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HISTÓRIAS – XXXI

11-10-2019 - Henrique Pratas

Penso que não partilhei convosco a “aventura” que era ir há Costa da Caparica antes de existir a Ponte 25 de abril.

Tinha que se apanhar o barco em Belém para a Trafaria, isto era saboroso apesar de não ser rápido as pessoas usufruíam do prazer que a natureza lhes proporcionava.

Só o entrar no barco para um miúdo de 11 anos já era um grande passo, passava de uma plataforma estável para uma mais instável, que era a embarcação e nos dias em que as ondas estavam mais agitadas melhor a adrenalina era maior.

Nesse tempo e na época de Verão os barcos andavam cheios, mas era um gosto poder fazer aquela viagem, para se poder usufruir da praia tínhamos que nos levantar muito cedo, mas valia a pena.

Chegados há Trafaria tínhamos duas hipóteses para aceder às praias ou íamos a pé quando a maré estava vazia o tínhamos um autocarro que passava pelas diferentes praias que existiam até há Costa da Caparica, naquela tempo, antes de lá colocarem os silos e os quebra-mares.

Recordo-me que quando a maré estava vazia caminhávamos pelo areal, carregados com tudo o que era necessário para passar um excelente dia de praia, mas como a maré estava vazia ia-se apanhando conquilhas para o petisco.

Pode-vos parecer estranho mas quando a maré estava vazia podia ir-se ao Bugio praticamente a andar, porque tínhamos apenas que caminhar sobre a areia e chegados perto do Bugio existia uma pequena quantidade de água que se ultrapassava sem que fosse necessário saber nadar, a condição necessária era apenas saber andar, com água pelo peito.

Fiz estas “viagens” várias vezes, tantas foram as vezes que ia para as praias da Costa da Caparica, que para quem se recorda eram muitas até chegar mesmo ao centro.

Por exemplo logo na Trafaria existia a da Trafaria, logo a seguir a Cova do Vapor, depois a de São João da Trafaria, depois a da FNAT hoje INATEL, logo a seguir a do CCDL (Clube de Campismo e Desportivo de Lisboa) e outras mais que a minha memória já não consegue reproduzir.

A minha preferida era a da FNAT era a maior tinha mais rapaziada nova com quem se podia brincar e saborear o Sol entremeado com uma “escapadelas” para dentro da mata que existia para nos proteger do calor quando este era muito forte.

Eram bons estes tempos, era difícil chegar às praias, mas por outro lado era mais prazeroso pelo esforço que era exigido, mas como contrapartida podia-se usufruir do cheiro da maré que soprava de forma lenta e impregnante nas narinas de cana um de nós, mas enquanto caminhávamos tínhamos ter cuidado com uma coisa que era a intensidade do Sol.

Havia dias em que ele não se fazia sentir porque os dias estavam nublados e até nos sabia bem aquele calor aconchegava-nos o corpo do frio que a névoa que caía nos nossos corpos se fazia sentir o pior era a meio da tarde ou ao final do dia aí vinham os escaldões que não nos apercebíamos que a incidência do Sol com as nuvens encobertas que nos sabia bem, nos causavam os malfadados escaldões que nos impossibilitava usar qualquer tipo de roupa, picava como dizia-mos na altura. O que nos valia ao tempo era o creme Nívea que após algumas utilizações nos deixava movimentar mais há vontade.

Aliás a utilização deste produto tornou-se obrigatório quando iniciávamos as caminhadas da Trafaria até há praia onde nos pretendíamos instalar, era o que havia e desta forma nunca mais ocorreram escaldões.

Importa aqui falar do regresso, que como devem de imaginar era penoso depois de um dia de praia gozado há maneira. Eu não vos escrevi mas ao tempo utilizava-se muito a figura do farnel, que dava para o almoço e para o lanche.

O pior era sempre a altura do almoço porque depois de comermos não podíamos ir para a água e como o calor apertava tínhamos que nos refugiar nas matas que existiam com pinheiros e árvores de outro tipo que nos proporcionavam uma sombra bem saborosa e simultaneamente nos ajudava a passar o tempo necessário para podermos voltar há água.

Aqui abro um parenteses para lhes recordar a existência de camas baloiço que se atavam em cada uma das extremidades às árvores e se fazia uma soneca bem boa, que nos ajudava a repor energias para usufruir na altura certa dos banhos de mar.

Mas como lhes escrevia não há bela sem senão e esta acontecia normalmente ao final do dia quando tínhamos que regressar quer fosse a pé pela areia quer fosse de autocarro, aqui as coisas eram mais difíceis porque estávamos cansados e tínhamos que carregar tudo o que se tinha trazido na ida, aqui sim era doloroso, mas nada que não se fizesse com o mesmo prazer.

Na Trafaria lá estavam os barcos para nos trazerem para Lisboa (Belém) e onde alguns se atreviam a saltar diretamente da plataforma a descoberto do barco para a plataforma onde atracavam.

Isto só se fazia porque a saída era lenta e havia “rapaziada” que queria ir apanhar o elétrico ou autocarro e não queriam estar há espera tanto tempo. Este atrevimento criava nos mais novos a vontade de fazer a mesma coisa, experimentei algumas vezes, porque naquele tempo temos agilidade e atrevimento que baste para concretizar uma coisa que não se devia fazer porque bastava a plataforma onde os barcos atracavam estar um pouco molhada para ser a morte do “artista”, aliás os marinheiros e o mestre da embarcação chamavam há atenção das pessoas para que não o fizessem, mas como quando somos novos não pensamos nas consequências vá de mostrar a nossa destreza e bravura.

Vá lá que não me lembro de ter acontecido nada de mal, mas o risco era grande.

Nos dias de hoje é tudo muito mais simples, mete-se tudo dentro do carro, apanham-se filas enormes e passadas umas horas lá estão as pessoas em cima umas das outras para apanhar um pouco de Sol, no regresso repete-se a mesma dose, simples não é, e qual é o prazer que tiram utilizando este novos meios colocados há nossa disposição?

Henrique Pratas

 

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