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HISTÓRIAS – III

25-01-2019 - Henrique Pratas

O nosso tempo de vida é tão curto que enquanto por cá andamos ou vivemos ou sobrevivemos e nunca vimos a saber o que de facto é viver. Assim na senda de outras histórias reais que já partilhei convosco, tenho mais outra que teve como palco a nossa região do Ribatejo.

Num dos dias que nos calhou em sorte ir aos escritórios da empresa em Torres Novas, porque isto de fazer a gestão das pessoas atrás da secretária não era connosco e como existia ainda uns resquícios de caciquismo e a aplicação do acordo coletivo de trabalho era necessário que fosse coordenado em todas as regiões do País, nós íamos com alguma frequência aos Centros Operacionais.

Nesse dia em que fomos a Torres Novas e já lá vão uns anos largos, dado que isto se passou em meados dos anos 80 ainda Torres Novas não tinha um Hotel e como normalmente ficávamos de um dia para o outro, porque gostávamos de sentir o pulso há forma como a gestão das pessoas estava a ser feita ficávamos pelo menos dois dias, para podermos verificar e ajudar a aplicar as normas de execução que tínhamos elaborado, sem qualquer tipo de obediência ao Conselho de Administração, elas tinham sido elaboradas única e exclusivamente com o contributo de todos os técnicos e no entendíamos ser melhor para que a gestão das pessoas fosse eficiente, eficaz e produzisse os efeitos que pretendíamos, isto é que os trabalhadores vestissem a “camisola” da empresa e soubessem qual era o seu contributo para os resultados da mesma, salvaguardando os aspetos dos direitos e obrigações de cada um deles. Foram funções que exerci que me deram muito trabalho mas que conseguimos demonstrar aos mais célticos e a outros “delegados” de partidos políticos ligados ao anterior regime que as pessoas eram capaz de entender e de contribuir para o crescimento da empresa, independentemente das suas opções partidárias, ou outro tipo de credos, porque uma das tónicas que sempre colocámos nestas ações é que as pessoas tinham a liberdade de apresentar sugestões de melhoria, de criticar de uma forma construtiva, o que entendíamos que não deviam fazer eram destruir a empresa que mal ou bem lhes pagava o vencimento. Encontrada esta plataforma de entendimento o tratamento sempre foi cordato mas com divergências, mas sem boicotes. Gerir esta forma de estar e de ser não foi fácil mas conseguiu-se, até que chegou o dia em que os Partidos políticos tomaram conta da Empresa, em particular o PPD/PSD, aí foi o descalabro, a lei da rolha foi imposta e acabou-se com os princípios salutares de partilha que existiam e começou a destruição da Empresa com o intuito de ser entregue ao setor privado, ao preço da “uva mijona”, e assim foi sem olhar ao serviço público que a empresa prestava. Consequência disto, muitos locais, vilas, aldeias deixaram de se ser servidas com prejuízos para as suas populações e pasme-se quem esteve na raiz desta ação são os mesmos que agora dizem que o interior do País tem que ser povoado e desenvolvido economicamente, provavelmente já se esqueceram o que de mal fizeram há uns anos atrás ou simplesmente fizeram aquilo que alguém lhes mandou, sem sequer olhar a meios ou a consequências que se vieram a revelar desastrosas, mas isto ninguém assume, apenas afirmam que o interior está desertificado e porquê questiono eu?

Voltando há nossa ida a Torres Novas, saíamos de Lisboa cedo e chegámos ao destino cedo, trabalhámos o dia inteiro e no final do dia, queríamos desanuviar, pensei em irmos ao cinema, fomos ver o que ia lá e não nos foi apelativo ficar por ali, ao tempo Torres Novas tinha poucas alternativas, aí decidi com o meu amigo e companheiro de trabalho, ir jantar ao Toucinho aí em Almeirim, no tempo em que este o Toucinho que nós conhecemos. Se melhor comemos, melhor bebemos, era Inverno fazia fria e por sugestão do dono da casa bebemos uns cálices de aguardente, para aquecer. Se fosse nos dias de hoje e fossemos mandados parar pela GNR, tínhamos ficado logo presos, mas como as regras não eram tão apertadas por sugestão minha seguimos caminho até à Chamusca aí vimos uma taberna aberta e vá mais uns cálices de aguardente, porque o frio era muito, como o meu amigo é de Lisboa, decidi ir mostra-lhe às 11h da noite onde ficavam as hortas dos meus avós. Estava escuro como breu, mas nestas coisas o meu amigo, viu o andamento com que eu estava e não me disse nada, chegámos às praias e digo eu para ele olha ali são os terrenos onde o meu pai tem a horta com cerca de 3 hectares, ele não se desmanchou e só me disse sim senhor. Como lhes escrevi estava escuro como breu, caia a humidade característica dessa zona quando está o tempo muito nublado, o cacimbo era muito e não se via praticava nada, e nada se via, mas como tínhamos aquecimento central não demos por nada. Acabados de não ter visto nada em vez de voltar para trás dei a volta por Abrantes para regressarmos de novo a Torres Novas. Saímos das praias situadas perto do campo dos paraquedistas no Arripiado, como ainda não havia a estrada nova fizemos a estrada que existia e que passava perto da casa dos meus avós, vá lá que não me deu para lhes ir bater há janela do quarto, porque senão eles iriam pensar que tinham um neto completamente doido.

Ao iniciarmos a marcha para fazer as curvas acentuadas à saída do Arripiado, estava a GNR, que nos mandou parar, aí o meu amigo disse-me não abras a boca, dá-lhe apenas os documentos da viatura que estavam no lado do pendura e que ele mos deu prontamente, assi que o GNR me pediu os documentos, sem abrir a boca dei-lhe os documentos, mas para isso tive que abrir a janela da viatura, que naquele momento era mais um alambique do que uma viatura devido ao cheiro a aguardente. O GNR vi o que tinha tudo o que tinha a ver, não nos mandou sair da viatura, sorte a nossa, e com um sorriso malicioso, indiciador que sabia que tínhamos estado a beber, lá nos disse para seguimos viagem, mas com a recomendação para que tivéssemos cuidado e nós não abrimos sequer a boca nem para lhe agradecer, já um pouco mais à frente perto de Fábrica do Caima, voltámo-nos um para o outro e dissemos, temos que ir beber qualquer coisa já que nos livrámos desta. Só encontrámos uma taberna no Tramagal e lá fizemos nós a nossa penitência, mais uns cálices de aguardente e mais uma conversa com a gente que estava por aquelas paragens. Apesar de tudo o frio apertava, estávamos em pleno Inverno, mas chegados a Abrantes apar tomar o caminho direito a Torres Novas, mais uma paragem técnica para conversar e beber mais uns cálices de aguardente, já que nestas situações não convinha fazer misturas, tínhamos feito esta opção e iriamos cumpri-la até ao fim.

Recordo-me que encontrámos pessoas muito engraçadas e que olhavam para nós com um ar desconfiado há primeira vista mas depois de nos ouvirem, já não nos queriam deixar ir embora, porque gostavam daquilo que conversávamos com eles, mas no outro dia tínhamos que estar a trabalhar e já há muito que tínhamos passado as 24 horas e às 7 horas tínhamos que estar a pé. De Abrantes até há residencial em Torres Novas não parámos mais, quem conduzia era eu, porque este meu amigo, homem que andou no mar, conduzir só em último caso.

Chegados há residencial aterrámos, em não me lembro de ter adormecido em conversa com o meu amigo no mesmo dia mas mais próximo das 7 horas ele também não se lembrava de nada a não ser que tinha dormido toda a noite sem qualquer perturbação. Eu assim que acordei, estava habituado a levantar-me às 6 horas, acordei e está completamente seco, só me apetecia beber uma Larangina C, tomei banho e fui rapidamente a uma pastelaria, na primeira não tinha, fiquei tramado, porque tinha que procurar noutro sítio, mais próximo da estação de camionagem, lá fui eu o mais rapidamente possível para me refrescar interiormente, consegui e já mais bem-disposto voltei há residencial, estava o meu companheiro de viagem aos gritos, “Oh, Henrique tira-me daqui…”, primeiro pensei que tinha acontecido algo de grave, depois ao me aproximar e perguntar-lhe o que se passava “disse-me que não conseguia abrir a porta”, abria- eu por fora, aí surge-me ele já com o banho tomado e refeito da “jornada do dia anterior”.

Ao pequeno-almoço disse-me que tinha gostado muito do que tínhamos visto na noite anterior, obviamente que estava no gozo comigo, nada lhe disse e deixei que ele fosse dizendo o que entendia pois a ideia tinha sido minha e “malandro que é malandro não estrilha muda de esquina”.

Às 7 horas lá estávamos nós a trabalhar até ao final do dia aí de regresso a Lisboa, fiz-lhe uma outra sugestão de irmos à Nazaré comer umas sardinhas. Ele não disse que não e eu rumei à Nazaré, assim que lá chegámos fomos a uma tasca que conhecia e pedi sardinhas, o senhor ainda me tentou dizer que sardinhas naquela altura não era aconselhável, mas como estava com aquela ideia, nem deixei o homem falar traga lá as sardinhas por favor, o homem procedeu em conformidade e trouxe o que tinha as sardinhas pareciam madeira de secas que estavam, o meu companheiro de trabalho batia com as mesmas em cima da mesa e só me dizia “nunca comi sardinhas tão boas como estas parecem madeira de tão rijas que estão”. Quem estava na tasca ria-se a bandeiras despregadas, pois toda a gente sabia que sardinhas naquela altura não se comiam, mas como eu tinha metido na cabeça ir comer sardinhas, a prova estava há vista. Aliás esse meu amigo, quando nos encontramos, ainda me diz: “oh, Henrique que boas eram aquelas sardinhas que nós comemos na Nazaré, lembras-te?”.

A vida é feita destes episódios e de outros que se a memória não me atraiçoar e tiver oportunidade de as partilhar convosco, passarei a escrito, sem esquecer que no meio destes, em termos profissionais fiz algumas coisas de jeito e tentei que este País não tomasse um rumo completamente diferente onde as pessoas fossem tratadas como tal e como setores chave da nossa economia, como a saúde, a educação, a habitação e os direitos e liberdades dos cidadãos não fossem completamente esventrados e abolidos da nossa sociedade.

Henrique Pratas

 

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