HISTÓRIAS – XX

14-06-2019 - Henrique Pratas

Tinha chegado a altura de começar o Ensino Primário, não havia outra alternativa e eu não sabia o que me iria esperar.

Como já vos contei eu não era “pássaro” para estar fechado na gaiola e mal sabia eu o que me esperava.

Lá fui no primeiro dia de escola acompanhado pela minha mãe, assim como os outros rapazes, sim porque ao tempo era rapazes para um lado e raparigas para outro.

A minha mãe deixou-me na entrada da escola e assim que entrei foram-me imediatamente ordens para que formasse perto da sala de aulas que me indicaram. Eu muito contrariado lá fui, mas já não estava a gostar muito da coisa. Dirigi-me para a sala que me disseram, já lá se encontravam outros companheiros de infortúnio.

Passados alguns momentos de estarmos atrás uns dos outros em fila chega uma contínua que nos arruma por fila e por nome, com a indicação que daí para a frente a ordem de formar a fila seria sempre aquela e que só poderíamos entrar na sala de aulas depois do professor entrar. Achei tudo aquilo errado mas não podia fazer nada a não ser sujeitar-me às regras impostas.

Como sempre vivi “solto” e sem imposições comecei a sentir-me preso, mal sabia eu o que me esperava.

Nesse dia esperámos e o professor como chegou tarde já estava farto de esperar fora da sala de aulas e a fila começou a desorganizar-se, mas a contínua incumbida daqueles poderes e de outros, pegou num ponteiro e não se fez rogada, alinhou logo a fila com umas ponteiradas em cima da rapaziada, eu pensei logo para primeiro dia, isto está a correr muito bem.

Chega o professor e só uns minutos depois, nos começa a chamar pelos nomes por ordem alfabética e nos indica o lugar onde nos devemos sentar.

Fiquei perto da janela, não era mau sempre dava para arejar as vistas há socapa, pois se fosse apanhado pelo professor sobrava castigo e a régua trabalhava nas minhas mãos, uma estupidez achava eu pois com a minha personalidade eu não iria mudar a minha forma de ser e assim foi durante os 4 anos em que lá andei, nunca deixei de ser quem era e de colocar todas as dúvidas que entendia, algumas não tinham resposta imediata mas o problema não era meu.

Este meu texto visa dar-lhes conta do que foram os meus dois primeiros dias de aulas, o meu conceito de escola não era o que esperava, estava habituado a andar há solta, andar em liberdade quer em Lisboa quer no Arripiado, estar fechado não era para mim, assim nos dois primeiros dias de aulas fiquei agarrado há porta da sala de aulas, aos pontapés, porque não queria estar tanto tempo preso, no primeiro dia chorei que nem um desalmado agarrado há porta e como não me a abrissem passei o dia de aulas aos pontapés há mesma, mas ninguém me ligou, a não ser receber como “prémio” de bom comportamento o ficar fechado dentro da sala de aulas, enquanto os meus companheiros se divertiam no recreio. O dia de escola acabou, mas como estava contrariado, tinha que fazer das minhas, para ficar aliviado há saída peguei numa pedra e sem que ninguém desse por ela parti três vidros com uma pedrada só, mas ninguém por isso, que no dia seguinte quando eu entrava para a escola me disse que eu tinha partido 3 vidros e eu com ar de santinho contrariei a afirmação, mas com vontade de a minha “luta” continuar e lá passei o segundo dia agarrado há porta, porque não queria estar tanto tempo fechado.

Não ganhei nada, apenas manifestei a minha vontade e aquilo que entendia dever ser uma escola, um ambiente aberto e não fechado, pois para mim o quem fazia sentido não era desenhar há vista ou ver os objetos, animais e monumentos nos livros era muito mais aliciante vê-los ao vivo e a cores.

Esta foi a minha primeira guerra perdida pois ao terceiro dia já estava a alinhar e a comportar-me como os outros não tinha outra alternativa e assim permanece até aos dias de hoje.

Mas resta-me a curiosidade de saber quem é que inventou isto, alguém souber, por favor responda-me.

Henrique Pratas