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HISTÓRIAS – XXXIV

01-11-2019 - Henrique Pratas

Dando continuidade há história que vos descrevi anteriormente as consequências imediatas para a minha pessoa foram começar a ser o homem da casa, eu que só tinha estudado até há presente data de um momento para o outro vi-me a braços com responsabilidades acrescidas, o de sustentar a casa e o de continuar o meu curso.

Em 01 de agosto de 1980 comecei a trabalhar e que que tinha levado o curso todo certo até ao acontecimento que lhes contei, nesse ano não consegui fazer as cadeiras todas e deixei duas por fazer, apesar disso passei para o 4.º ano ficando a um do completar, mas trabalhar e estudar ao mesmo tempo é dose.

Ao tempo já havia o estatuto de trabalhador/estudante, mas apesar de poder usufruir do mesmo o certo é que dei com uma série de profissionais com os quais aprendi muito e não gostava de os desiludir logo tudo o que me era pedido para fazer não ficava para trás, quem ficava para trás era o estatuto de trabalhador/estudante porque nunca saía às horas a que devia sair, primeiro estiveram sempre as minhas obrigações profissionais.

O que me pediram na altura foi para criar um sistema de informação de gestão que envolvia mais de 15.000 trabalhadores e diferentes áreas de negócio, a minha primeira reação foi de “zarpar” era um trabalho hercúleo e eu não gosto de falhar em nada e pauto-me por fazer o melhor que sei. Perante tal pedido o que solicitei foi conhecer os “buraquinhos” todos da empresa para que nada ficasse a descoberto.

Recebi com um sorriso um consentimento e uma afirmação que não esperavam outra coisa de mim.

Fiquei admirado com a reação afinal as pessoas conheciam-me melhor do que que pensava.

Percorri os caminhos todos, recolhi a informação necessária e passados uns meses tínhamos um sistema de informação de gestão que permitia fazer a gestão das pessoas no que concerne há sua evolução profissional, o processamento de vencimentos, a integração contabilista e determinar por centro de custo o valor que cada uma das intervenções custava, desde a mão-de-obra até há peça mais ínfima que era utilizada.

Esta informação servia para as diferentes Direções e órgãos de staff, participarem numa coisa que fazíamos que era o planeamento das diferentes atividades desenvolvidas pela empresa, para que no ano do ano seguinte se pudesse avaliar o que tinha corrido bem e o que haveria que melhorar no futuro, praticávamos o que se designa por uma gestão participada e nunca nos demos mal com isso, antes pelo contrário, justificávamos sempres os resultados com dados objetivos tentando-se reduzir ao mínimo a subjetividade dos resultados.

Esta forma de trabalhar deu bons resultados, mas a tarefa não foi fácil porque havia sempre pessoas que não queriam que as coisas funcionassem e tentavam por todas as formas boicotar o que de bem se faz, a politização da organização era muito acentuada e as tendências politicas que tinham pouca expressão queriam alargar o seu espaço e ocupar os lugares de decisão para pudessem desmembrar a empresa e dar a quem os apoiava os “rebuçados” que queriam.

Recordo-me de um belo dia um Administrador ter estado a cozinhar números para demonstrar há tutela que a empresa estava falida, nós técnicos apercebemo-nos que isso estava a acontecer e apanhámo-lo no corredor quando o “rapaz” já levava os documentos debaixo do braço.

Convidámo-lo a entrar para uma sala de reuniões e sentámo-nos há conversa com ele, foi uma conversa muito desagradável mas desmontámos os números todos que ele tinha preparado e como tínhamos técnicos que tinha acesso ao Secretário de Estado fizemos chegar os nossos números e justificações primeiro do que o Administrador, de tal modo que a “personagem” foi coagida a não apresentar o seu “trabalho” sob pena cair em desgraça, pouco tempo viria a sair da empresa, foi pastar para outro lado.

Nesta empresa eu aprendi muito porque tinha uma dimensão enorme onde a mão-de-obra tinha um papel determinante e foi aqui que dei continuidade ao meu gosto pelas pessoas respeitando as suas diferenças, desigualdades e os seus costumes, como lhes escrevi anteriormente APRENDI MUITO, com pessoas simples oriundas das diferentes zonas do País.

Em termos profissionais comecei por baixo e evolui até ao grau mais elevado da carreira de técnico, já com o meu curso terminado, a muito custo, porque como lhes escrevi anteriormente, trabalhar e estudar é obra. O topo da carreira para os Economistas era o grau 4 C, porque para o 5 e o 6 só passavam os que possuíam cartões do PS ou do PPD/PSD, mas a minha evolução profissional fez-se de uma forma de progressão por tempo de trabalho em algumas posições e noutras (mais) por mérito de desempenho sem que alguma vez tivesse pedido alguma coisa a alguém.

Concomitantemente com este assumir de responsabilidades de ser o homem da casa, tive que evitar que a minha mãe fosse submetida a todos os processos burocráticos que ficaram pendentes da morte do meu pai, onde podemos incluir a fixação da pensão onde a seguradora apresentou um valor e eu perante o juiz depois de ter reunido os recibos de vencimento do mau pai, demonstrei-lhe inequivocamente que o vencimento em que a seguradora se tinha baseado estava perfeitamente errado. Eu já tinha feito a cadeira de Direito do Trabalho, de que gostava e gosto muito, pese embora nos dias de hoje o que existe mais é Direito ao Emprego, mas isto dar-me-ia para escrever muito mais mas não me quero desviar do assunto que me leva a escrever este texto.

Apresentei as cópias dos recibos de vencimento e tanto o Juiz como o representante da empresa que estava presente concordaram de imediato com o que lhes tinha apresentado tendo delegado da seguradora o pagamento do diferencial que eles tinham baseado naquilo que a empresa tinha declarado como vencimentos auferidos. Este não era, nem é caso virgem as empresas declaração com base no mínimo que podem declarar, normalmente ficam-se pelo vencimento base e nem sequer o subsidio de refeição incluem, mas como o “rapaz” estava por dentro da matéria é considerada como “ retribuição toda aquela que tenha carácter de regularidade” e fui isto que fiz prova o meu pai tinha trabalho suplementar, tinha ajudas de custo, enfim um sem número de retribuições pagas a outro título mas que tinham carácter de regularidade e aí meus caros não há volta a dar é pagar e ficar caladinho.

Depois veio todo o processo relativo há indemnização decorrente da morte em serviço do meu pai aqui as coisas foram mais dolorosas, porque o processo corria na Guarda e ao tempo a vida de uma pessoa só valia 700.000$00, esgravatei e argumentei de tal maneira com o Delegado do Ministério Público da Guarda que ele tirou-se das suas tamanquinhas e disse-me eu vou resolver a situação era o que queria ouvir e esperei que voltasse. Tudo isto se passou no Tribunal da Guarda onde eu e a minha mãe de me tinha de deslocar, acompanhado de advogado para resolver a questão. Isto para a minha mãe era extremamente doloroso e cada vez que ela ouvia o nome do meu pai ia-se abaixo o que eu entendia e pensava na melhor maneira de acabar com esta agonia, mas ficarem-se a rir é que não, a mim também me custava, mas com 24 anos, tinham que me engolir vivo porque nunca lhes facilitei a vida.

O Delegado do Ministério Público, aparece-se-me com uma proposta de 1.400.000$00, para encerrar a questão. Eu pensei e ponderei a situação, porque não havia dinheiro nenhum que pagasse a vida do meu pai, mas perante a situação de expor a minha mãe e de ter que pagar ao advogado, as deslocações e demais encargos, decidi por ponto final há situação e voltar-me para o processo que corria em sede de Tribunal de Trabalho para que atribuíssem uma pensão há minha mãe dado que ela nunca tinha trabalhado e não tinha outro sustento a não ser os rendimentos auferidos pelo meu pai, acabaram por lhe atribuir um pensão paga mensalmente de cerca de 900$00 por mês, isto par ela dava e ficava com o mesmo nível de vida que tinha com o meu pai, até que um dia quando o então ex-Primeiro Ministro António Guterres decide dar uma bónus às seguradoras, que foi fazer a remissão destas pensões todas.

Como devem ter conhecimento as seguradoras eram obrigadas ater reservas matemáticas para garantir o pagamento futuro das referidas pensões, só que isto trazia um grande encargo em termos de custos para as seguradoras mas o senhor Ex - Primeiro-ministro que mencionei anteriormente decidiu dar uma benesse às seguradoras que foi acabar com as reservas matemáticas.

Isto como devem imaginar deu brado e lá passei eu a noite toda a ver como é que dava a volta a esta questão, porque a minha mãe não queria receber o dinheiro todo por uma vez, queria recebê-lo mensalmente e isso estava a ser-lhe vedado.

No dia aprazado deslocámo-nos ao Tribunal de Trabalho em Lisboa e o representante da seguradora já levava o cheque passado, pensei para comigo vou-te moer e assim fiz eu também sabia fazer os cálculos e efetuei-o, fazendo-o obviamente com uma esperança média de vida maior que a seguradora tinha realizado, baseado nos estudos da OCDE, enquanto a seguradora se baseou nos que mais lhe convinha, os do INE.

A escrivã chamou-nos, aí já não levei advogado e quando esta se preparava para que tudo corresse como estava previsto, ele comecei a colocar as questões que entendia por pertinentes tendo dito nomeadamente que a minha mãe poderia receber aquele dinheiro por conta, queria eu dizer-lhe que faltava ali mais qualquer coisa e expliquei-lhe a minha posição, resultado ela ficou de tal maneira aflita que me perguntou se eu queria falar com a Delegada do Ministério Público que ela pensava que estava disponível, e o homem da seguradora com o cheque na mão sem saber o que fazer.

Eu respondi-lhe que sim, ela subiu ao 7.º andar do edifício onde funcionava o Tribunal e anuiu em receber-nos, eu como tinha estado de volta do livro de Direito de Trabalho do Abílio Neto, estava muito bem preparado e argumentei de tal maneira com a Delegada do Ministério-Público, ao ponto de ela me perguntar em que qualidade eu estava ali, respondi-lhe com um sorriso, “ na de filho”, dando-me razão em toda a minha argumentação. O homem da seguradora estava completamente doido porque tinha que ir para outros lados e não conseguia cumprir aquela missão.

De argumentação em argumentação com a Delegada do Ministério Público, decidi quando eu muito bem entendi dizer-lhe, pesando os prós e os contras, muito bem.

A minha mãe que estava fora disto, tudo assistiu a tudo e quando saímos só me disse: “ O homem da companhia de seguros estava-te com uns olhos se ele te pudesse comer tinha-te comido”. Eu ri-me para ela, eu sei disso, mãe, mas temos que dar a entender a esta rapaziada que as coisas não são como eles querem.

Dirigimo-nos para o Banco e pedi automaticamente que me desbloqueassem na conta o valor em causa, como o cheque estava visado, porque assim o exigi, o dinheiro entrou imediatamente na conta e aplicado convenientemente.

Como podem verificar não tive uma vida nada fácil mas nunca pedi ajuda a ninguém para me ajudar a resolver os nossos problemas, nós aos 24 anos levamos tudo há frente, não há quem nos consiga parar, as coisas ou vão a bem ou a mal.

Henrique Pratas

 

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