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HISTÓRIAS – IX

15-03-2019 - Henrique Pratas

Aquando do 25 de abril de 1974, foi criado o serviço cívico, onde os candidatos a entrar na Faculdade durante um ano andaram a prestar serviços há comunidade, para que esta se desenvolvesse em todas as vertentes sociais. Eu calcorreei este País realizando campanhas de alfabetização e na dinamização da leitura do livro, áreas que para mim eram extremamente importantes e enriquecedoras, dado que a dimensão da iliteracia era muito elevada ao tempo.

Fi-lo com muito gosto, como lhes referi, também aprendi muito porque as pessoas comunicavam connosco e ensinavam-me muito do que sabiam só que o seu processo de aprendizagem tinha sido um processo prático e de transmissão de conhecimentos dos antepassados, muitos deles não tinham passado pelos bancos da escola e conhecimentos académicos não tinham, mas tinham uma coisa que hoje desapareceu, educação, valores, respeito e princípios, que também lhe tinham sido transmitidos pelos seus antepassados e eles limitavam-se a colocar na prática e bem o que lhes era transmitido, faziam-no bem.

A sede de saber e de aprender era muita, acompanhada por uma disponibilidade total sem qualquer preconceito, ideia pré-concebida, ou qualquer tipo de desconfiança. Foi difícil, porque os acessos a muitas das aldeias deste País era tortuoso e dificultado por acessos muito difíceis, mas com maior ou menor dificuldade lá se chegava ao lugar onde pretendíamos realizar o nosso trabalho, recordo-me das dificuldades que tivemos em chegar a todas as aldeias da zona Oeste de Lisboa, eramos largados na estrada e calcorreávamos os caminhos mais ínvios para chegarmos às diferentes aldeias, isto pela força do calor era o bom e o bonito, mas a forma como éramos recebidos compensava todo este esforço.

Cansados no final de cada um dos dias, mas felizes pelo trabalho que desenvolvia-mos.

Foi um trabalho muito compensador com resultados muito saborosos, ver pessoas a ler e a escrever, como nunca o tinham feito, foi muito valioso, fiquei na esperança que esta “semente” tivesse continuidade mas lamentavelmente não teve, como podemos observar nos nossos dias. Hoje temos licenciados que não sabem ler nem escrever, ou quando o fazem, fazem-no com erros, andámos para trás ou são os sinais dos tempos?

Não vos contarei nenhuma história em particular, porque me é difícil eleger e distinguir entre os casos que me caíram em sorte, mas uma coisa eu vos posso escrever, foi altamente gratificante, dado o interesse e o empenho das pessoas, foi uma época em que fui extraordinariamente feliz porque ao tempo entendia que estava a construir alguma coisa de bom e que se projetasse no futuro.

Lamentavelmente decorrido este tempo todo, enganei-me, mas não me arrependo do trabalho que desenvolvi, porque durante esse período de tempo fui feliz, ajudei pessoas a ler e a escrever, foi muito gratificante e teria sido muito mais se fosse dada a devida continuidade ao trabalho desenvolvido, mas alguém decidiu que não era importante dar continuidade a este trabalho e ele morreu por si.

Entretanto foram criadas Universidades Privadas, pagas a peso de ouro onde se conferem graus académicos, sem que que saiba o mínimo indispensável, mas como pagam propinas elevadas, estas por si só conferem direito a um nível académico. Passámos do 8 para o 80, de acordo com as estatísticas deixamos de ter uma taxa de analfabetismo muito reduzida, em contrapartida temos licenciados e possuidores de outros graus académicos, sabe-se lá como, que não sabem nem ler, nem escrever, foi assim que decidiu quem mandou no Ministério da Educação.

Privilegiou-se o Ensino Privado em detrimento do Público, hoje grassam os analfabetos graduados.

Escusado será escrever que na minha opinião o Ensino deveria ser Universal, tendencialmente gratuito para todos e Público.

Como podem constatar para ser feliz não é preciso muito.

Henrique Pratas

 

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