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HISTÓRIAS – XLIII

14-02-2020 - Henrique Pratas

Certa altura que já não consigo localizar no tempo viajava eu por Espanha acompanhado pela minha mulher e pelos meus filhos e no meio de uma estrada, que passava pelo meio do nada encontrei há beira da mesma um individuo que mais aparentava ser da ETA com um vasilhame na mão.

A minha mulher disse-me para não parar, mas eu como fui educado a ser solidário e a ajudar os outros contrariei a sua opinião, parei o carro e questionei-o sobre se precisava de ajuda, conversa daqui conversa dali, lá me disse que tinha ficado sem combustível na viatura que conduzia e que a próxima bomba de gasolina ficava a uma distância significativa.

Respondi-lhe que não interessava e que entrasse para a minha viatura que eu ia com ele há bomba de gasolina e depois trazia de novo ao local onde estava a sua viatura. Percorri largos quilómetros sem que qualquer tipo de conversa ocorresse, tive medo sim senhor, pensei que poderia ser um membro da ETA e que sem conhecimento de causa praticasse um dos atos que eram prática daquela organização.

O seu aspeto era o de um homem novo, barba comprida e com um ar rude, alto e corpulento a distância que tive que percorrer até há bomba de gasolina pareceu-me uma eternidade, tanto mais que a pessoa a quem dei boleia não esboçou qualquer tipo de conversa. Dirigi-me para a bomba de gasolina com a maior velocidade que podia, o tempo até chegar a ela pareceu-me uma eternidade, mas por fim lá chegámos, ele encheu o jerrican pagou o que tinha a pagar e fizemos o percurso inverso até chegar há sua viatura.

Deixei-o no local exato onde esperava que alguém o ajudasse, depois disse-me em bom português “muito obrigado”, aí fiquei completamente estarrecido e fiz o meu juízo de valor, este tipo apesar de ser espanhol sabe falar bem o português, mas no percurso de ida e volta tomou a mesma atitude do que eu não abrir a boca.

Ainda não sei se o fez com intenção ou não, o que eu tenho a certeza é que pertencia há ETA, mas para mim o que estava em causa era poder ajudar alguém que necessitava de ajuda, pois os ensinamentos do meu pai iam nesse sentido, quando encontrava alguém há beira da estada abrandava sempre para saber se era necessário alguma coisa, foi o que fiz se outras intenções existissem não fui afetado por elas e fiz aquilo que a minha consciência me ditou ajudar o próximo.

Não vos digo que não tive medo, claro que tive em determinada altura em decorridos alguns quilómetros ele não me disse nada e eu achei por bem também nada lhe dizer, aí sim pensei se estava a proceder bem ou mal, pois poderia estar a colocar em risco a vida dos meus filhos e da minha mulher, mas tal não aconteceu.

Depois de o ter deixado e de tomar o caminho que decidi tomar fui invadido pelos desabafos da minha mulher, chegando-me a chamar irresponsável e alegando mesmo se deveria fazer o que tinha feito. Só lhe perguntei se tinha acontecido alguma coisa para além de ter gasto um combustível extra aí ela calou-se e a viagem retomou o seu rumo normal.

Voltando aos dias que correm, tenho muitas dúvidas se o faria, tanto mais que ando sempre trancado dentro da viatura, portas fechadas porque não quero ser incomodado e por mais que me custe se vejo alguém parado na estrada, não paro, tudo isto porque vivemos num País onde a “segurança” é o principal fator de estabilidade de acordo com as afirmações dos nossos Governantes, vivemos num País onde não se passa completamente nada de anormal, segundo eles.

Henrique Pratas

 

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