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Dos milhafres e das outras rapinas

11-04-2014 - Francisco Pereira

Esta semana fomos surpreendidos com uma notícia, que bem revela o estado de surrealismo a que esta fossa séptica, que teimam em classificar de país, chegou.

A história é simples de contar, há uns anos, um idoso, encontrou um milhafre-real (Milvus milvus) de seu nome científico, derreado de uma asa, tratou do bicho e lá o manteve por casa, entretanto alvo de denuncia, o pobre homem é agora alvo de uma coima de 20 mil Euros, por retenção sem licença da ave.

A sempre célere e atenta além de feroz, a Justiça nacional, encarniçou-se sobre o perigoso meliante, actualmente com 82 anos, e afiança que o fero criminoso sénior, um tenebroso pilha-galinhas, no caso pilha-milhafres terá de pagar a dita multa de 20 mil euros, por, de forma ignominiosa ter retido a pobre ave, que caso não fossem os cuidados prestados pelo criminoso decerto estaria há muito a fazer tijolo, acrescente-se que o senhor tem uma lauta reforma de 250 euros e actualmente está acamado.

O atento leitor, decerto que já terá percebido que encaminhamos esta croniqueta mais para o cómico, sem porém, acredite, estarmos profundamente cientes da gravosa conduta desse pilhante milhafrório, que manteve cativa a ave, gastando do seu bolso os cabedais para a tratar e manter em boas condições, pobre homem, que por ser pessoa de bem ora se vê em apuros, terá agido mal em manter a ave, talvez, mas punir uma pessoa assim com tal barbaridade de coima é assunto para ser levado a brincar e só pode ser entendido como piada.

Senão vejamos, quando o assunto toca a outro tipo de aves de rapina, a tal Justiça célere e feroz, prescreve!

Os abutres e os urubus malfazejos que se entupiram até ao cocuruto com a carniça do BPN, do BPP, do BCP e da SLN, cujas traficâncias e negociatas deveriam envergonhar qualquer povo minimamente civilizado, voam por aí impunes, prescritos e até chefes de bando. Traficar com acções da SLN, comprar casas de praia, junto dos amiguinhos corruptos dá, por cá, direito a lugar especial no poleiro e mais carniça para engordar o cu.

Ser abutre neste país, não é o mesmo que ser milhafre, ser dono de abutres é muito diferente de possuir um milhafre de quem se cuidou para não deixar morrer. Resulta portanto que mesmo as aves de rapina em Portugal têm diferenças no trato.

Os abutres e os urubus, velhacos, corruptos e bandalhos, prescrevem. Os pouco cuidadosos detentores de milhafre, esses perigosos criminosos são incansavelmente perseguidos pela célere Justiça e notem que ao que parece o idoso como diz o JN, «…cometeu uma contra-ordenação muito grave, punida com uma coima de 20 mil euros, ao deter, sem autorização, o milhafre-real, inscrito na Convenção sobre Comércio Internacional das Espécie da Fauna e Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção.» «…é acusado de também ter violado Convenção de Proteção da Vida Selvagem e dos Habitats Naturais (Convenção BERNA), punível com 249,39 euros.» Um perigo este homem do milhafre, ainda bem que temos uma Justiça tão boa e tão vigilante.

O mais curioso disto tudo, é que a dita Justiça e o Instituto de Conservação da Natureza, que conseguem aplicar a coima ao pobre homem do milhafre, parecem não ser capazes de detectar quem polui há décadas a Ribeira dos Milagres, que volta e meia se enche de merda, esse um verdadeiro atentado contra a natureza e contra a saúde pública, é mesmo muito curioso, tanto zelo num pequeno nada e tanta inépcia num verdadeiro atentando e genocídio de espécies, curiosidades da Justiça nacional.

Portugal é com certeza um país anedótico, e continuará a sê-lo enquanto coisas destas se passarem, a proporcionalidade é coisa desconhecida, tal como o bom senso e a vergonha, sendo que dessa o mais é a absoluta falta dela como se viu pelas declarações de um conhecido politiqueiro que apenas passada uma década é que se lembrou que questionou o Banco de Portugal sobre o BPN, com abutres desta laia, serão sempre os milhafres a levar a pior!

Francisco Pereira

 

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