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HISTÓRIAS – XXV

26-07-2019 - Henrique Pratas

Nascido em Lisboa, mas criado na maior parte do tempo em Lisboa e os meses de férias no Arripiado, aldeia dos meus avós maternos, não me posso esquecer da primeira vez que desci de um elétrico em andamento. Sim esta era uma prática comum em Lisboa, descíamos do elétrico em andamento e dos autocarros também, porque na altura este tipo de transportes não eram herméticos como são hoje.

Faço aqui uma alusão a quem decidiu acabar com os elétricos na cidade de Lisboa que funcionava a eletricidade e que já naquela altura não eram tão poluentes como outros meios de transportes pelos quais foram substituídos na sua maior parte, quem o fez não esperava que agora as preocupações com o meio ambiente, elegesse os meios de transporte movidos a eletricidade como os ideais para salvar o clima ou o que resta dele. Falta de visão, interesses, bacoquismo não sei o que aconteceu mas o que sei e vejo é que acabaram com a maior parte dos elétricos que existiam em Lisboa, restando apenas alguns para mostrar que na cidade de Lisboa já existiram elétricos, são como coisas raras que perduraram, para demonstrar a sua existência, não entendo todavia porque é que este tipo de transporte, característico da cidade de Lisboa, não foi incrementado, em detrimento de outros tanto mais que agora os “iluminados“ chegaram há conclusão que estes são menos poluidores do meio ambiente do que os outros tipos de transporte, é difícil de entender isto não é?

Provavelmente impuseram-se outro interesse que é o costume por cá.

Mas voltando ao excelente meio de transporte que era o elétrico, característico da cidade de Lisboa, coexistindo mesmo o elétrico operário para aqueles que iniciavam o seu trabalho mais cedo que o habitual por volta das 8 horas da manhã e terminavam mais tarde por volta da 19 horas, existia um bilhete próprio que era mais barato para quem se deslocasse antas das 8 horas da manhã e regressasse a cas depois das 19 horas, cheguei a usufruir deste preço mais barato que era frequentemente utilizado no elétrico que ia para o Cais do Sodré, onde se encontravam vários estaleiros navais e era necessária muita mão-de-obra para que pudessem funcionar.

Mas o que me leva a escrever este texto era o facto de podermos descer em andamento tanto dos elétricos como dos autocarros que eram abertos, isto é não tinham portas e permitiam a quem se transportava neles que descessem mais próximo do local onde pretendiam ficar, porque por vezes as paragens ficavam afastadas desse local e assim sempre se poupavam uns passos e simultaneamente se demonstrava a destreza com que esta manobra era feita.

Lembro-me da primeira vez que experimentei realizar esta manobra, não tínhamos professores ou alguém que nos ensinasse a fazê-lo, fazíamo-lo apenas com a observação dos que já praticavam esta ação. Depois de muito ver quis experimentar, isto aconteceu no elétrico que passava no Largo de D. Estefânia, estavam umas raparigas e eu pretendia chamar-lhes há atenção com esta manobra, se bem o pensei, agi em conformidade, só que não esperava o resultado que me iria acontecer. Saí do elétrico em andamento e havia que fazê-lo inclinado para trás em sentido contrário do movimento do elétrico para que depois com alguns passos para a frente a manobra fosse realizada com sucesso.

Este era o princípio em que deveria assentar este tipo de ação, não sei o que é que me aconteceu, mas quando me coloquei no estribo do elétrico na parte traseira do mesmo, preparei-me para fazer o movimento, saltar, com a inclinação certa para trás e dar uns passos mais acelerados para parar a minha aceleração e voltar ao normal. Quando saltei executei o que tinha visto fazer, mas como nunca o tinha praticado, tinha apenas a teoria, não sei o que é que me aconteceu, mas acho que me atrapalhei com as pernas e caí estatelado no meio da Rua, o elétrico parou, o cobrador-bilheteiro aproximou-se de mim para me ajudar a levantar, com a sua bonomia, e para se inteirar se eu estava bem ou se necessitava de cuidados especiais. Convém aqui deixar claro que ao tempo este tipo de manobra era proibido, não pela empresa mas sim ao nível do Estado, por isso quando a executávamos tínhamos que reparar se existia algum polícia por perto para que não acontecessem males maiores. As raparigas que se encontravam no passeio riram-se a bandeiras despregadas eu fiquei envergonhado, queria dar nas vistas e espalhei-me ao comprido, agradeci ao cobrador-bilheteiro e apesar de ter os joelhos todos esfolados disse-lhe que estava bem e dirigi-me para casa para tratar das mazelas, mas meus amigos é a cair que um homem se aprende a levantar, esta primeira tentativa de fazer aquilo que os adultos faziam com agilidade eu depois desta queda comecei a fazê-lo com a maior destreza, experimentando e inovando as formas de descer dos elétricos e dos autocarros em andamento, umas vezes descia de frente outras descia de costa contrariando sempre o movimento de circulação do transporte onde me fazia transportar.

Os meus amigos em determinadas alturas pagavam-me para ver fazer estas descidas em andamento, porque muitos deles só conseguiam fazê-lo quando os elétricos ou autocarros circulavam a uma velocidade mais branda, eu fazia-o em todas as circunstâncias, tendo muitas das vezes que esperar por eles nas paragens porque eles não se arriscavam e a esta distância confesso-lhes que eles estavam a proceder corretamente e o aventureiro era eu, mas como sempre me saí bem há exceção da primeira vez, nunca mais parei e quanto mais difícil era mais gozo me dava, aqui já não era para demonstrar nada a ninguém era única e simplesmente para testar as minhas capacidades.

Henrique Pratas

 

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