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HISTÓRIAS – XLII

07-02-2020 - Henrique Pratas

Os meus avós maternos sempre me ensinaram a dar muito mais importância às terras do que ao dinheiro, diziam eles que o dinheiro se gastava e quem tivesse um bocadinho de terra e tivesse vontade par semear alguma coisa teria sempre que comer.

A esta distância de cerca de 60 anos estas palavras fazem cada vez mais sentido, é frequente vermos pessoas que têm dinheiro que o gastam rapidamente e depois não têm que comer, enquanto quem tem um pedaço de terra e tem gosto em cultiva-lo, tem sempre que comer, mesmo que dinheiro não tenha.

As palavras proferidas pelos meus avós maternos foram ditas numa altura em que as pessoas tinham valores, existia respeito e o “maldito” dinheiro não abundava com frequência que hoje existe.

As pessoas viviam uma vida real, hoje vivem uma vida a crédito contraídos em instituições bancárias e financeiras, vive-se uma vida faz de conta, pensando apenas num dia só, enquanto nos tempos dos meus avós a vida era pensada, existia futuro, hoje não como é comum e usual ouvirmos vive-se um dia de cada vez.

Que raio de sociedade é que construímos e queremos deixar para os nossos filhos, netos e população vindoura? Uma sociedade sem valores, princípios e sem afetos.

No tempo dos meus avós existiam afetos, não era que se andasse a dizer todos os dias e a toda a hora que se gostava de alguém, praticava-se com atos. Sim porque não é necessário verbalizar que se gosta de uma pessoa, o mais importante é fazer senti-lo nas pessoas que gostamos delas e isso na maior parte dos casos não se verbaliza, pratica-se.

Nos tempos que correm ouvimos muitas pessoas dizerem que gostam desta ou daquela pessoa, vou mais longe há mesmo quem diga que ama esta ou aquela pessoa, mas se analisarmos bem o que é dito constamos que são apenas palavras que se deitam da boca para fora.

Concretizo-vos, nós aos nossos não é preciso andar agarrados a ele e a verbalizar-lhes que gostamos muito deles, esta forma de comunicar este afeto passa muitas vezes por um olhar, por um abraço a propósito ou por estar no local certo há hora certa.

Quando existem muitas lamechices eu desconfio, porque não acho normal e as outras pessoas precisam de espaço para respirar, não podem nem devem na minha opinião viver uma vida completamente abafadas.

Nesta manifestação de desejos tem que necessariamente existir uma correspondência ou se quiserem uma reciprocidade, porque se não existir não há amizade, amor ou o que quer, que seja, estamos apenas perante pessoas conhecidas e muitas das vezes sem as conhecermos bem e que há primeira oportunidade nos pregam uma partida.

É esta última caraterização que faço, se aplica há atual sociedade em que vivemos, vivemos numa sociedade onde os afetos praticamente não existem o que é determinante é ter dinheiro, o resto não importa. Vivemos numa sociedade consumista de bens transacionáveis, onde não há lugar para afetos.

Henrique Pratas

 

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