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HISTÓRIAS – VIII

08-03-2019 - Henrique Pratas

Das histórias que vos tenho contado há uma que considero inesquecível, como todas as outras, mas esta em particular. Nós todos os anos fazíamos uma visita de estudo a Évora, a Escola Comercial de Évora, não sei lhes explicar os motivos mas todos os anos esta “visita” era feita era como se fosse uma promessa.

Na altura teríamos os nossos 16 anos e era uma turma composta por rapaziada muito fixe alguns deles comentadores políticos e desportivos da nossa praça que tiveram que desaparecer da nosso País para não cumprir o serviço militar obrigatório, andaram por esse Mundo, mas alcançaram o seu sucesso, fazendo aquilo de que gostam.

Mas numa bela “visita” a Évora, como lhes descrevi o desatinanço começava assim que chegávamos à Escola em Évora, porque ao tempo na nossa escola só existiam rapazes como mandava o Governo de então e em Évora a Escola já era mista.

Assim quem lá chegávamos era ver quem é que “conquistava” a rapariga mais bonita e agradável, próprio de quem não tinha raparigas na Escola que frequentava e às vezes não o faziam da melhor maneira, enfim sinais dos tempos.

O almoço para quem queria era na Escola, para quem não gostava de cantinas como eu íamos aos restaurantes de Évora.

Aqui convém recordar uma situação em que eu estava completamente aflito, informei o meu pai que iria a Évora numa visita de estudo e que precisava de dinheiro para o almoço. Ele em vez de me dar dinheiro dá-me um cartão colocado a preceito dentro de um envelope e diz-me, assim que forem horas de almoço diriges-te a um restaurante “Geão” e apresentas este cartão. Eu nunca gostei destas situações mas como não tinha alternativa tive que proceder como o meu pai me tinha dito. Não conhecia o Geão, nunca lá tinha ido e não fazia a mais pálida ideia onde era.

Chegada a hora de almoço, lá perguntei onde ficava o restaurante, disseram que ficaram perto da Praça do Giraldo, dirigi-me para lá e vi-o logo. Como nunca fui atrevido ia aflito, tinha um cartão apenas na mão, não conhecia ninguém e queria almoçar, mas como nunca fui enrascado, muito receoso e de forma educada abri a porta do restaurante, fui atendido por um empregado, disse-lhe que queria falar com o senhor Geão, ele lá veio e eu entreguei-lhe o cartão. Leu o seu conteúdo e o tratamento não poderia ter sido melhor, deu-me à escolha a mesa, o que me deixou sem jeito, mas lá escolhi uma e o repasto começou comi do melhor que havia e com todos os requintes, mas estava sempre receoso pelo final do almoço e consequente conta, pois dinheiro não havia. Como lhes escrevi comi muito bem e experimentei de tudo o que me foi sugerido e fiquei a conhecer coisas que nunca tinha comido, enfim alarguei o meu conhecimento gastronómico de forma soberba, mas o pior estava para chegar, o pagamento da despesa, o meu pai não me tinha dado conhecimento do conteúdo do envelope.

Chegado ao final e sabe-se lá como dirijo-me ao senhor Geão e pergunto-lhe quanto lhe devo e ele com um sorriso do tamanho do Mundo que me deixou completamente aflito, disse-me que não era nada, que depois acertava contas com o meu pai. Senti um alívio tremendo e ala que se faz tarde, fui ter com os meus companheiros de viagem e quando me diziam o que tinham pago para almoçar, ouvi-os, calei-me, porque cada um estava convencido que tinha gasto menos do que o outro, depois de alguma conversa, disse-lhes:” Pois a mim só me custou dizer, muito obrigado”, ficaram completamente lixados e perguntaram-me onde tinha ido, disse-lhes e a resposta não demorou tu foste ao restaurante mais caro de Évora e não pagaste nada? É verdade disse-lhes eu, questionaram-me como tinha conseguido isso, mas a quem muito quer saber pouco se lhes conta.

Como havia uns cobres disponíveis juntámos o dinheiro de todos e fomos comprar uma garrafa de vodka, escondemo-la dentro do autocarro que nos traria de volta para Lisboa e assim que a viagem se iniciou a trupe do costume sentou-se no banco de trás para que ninguém desse pelo que estávamos a fazer, isto é a beber o conteúdo da garrafa de vodka, sei que poucos minutos de termos saído de Évora o líquido já desaparecera, bebemo-lo puro, ora isto para quem não estava habituado a beber, foi o bom e o bonito. Um dos meus amigos e que hoje vive nos Estados Unidos da América, sofria de asma e bebeu tanto ou tão pouco, que quando chegámos há reta do gado bravo, queria fazer baldeação, pedimos ao motorista para parar o autocarro e assim que abrimos a porta de trás, aí vai o meu amigo pelas escadas abaixo só parando na vala de água que corre junto há estrada. Era de noite nós cá de cima não o conseguíamos ver, ficámos aflitos mas um de nós, decide descer há vala de água e lá estava o nosso amigo encharcado até aos ossos, mas muito mais aliviado, mas para o trazer para cima foi o cabo dos trabalhos, porque ele não dava jeitinho nenhum era um peso morto tal era a “cadela”. Lá conseguimos, o motorista do autocarro estava fulo e nós preocupados com ele porque ele tinha asma e estava completamente encharcado. Trocámos-lhes alguma roupa e com os nossos casacos tentámos que ele não arrefecesse mais, pedimos ao motorista que tomasse a autoestrada para Lisboa, pois era o trajeto mais curto para chegar aos Olivais local onde ele morava. Há sua espera estava o pai, tememos o pior, mas ele comportou-se muito bem, dizendo-lhe apenas “estás bonito, estás”, mas riu-se. Pegou nele e foram rapidamente para casa para que trocasse a roupa e desse umas bombadas pois os ataques de asma já tinham aparecido durante a viagem.

Ficámos preocupados porque não sabíamos desta sua enfermidade, mas ele também a não comunicou a ninguém e adivinhar é proibido, mas o que me recordo é que ele assim que se apanhou com a garrafa de vodka na mão, não mais a largou, bebeu mais de metade do conteúdo da garrafa, o resultado foi aquele que vos descrevo.

Hoje é um ilustre comentarista politico internacional que teve que abandonar este País por causa de uma Guerra que não era a dele.

Henrique Pratas

 

 

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