LCI (Liga Comunista Internacional) e mais todos os grupelhos que se formaram neste âmbito.

Um deles que no tempo da outra senhora me tinha arrancado os botões da camisa por não estar devidamente composto na forma, veio a receber o pago com juros de mora, levando em tempo oportuno um carrego de porrada de criar bicho, não fui só eu, foram mais dois ou três com quem ele se tinha metido e abusado em termos dos poderes que pensava que lhe tinham sido conferidos pela Mocidade Portuguesa.

Convém lembrar que muitos destes inúteis supostamente graduados em postos mais elevados que os comuns dos alunos eram chamados para desempenhar funções na Legião Portuguesa.

Henrique Pratas

 

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