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HISTÓRIAS – XXIX

27-09-2019 - Henrique Pratas

Estávamos em pleno 10 de junho, finais dos anos 70 e como sabem todos os meninos e meninas, aqui pelos lados de Lisboa que andassem no ensino oficial, tais como os animaizinhos amestrados tinham que ir ao Estádio Nacional demonstrar as suas habilidades para que que o Chefe do Governo na altura ficasse convencido de que estava bem ao nível nacional em termos de educação física, tinham jovens ágeis, hábeis e com desenvoltura física, o que indiciava, para os rapazes que tinham ali mão-de-obra promissora para alimentar a Guerra Colonial, era mais uma fantochada do regime fascista.

Concomitantemente com esta ação existia uma outra que consistia em escolher os melhores alunos, rapazes, de cada uma das escolas em Lisboa, para frequentarem o Centro de Estudos Ultramarinos e o que era este organismo, era, nem mais nem menos do que um Centro de Formação para os futuros Governadores Provinciais das diferentes Províncias Ultramarinas.

Aprendíamos tudo o que se relacionava com as diferentes etnias das diferentes Províncias Ultramarinas, foi este o esquema que o Estado Português arranjou para dar continuidade há sua presença nos comandos dos destinos das Colónias. Em termos conceptuais não existia outra forma de o fazer o que não contavam era que a “rapaziada” começasse a abrir a pestana e independentemente de aprender o que lhes era transmitido, começou a questionar se esta seria a melhor forma de fazer as coisas, tanto mais que existia uma Guerra, nós tínhamos entre 15 e 16 anos e não queríamos morrer tão cedo, ninguém queria ser carne para canhão, a debandada da frequência destes cursos começou independentemente da PIDE ter a “gentileza” de nos ir apanhar na escola. Quando nos apercebemos disto, alguns de nós começaram a sair da Escola mais cedo, deste modo não eram apanhados na malha e safavam-se a uma tarefa em que não queriam participar. Isto resultou durante os primeiros tempos, porque depois os nossos “transportadores” começaram a ir mais cedo e aí não havia forma de fugir, éramos voluntários há força.

Havia então que arranjar um outro processo para escapar a esta obrigação.

Independentemente do que nos era ensinado ser muito importante e culturalmente importante para o desenvolvimento do nosso conhecimento, o esforço que nos era pedido não compensava, tanto mais que nós entendíamos já na altura que as Colónias tinham direito há sua independência, com esta eles não contavam, porque como “brinde” acenavam-nos com uma viagem de barco nas férias grandes por todas as Colónias. Há primeira vista era aliciante, mas bem vistas as coisas e medindo os prós e os contras, não valia tanto sacrifício, tanto risco e o mais importante era que nós começámos a remar contra a maré isto é a independência das Colónias. Há que recordar que os “eleitos” eram apenas rapazes brancos, para dar continuidade ao sistema colonial.

O que começámos a “praticar” foi a dar respostas incorretas nas aulas que tínhamos, respondia-mos de forma incorreta conscientemente, esta estratégia deu resultado durante algum tempo, depois e porque o “inimigo” não era parvo, estranharam e começámos a apanhar pela medida grande e com a obrigação de repetir por escrito o que tínhamos feito ou dito de errado um número de vezes perfeitamente inusitado, mas como se não o fizéssemos levávamos nas orelhas, não tínhamos alternativa, a não ser fazer o que nos pediam.

Havia que pensar numa outra estratégia, para cobro a esta situação, eu aproveitei uma situação de doença e como chumbávamos por faltas, fui dizendo ao médico que não me sentia ainda bem e protelei a minha incapacidade para voltar a frequentar as malfadadas aulas, até que ultrapassasse o limite máximo de faltas que podíamos dar. Outros companheiros meus fizeram a mesma coisa, entretanto o regime deixou de ter “fonte” de recrutamento, porque eles queriam os melhores e estes deixaram de estar disponíveis.

Contado desta forma parece simples mas ao tempo os contornos que tiveram que se desenvolver não foram nada fáceis porque estávamos a rejeitar um lugar para o qual tínhamos sido chamados pela Pátria, com todo o peso que isso acarretava.

Henrique Pratas

 

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