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HISTÓRIAS – XII

12-04-2019 - Henrique Pratas

Mais uma das minha histórias esta passada no Arripiado. Eu tinha um primo que era uns meses mais velho do que eu ele fazia o seu aniversário em dezembro e eu faço em abril, uma diferença de 4 meses apenas. Devem ter reparado que eu escrevi tinha um primo porque já não tenho, ele morreu há dois anos, também no final do ano e por estranho que vos pareça morreu de uma queda que deu num passeio de Lisboa e bateu com a cabeça no lancil e não acordou mais.

Estes tétricos acontecimentos ocorrem por mais inesperados que sejam podem acontecer com todos nós, ele que fora paraquedista e que fez milhares de saltos nunca lhe aconteceu nada e logo que estava com os pés bem assentes no chão, acontece-lhe o que lhe sucedeu.

Mas voltando há parte boa, nós andávamos sempre juntos, dormíamos junto ao Tejo nas férias de Verão e andávamos sempre a imaginar coisas para fazer, na altura não existiam as playstations os brinquedos escasseavam assim como o acesso a meios de transporte mais ou menos sofisticados, o que tínhamos há nossa disposição eram as pasteleiras, as canas, as piteiras, os barcos de madeira que os trabalhadores dos Caminhos-de-ferro utilizavam para passar o rio para Tancos para poderem ir trabalhar a qualquer hora do dia, sem estarem sujeitos aos horários do barqueiro, pois estes muitas das vezes não coincidiam com as horas a que quem trabalhava no Entroncamento, tinha que exercer as suas funções.

Noites houve em que muitos tinham que passar o rio de um lado para o outro em noites escuras como breu, com nevoeiro e só com o conhecimento e os devidos cuidados conseguiam fazer esta passagem.

Um belo dia uma das pessoas que possuía um destes barcos, que eram pesadíssimos e com pouca capacidade de manobra colocou-o há nossa disposição, ficámos felizes da vida, pois queríamos colocar em prática uma ideia que já há muito tínhamos em mente.

Como lhes referi ao tempo não dispúnhamos de grandes meios para podermos brincar ou colocar em prática as ideias “brilhantes” que tínhamos.

A ideia era colocar uma vela naqueles barcos para que com a força do vento o mesmo se deslocasse com maior facilidade e sem força de braços, mas aqui colocava-se um problema como é que iriamos fazer a vela, pensámos e fomos a um “barracão” onde estavam os panais para a apanha da azeitona e olhámos um para o outro, sorridentes e a pensarmos que a solução estava encontrada.

Se melhor o vimos mais rapidamente o tentámos aplicar, pegámos num dos panais que achámos que nos daria melhores condições para fazer uma vela e vá de o pegar e o estender no chão ao sol para enxugar, mas faltava o “mastro” para colocar no meio do barco onde iriamos atar a vela, mas isto não era problema porque salgueiros existiam muitos e arranjar um “mastro” para fazer dele um ponto fixo para segurar a suposta vela não constituía problema.

Fomos a um dos salgueiros e contámos um ramo que nos parecia ser o adequado para o efeito, cortámo-lo, descascámo-lo e deixámo-lo secar, fizemos as coisas como nós pensávamos que deviam de ser.

Tivemos que esperar um dia ou dois para colocar o panal, mas no entretanto fomos fazendo o furo no meio da travessa que existia no meio do barco onde se sentava o remador e fizemo-lo de acordo com o perímetro do ramo do salgueiro que se encontrava na fase de secagem para ser aplicado.

Tudo pronto e em condições de ser colocado, primeiro colocámos o “mastro” no meio da embarcação para ver se ela se desequilibrava, para podermos corrigir a posição, mas ela não se desequilibrou e nós todos contentes avançámos para o outro passo colocar o panal para fazer de vela.

Chegados a esta fase as coisas não foram tão fáceis como pensávamos, colocar o panal na vertical do “mastro” que tínhamos colocado no barco não foi difícil o mais complicado foi fazer o corte do panal para que tivesse o feitio de uma vela, tipo o das caravelas portuguesas, para se agarrar ao leme e conseguir direcionar de acordo com o lado de onde soprava o vento e fazer andar o barco.

Com maior ou menor dificuldade lá conseguimos fazer o que imaginávamos, agora havia que colocar o barco na água e passar da teoria há prática.

Naquele tempo o Tejo corria com muita força, tinha bastante água e era limpa, colocámos o barco dentro de água, afastámo-nos com a força das remadas para o meio do rio e quando lá chegámos içámos a vela, tudo correr às mil maravilhas, só que nos esquecemos de um pormenor quando içámos o panal, que como sabem era um pano pesado, assim que a ponta chegou ao cimo do “mastro” e com o soprar do vento o barco deu um guinada que voltou o barco e nós obviamente fomos para dentro de água. O pior disto tudo foi como lhes escrevi o Tejo na altura tinha uma corrente forte e começámos a vê-la a ir por água abaixo com uma velocidade dos diabos, como ele não era nosso a primeira preocupação era agarrá-lo e voltá-lo, como conhecíamos muito bem o rio e sabíamos onde é que a corrente corria com menos força, conseguimos aproximar-nos dele e empurrámo-lo para a margem porque aí era mais fácil voltá-lo e tirar a água de lá de dentro.

Com muito esforço e empenho para não levarmos um valente puxão de orelhas lá conseguimos trazer de novo o barco para o cais do Arripiado, com uma série de trabalhadores rurais a rirem-se desalmadamente da nossa figura, mas tudo acabou em bem não nos magoámos e conseguimos entregar o barco ao seu proprietário no mesmo estado em que nos tinha sido emprestado, todo o resto do material utilizado é que foi desta par melhor.

Mas ficou a recordação da concretização de um plano que tínhamos em mente e que depois de o termos concretizado, experimentámos por nós próprios que sem ovos não se conseguem fazer omeletes, restou-nos a força de vontade.

Henrique Pratas

 

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