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HISTÓRIAS – XXXII

18-10-2019 - Henrique Pratas

Recuando no tempo até há idade dos meus 5/6 anos os meus como ribatejanos que são começaram a levar-me aos locais onde se dançava o folclore ribatejano entre as quais uma dança particular que me viria a apaixonar que é o fandango.

Recordo-me que a primeira das vezes a que assisti a este tipo de dança foi em Salvaterra de Magos, mais tarde em Samora Correia e por aqui em Lisboa numa casa onde os ranchos folclóricos atuavam, acompanhados de acordeonistas de primeira água, como a Fernando Ribeiro e Fernanda Guerra, era uma delicia ver atuar esta gente, no chamado FOLCLORE, mesmo ao lado da Cervejaria Trindade.

Como sempre me interessei por tudo e gostava de saber fazer tudo, logo pedi uns sapatos iguais aos dos homens e crianças que dançavam o fandango era o que queria fazer também, primeiro disseram-me que não, porque pensavam que era apenas um impulso, mas como eu manifestei a minha vontade com bastante insistência lá me fizeram a vontade e me levaram aos locais onde se dançava o fandango, para que eu pudesse aprender o queria. Pensei que era mais fácil do que efetivamente foi, porque ao ver pensei logo para comigo eu também sou capaz e fui.

Durante alguns tempos dancei o fandango com o orgulho ribatejano e dando de mim o que era melhor para manter a dignidade deste tipo de dança, ainda hoje o sei fazer só que a idade já não me permite fazê-lo com a mesma vontade e raça que enquanto menino e moço o fazia. Tinha sempre os sapatos muito bem conservados, foram feitos de propósito em Salvaterra de Magos, num sapateiro que se dedicava a esta atividade.

Lembro-me que nos primeiros tempos os sapatos dormiam comigo, tal era o gosto que tinha por eles e como lhes referi estavam sempre em boas condições de conservação e prontos para serem usados.

Esta foi mais uma das atividades que pratiquei, com gosto e muita alegria e com o reconhecimento de muitas das pessoas para quem atuei e porque era menino ainda acham mais graça equando os mais velhos puxavam por mim não deixava em mãos alheias os desafios que me faziam e acompanhava-os a preceito.

Mais tarde por volta dos 11 anos veio o gosto pelos toiros, primeiro numa fase de brincadeira e curiosamente ou não a primeira incursão também ocorreu em Salvaterra de Magos, num restaurante que tinha um tentadero para os mais afoitados, experimentei a contragosto dos meus pais e o “bicho” entranhou-se e daí apar a frente nunca mais parei, fui aprendendo com os forcados que apareciam e que tinham experiência e há minha custa apanhando alguns porradões desnecessários mas que me ensinaram muito. Nesse tentadero uma das vezes de pois de ter pagado um garraio já com algum peso e sozinho, convenci-me que a situação estava dominada e dentro do espaço voltei-lhe as costas, coisa que nunca se deve fazer seja ele que animal seja, mas eu convencido das minhas capacidades voltei-lhe as costas e pus-me há conversa com outros amigos que por ali andavam a fazer das nossas, eles nada me disseram eu era o único que estava de costas voltadas para o garraio, até que certa altura sem menos esperar ele investe par mim e apanha-me pela curva das pernas. Como devem imaginar aí vai ele desamparado e a toda a velocidade lavrando a terra em toda a área em que eu passava. Foram apenas umas esfoliações nos braços, nas mãos e nos joelhos, nada que não passasse rapidamente mas o embate que não esperava foi o maior dos sustos e aprendi que qualquer que seja o tamanho do “bicho” não se deve voltar as costas devemos sempre encará-los de frente, foi uma excelente aprendizagem.

Mas mais tarde e já com outra idade acompanhado pelo Nuno Salvação Barreto, que era ao tempo o cabo fundador do Grupo de Forcados Amadores de Lisboa, aí as coisas fiavam mais fino, porque já não era a brincar era a sério, toiros há séria com um cabo que não facilitava em nada, antes pelo contrário exigia que nos comportássemos ao mesmo nível do que ele e nos admitia leviandades quando estávamos em praça, já nos “treinos” as coisas eram levadas muito a sério, quem se descuidava e não prestava a devida atenção levava logo nas orelhas. Conseguimos nos 70 ter um Grupo bastante consistente e com uma boa organização fazendo pegas do arco-da-velha.

Também andei por lá, levei a minhas porradas, mas estas faziam parte da arte de pegar toiros e nada que não passasse num bom par de dias e nada que impedisse de voltar a enfrentar os toiros novamente. As mazelas curavam-se rapidamente, ninguém dava parte de fraco era o que faltava, um belo dia vi o Nuno Salvação Barreto pegar um toiro sozinho, sem ajudas, só ele e ao ver isto pensei para comigo eu também devo ser capaz, coisas de rapaz afoito e que quer demonstrar ao seu líder que também é capaz de fazer o mesmo que ele. Como é do vosso conhecimento na zona de Vila Franca de Xira existem uns ganadeiros que gostam de experimentar a bravura do gado que produzem e ao tempo pediam aos forcados que lá fossem pegá-los, nos tentaderos que possuíam, um belo dia apanho-me sozinho no tentadero e com um toiro nos curros e peço ao homem para o soltar par o pegar sozinho, a minha sorte foi o cabo ter-se apercebido da minha atitude saltou logo lá para dentro e ajudou-me a fazer o que queria fazer sozinho pegar o toiro. Para além da reprimenda levei um calduço valente, tendo-me sido informado que eu não estava preparado para fazer aquelas coisas sozinho e que não me atrevesse a repetir a brincadeira, esta atitude custou-me estar “encostado” nas trincheiras durante um mês a ver os outros pegar.

Eu conheci o Nuno Salvação Barreto do café Monte-Carlo, no Saldanha em Lisboa, era um local onde passavam personagens com carácter e com quem se aprendia alguma coisa.

Recordo-lhes o episódio que alguns de vocês se lembram que foi o momento em que o Victor Espadinha decidiu fazer greve de fome pelo simples facto de não lhe darem emprego e então propôs-se, dar voltas ao quarteirão onde estava o Monumental, para chamar há atenção dos empresários isto durou apenas um ou dois dias, mas quando ele passava pela porta do Monte-Carlo, estava sempre cada um de nós com um prato de croquetes ou rissóis para que ele se pudesse abastecer, esta era a greve de fome mais bem nutrida que vira até então e a maior parte das pessoas ficaram convencidas que a mesma era verdadeira, até que um dos empresários lhes deu emprego.

Coisas passadas que tiveram a sua graça, não ofenderam ninguém e os objetivos a que se propuseram foram alcançadas, mas existem muitos mais episódios como estes, Lisboa está cheia deles.

Henrique Pratas

 

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