A Sala de Aula

04-04-2014 - Francisco Pereira

A conhecida investigadora Maria Filomena Mónica, publicou através da Fundação Francisco Manuel dos Santos, dois excepcionais trabalhos de análise do actual estado de miserável da Escola Pública, neste país miserável.

Ao primeiro título chamou a autora “Sala de Aula” e a um outro “Diários de uma Sala de Aula”.

A autora, descreve de forma leve e empolgante o labor diário das escolas públicas em Portugal, e dos seus principais autores, numa escrita cativante a que nos habitou, sempre sustentando com dados as suas afirmações, MFM, dá-nos um quadro extraordinário do estado actual da Educação neste paraíso de imbecis que teimamos em chamar país.

Ao ler os dados e as experiências que MFM, colocou nas folhas daquelas obras, é com dó e com raiva muita raiva, da classe política que se fica. Ao chegar ao fim dos livros suspiramos quase de alívio por não estarmos confrontados directamente com aquela realidade.

As obras desta autora a que nos referimos, deveriam ser tidas como de leitura obrigatória, para muita gente, especialmente quem desconhece o que é a Escola Pública, o estado de degradação a que a votaram e continuam a votar, para acelerar a sua completa destruição. Em primeiro os pais deveriam ser obrigados a ler estas duas obras, aliás as associações de pais, coisas que sinceramente não entendemos que préstimos possuem, tem aqui excelentes pontos de partida para discutir a Educação e que escola querem para os filhos. Depois a leitura destas obras deveria ser obrigatória para todos os politiqueiros néscios, e os muitos que por aí existem, para aprenderem algo sobre Educação, para todos os ministros e aspirantes a ministros, para autarcas e demais ineptos que estraçalham a Educação sem dela saberem sequer o nome, o actual governo prepara mais uma inenarrável idiotice, passar as escolas para a alçada dos municípios, continuo a perguntar, e já perguntei a muita gente, onde estão as pessoas com formação em Pedagogia e em Educação nos municípios?

Podemos claro está, apontar algumas temáticas que estão em falta nestas duas obras de MFM, o que não lhes retira nenhum do mérito e interesse, ainda assim gostaríamos de ter visto a perspectiva de outros níveis de ensino, como o pré-escolar ou o básico, sendo certo que muito do que está retratado nestes livros de MFM, é transversal aos outros níveis de ensino, como sejam o excesso de burocracia, as papeladas inúteis, os projectos inúteis as festas e festarolas e a sobretudo a falta de senso comum.

Teria sido importante ver abordada a questão do pessoal não docente, da péssima qualidade geral e da mais absoluta falta de formação, apetência e competência para desempenhar aquele tipo de cargos, que deveriam ser ocupados por gente com qualificações e formação adequada, claro que falamos de um modo geral, dado que sabemos existirem pessoas qualificadas e com apetência para esse cargo, mas que infelizmente são uma minoria, o mais é o rebotalho rebuscado nos centros de emprego para ocupar o tempo.

O grande valor intrínseco destas duas obras de Maria Filomena Mónica é trazer para conhecimento do grande público a realidade percepcionada e depois sustentada de forma científica da realidade das escolas públicos neste miserável país, trazer essa realidade a todos os que dela não fazem a mais pálida ideia, alguns dos problemas retratados já existiam há 30 anos, os gangues, os rufias entre outros são problemas quase intemporais da contemporaneidade, outros a grande maioria são problemas mais actuais, como seja o caso da fraca apetência dos professores para o uso das tecnologias, problema que podemos corroborar dado que num nosso trabalho de investigação chegamos igualmente a essa conclusão.

De facto nestas duas obras está lá tudo, as políticas miseráveis dos ministérios, os professores incapazes, os alunos inúteis os pais ineptos, a brilhante vitória da boçalidade conjuntural de toda uma sociedade que não consegue zelar pelo seu mais precioso dos bens que é a educação.