Edição online quinzenal
 
Segunda-feira 8 de Setembro de 2025  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

HISTÓRIAS – VII

01-03-2019 - Henrique Pratas

Como lhes tenho contado os meus pais nunca quiseram que eu conhecesse ou soubesse as coisas apenas através dos livros, por isso quando o meu pai tinha tempos livres levava-me a diferentes locais do País e fazia-me o que na altura considerava de muito aborrecido e que era de me perguntar quais eram os monumentos, rios ou características geográficas por onde passávamos, isto para um miúdo de 7 anos era uma chatice, hoje reconheço que foi a melhor forma de conhecer e de aprender o que me era carregado pela boca e nos locais ao vermos o que quer que fosse havia um outro fator que não nos era falado nas aulas que era o meio ambiente, as pessoas. Estas eram determinantes para caracterizar uma determinada região ou local, elas eram o fator mais importante para caracterizar uma região, através dos seus usos e costumes.

Desde muito cedo me foi incutido esta maneira e forma de estar, falar apenas daquilo que eu via com os meus próprios olhos e não sobre aquilo que me contavam, e assim me mantive ao longo da minha vida, penso pela minha própria cabeça e falo sobre o que eu vejo e não sobre aquilo que querem que eu fale sem saber.

É certo que esta maneira de ser e de estar me tem custado muito ao longo da minha vida, mas dá-me uma tranquilidade enorme, porque não sou incoerente e não falo ou me pronuncio sobre o que não sei.

Foi assim que o meu pai me levou a primeira vez a Paris, teria 11 anos, entrei na cidade da luz e vi tudo o queria ver de tal modo que quando entrei de novo em Lisboa me queria ir embora porque senti que estava a entrar numa cidade que não tinha luz, estava completamente às escuras, cinzenta, suja e fria.

Esta abertura que me deram veio-lhes a custar muito caro, uns anos mais tarde, por volta dos 16 anos, eu tinha o meu grupo de amigos e dado que existia a Guerra Colonial e ninguém queria morrer numa Guerra que não era a sua e porque queríamos ver muita coisa que não se passava cá, bastava que um de nós dissesse que: “ Vamos a Paris”.

Como mandam as mais elementares regras de solidariedade, de camaradagem e de “loucura” concordávamos todos com a ideia e lá apanhávamos o SUD- EXPRESS, direitinhos a Paris, sem passaporte e na fronteira entre Portugal e Espanha era o bom e o bonito. Assim que os Pides entravam no comboio para fazer a revista nós saltávamos todos para fora dele e escondíamos-mos nos espaços mais imagináveis, mas o que era importante era que não fossemos apanhados e escapámos de todas as vezes, cimentámos desta forma que era possível fugir de Portugal para escapar há Guerra Colonial. Assim que os Pides, saiam do comboio entrávamos nós, às vezes já com ele em andamento mas entrávamos, para seguir viagem até ao nosso destino, tudo isto para podermos usufruir de filmes, espetáculos e de outras vivências que em Portugal eram absolutamente proibidas.

Eu tinha uma particularidade, para descansar os meus pais quando o comboio parava em Vilar Formoso, ligava para casa a informar que não se preocupassem que eu ia a Paris e que logo voltava, como se isto fosse assim tão fácil, mas fizemo-lo por várias vezes, motivados pela sede de ver coisas novas e com a vontade de assumir o risco de demonstrar aos Pides que eles não estavam preparados para nada pois uns simples gaiatos conseguiam passar-lhes a perna, a adrenalina aumentava significativamente assim como o medo de sermos apanhados mas o motivo que nos levava a cometer esta prática era muito aliciante.

Não quero deixar de vos dar nota de que contávamos com a cumplicidade dos revisores que nos ajudaram muitas vezes e que nos facilitavam a vida sem que corressem riscos pois para eles era o seu posto de trabalho que estava em causa, mas ajudaram-nos e muito.

Esta “aventura” durava pelo menos dois a três dias, mas recordo-me que os dias eram vividos intensivamente, como se fosse o último, passando por situações completamente inenarráveis, mas perfeitamente aliciantes e enriquecedoras para o nosso crescimento enquanto seres humanos.

Sentimos ao vivo e a cores aquilo que os portugueses que tinham optado por “fugirem “ há Guerra sentiam, a saudade, a vontade de mudar o atual estado de coisas em Portugal e o que tinham que fazer para sobreviver, o espirito de acolhimento aos recém chegados era o mais acolhedor possível, dentro dos condicionalismos possíveis, mas ninguém ficava sem “guarita”, havia espaço par todos e se alguma fez vi um espirito de união tão grande foi aquele, não se olhavam a opções politicas o que quer que seja o objetivo era um único apenas, voltar a Portugal e mudar o regime existente e nesse sentido congeminavam-se todas as formas e processos para que isso acontecesse. Existia uma objetivo único o derrube do regime e a constituição de uma sociedade democrática que não esta.

Henrique Pratas

 

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome