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HISTÓRIAS – XXI

21-06-2019 - Henrique Pratas

Longe vão os tempos em que frequentava a Cervejaria Trindade com os meus companheiros do Curso Comercial que concretizávamos na Escola Veiga Beirão, situada no Largo do Carmo, logo muito próximo de um espaço que nos era muito aprazível e prazeroso.

Ao tempo uma travessa com batatas fritas, que custava vinte e cinco tostões (2,50 escudos), onde nós adicionávamos sal, pimenta e mostarda, dava para um grupo de 4, beber três ou quatro imperiais e que bem que nos sabia.

Eu desde muito cedo aprendi a jogar dominó, cartas e jogos de fortuna com o meu avô materno, ele sempre foi muito exigente comigo e com razão quando se joga dizia-me ele tem que se estar com atenção não pode havei a mínima das distrações.

Aprendi muito com ele a baralhar, tanto as cartas e o dominó, a jogar dados, existem sempre formas de nós sabermos com que jogo é que pretendemos ficar e que “jogo” é que as pessoas com que estamos a jogar ficam, nisto ele ensinou-me tudo e mais uma coisa muito importante é que não deveria ganhar os primeiros jogos, estes seriam sempre para perder. Só entendi este efeito muito mais tarde quando o pratiquei, pois ao perder os primeiros jogos a dinheiro, quem ganhava queria jogar mais e nessa altura começava eu a ganhar e depois não parava mais porque quem estava a perder queria ir atrás do prejuízo e acabava por perder ainda mais e isto era rigorosamente verdade e testado na prática.

Na Trindade não existia ao tempo sala de jogos, mas na Cervejaria Portugália havia num dos pisos uma sala de jogos que naquele tempo se jogava a dinheiro mas às escondidas dos informadores do estado, porque esta prática era expressamente proibida, o vil metal fazia parte integrante desta prática.

Eu por estanho que vos pareça não tenho, nem nunca tive nenhum vício, mas como o dinheiro era parco e naquela altura a festança era muita, havia que arranjar liquidez para satisfazer as nossas necessidades, tínhamos que “arriscar”.

Eu como tinha estes conhecimentos adquiridos decidi arriscar alguns dias e ia para a Portugália, na Avenida Almirante Reis e fazer uns joguinhos, sempre com os ensinamentos do meu avô na cabeça, safei-me ganhei uns dinheirinhos largos que me permitia pagar bifes, batatas fritas e as respetivas cervejas na Trindade.

Eu aprendi a gostar da cerveja preta e era o que bebia, também aprendi ao tempo que a cerveja preta da Trindade era melhor do que na Portugália porque havia menos tiragem e assim sendo a cerveja preta que necessita de um maior período de maturação ficava bem mais agradável, isto são coisas que não se explicam aprendem-se e saboreiam-se.

Esta prática de jogar a dinheiro ao tempo era muito comum, mais do que o desejável e muito menos do que a prática dos dias de hoje.

Éramos 5 que andávamos sempre juntos e passámos por muita coisa na vida, mas recordo-me de um dia termos uns dinheirinhos a mais do que era habitual, fomos para a Trindade por volta das 17 horas e só saímos de lá às 2 horas da manhã do dia seguinte porque os funcionários, educados, nos solicitaram que saíssemos porque queriam fechar o estabelecimento.

Nesse dia de Verão fomos para a esplanada sentámo-nos do lado direito de quem entrava, a conversa foi tanta, assim como os comes e bebes, que os simpáticos empregados arranjaram umas mesas do lardo esquerdo encostado há parede, lado contrário das mesas que ocupávamos para colocar o “vidro”, porque para quem se recorda, existiam três tipos de “depósitos” para servir a cerveja, a girafa, que era 1 litro de cerveja bem medido, a caneca que 0,5 litros de cerveja e finalmente a imperial que era e penso que ainda seja 0,25 litros de cerveja.

Começámos pelas “girafas”, erámos novos, estávamos abonados e já tínhamos praticado alguns treinos que nos davam alguma embocadura para começarmos as hostilidades, avançámos para as girafas, vieram os bifes, as batatas fritas, os croquetes e a cerveja escorreu pelas nossas gargantas até às 2 horas da manhã. Eu já não me consigo recordar da conversa que tivemos e sobre o que falámos mas tivemos conversa para aquele tempo todo, não faltámos ao respeito a ninguém, divertimo-nos, os empregados que já nos conheciam e nós a eles e que ao tempo eram extraordinariamente simpáticos, atenderam-nos de uma forma excecional, em várias situações já não pedíamos nada eram eles que nos traziam as coisas pois sabiam os nossos gostos, enfiam fui uma noite inesquecível.

Quando chegou a hora da “dolorosa”, nós tínhamos dinheiro, mas encarregámos um companheiro para ir fazendo as contas para que não ultrapassemos o “disponível” e não pretendíamos ficar a lavar pratos, apesar de nós na altura nós termos crédito autorizado pelos funcionários, por vezes não tínhamos dinheiro suficiente para pagar a totalidade da conta mas assumíamos a responsabilidade de lá ir pagar no outro dia e cumpríamos, logo eles faziam confiança em nós, tempos em que a palavra, a honra tinham valor.

Mas como eu escrevia quando nos levantámos para pagar e sair olhei para o lado esquerdo e quando vi a quantidade de vidro que estava “depositado” nas mesas para receber os recipientes que utilizámos até me assustei e pensei como é que foi possível termos bebidos tantos litros de cerveja, mas foi a prova estava ali mesmo ao lado.

Tudo isto para vos contar que noutro dia fui lá almoçar com um dos meus amigos e companheiro destas andanças e não gostámos, os funcionários foram de uma antipatia inesquecível, os preços praticados são de arrancar os dentes e o serviço de péssima qualidade, nós só olhámos um para o outro, não preciso dizermos nada pagámos e saímos rapidamente, só na rua é que comentámos um com o outro e desculpem-me a expressão “que grande merda”.

Não sei onde está o erro provavelmente em nós que estávamos habituados a outra “gente” que nos tratava com qualidade e que gostava de fazer o que fazia agora ganham menos, trabalham menos e são de uma antipatia a toda a prova, aprece que nos estão a fazer um favor.

Antes de terminar este meu texto gostaria de partilhar uma outra coisa, no tempo em que frequentei a Trindade existia um alfarrabista que trabalhava ali por perto e todos os dias até ao fim dos seus dias se sentava numa mesa pedia uma garrafa de litro de cerveja preta, uma girafa e tanto há hora do almoço, como ao final do dia quem o queria ver era ali sentado numa mesa acompanhado pelo seu charuto. Nunca soube o nome dele, nós chamávamos-lhe o “bazucas”, ele não era de muitas falas, nunca cheguei a falar com ele, mas até há uns tempos o seu retrato feito a carvão, acompanhado pela medida de 1 litro de cerveja, designado por “girafa” estavam numa vitrina de vidro dentro do estabelecimento, desta última vez que lá estive não reparei tal era a pressa em sair dali não me senti no “meu espaço.

Henrique Pratas

 

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