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HISTÓRIAS – XXVI

06-12-2019 - Henrique Pratas

Final de mais um dia de trabalho, fins dos anos 80 e mais uma vez eu e dois companheiros de trabalho decidimos ir lanchar, hábitos pouco usuais na maior parte das organizações mas nós funcionávamos assim.

A sugestão foi realizada por um de nós e de imediato se iniciou mais uma “viagem” até uma cervejaria que existe na rua do Coliseu, que tinha boas sapateiras, nada melhor para um agradável lanche, como éramos clientes assíduos, tínhamos direito a babetes de pano para não nos sujarmos.

Arranjaram a sapateira, que foi acompanhada com vinho branco maduro, bem fresco já que a canícula era muita e lanchámos e falámos dos assuntos que tínhamos que falar.

Um dos participantes, o mais velho dos três ia ficar em casa dos pais, para lhes dar auxilio, como é um homem que gosta de ler, carregava um saco com recortes de jornais para “arrumar” por temas, eu bem o questionei porque é que ele carregava aquilo e a resposta era sempre a mesma é para “arrumar” isto.

Respondi-lhe está bem, nestas situações não convém insistir, quando as pessoas têm um propósito, há que deixar alimentá-lo.

Lanche passado levantámos âncora em direção há Avenida Almirante Reis, chegados ao Martim Moniz, deparámo-nos com um polícia sinaleiro sénior ou cabeça de giz como nós designamos aqui por Lisboa, acompanhado de um outro mais jovem que estava a aprender o “ofício”.

Ao tempo o Martim Moniz, não tinha indianos nem aquelas “barracas” que ali colocaram em prol da melhoria das condições de vida na cidade de Lisboa.

Deparámo-nos com esta situação e como já rareavam ao tempo os polícias sinaleiros, já as novas tecnologias os começaram a substituir pelos semáforos aproximamo-nos, mal sabíamos nós o que iria acontecer.

Imaginem o Largo do Martim Moniz, com dois polícias sinaleiros, a orientar o trânsito e três transeuntes curiosos em saber o que é que se estava a passar. Como as pessoas têm capacidade para falar dirigimo-nos ao polícia sinaleiro, mais velho e que dava formação ao mais novo, e curiosos questionámos se iriam reabilitar a figura típica do polícia sinaleiro, coisa que a nós, nos fazia alguma confusão.

O polícia mais velho quando questionado sobre o queríamos saber, tomou logo a iniciativa e com a bonomia que lhes era característica, disse-nos que nos deslocássemos todos, os polícias e os cidadãos para uma taberna que existia ali bem perto, ainda esboçámos “então e isto fica aqui sem orientação nenhuma?”, o polícia mais velho respondeu num ápice não tem problema nenhum o trânsito flui na mesma e nós também precisamos de descansar. Antevia-se uma situação “complicada” porque surge outro lanche improvisado este agora com queijos secos e mais vinho branco este tirado diretamente do barril, mas como queríamos conhecer o que se estava de facto a passar, recebemos uma explicação do que constatámos completíssima. Eu só me lembro do polícia sinaleiro mais novinho, a determinada altura não dizer nada de jeito, mas tudo bem, estava em estado de estágio. O mais velho não sabia-a toda e era uma personagem bem conhecida por estes meios. A meio da longa conversa ainda chamámos à atenção para o facto de o trânsito não estar a ser regulado, o polícia mais velho desvalorizou logo a situação com uma resposta lapidar “não se preocupem que eles vão arranjar forma de se entenderem”, palavra puxa palavra, isto arrastou-se e passado umas 2 horas de conversa lá voltaram os polícias para a regulação do trânsito, pois estava instalada a confusão total, ninguém andava para lado nenhum e os cruzamentos estavam completamente entupidos.

Nós em direção há Avenida Almirante Reis, pois os pais do meu amigo moravam perto da Praça do Chile e nós outros dois, tínhamos as nossas vidas canalizadas para outras bandas.

Como sabem na Avenida Almirante Reis, existe a Cervejaria Portugália, como o calor era muito, não deixámos de entrar e ao balcão onde estava um dos funcionários que já nos conhecia e nós a ele, foi só chegar-nos há frente que ele tirou logo duas imperiais brancas e uma preta, sim porque eu prefiro a cerveja preta, no meio destas andanças todas conversámos sobre o que tínhamos visto e constatado e a confusão que sem intenção arranjámos mas a culpa não foi nossa porque durante o tempo da conversa que tivemos chamámos amiudadas vezes para a regulação do trânsito.

Ao tempo também se servia ao balcão pratos de batatas fritas, onde nós colocávamos sal, pimenta e mostarda que eram acompanhadas pelas imperiais que o diligente funcionário tirava. Conversa para aqui, para acolá, faz-se horas para jantar e surge assim o pretexto para comermos os afamados bifes uns com molho outro apenas grelhado e o tempo ia passando, até que olhámos para o relógio e já era tarde o meu companheiro de trabalho foi para casa dos pais para lhes fazer companhia, pois já tinham uma idade avançada e do trabalho que se tinha proposto fazer nada feito. Deste facto tive conhecimento apenas no dia seguinte, quando o questionei então colocaste tudo em ordem, a resposta foi imediata, “não fiz nada carrego aquilo outra vez comigo para casa”, eu nada acrescentei, mas outra coisa não era de esperar.

Esta era a minha Lisboa, sem trotinetes, sem bicicletas, sem TVDEs, mas com PESSOAS com quem se podia conversar, o que existe agora não é nada.

Eu não sou nada conservador acho que as coisas devem mudar para melhor, mas para isto que temos agora não precisamos de nada disto.

Henrique Pratas

 

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