Edição online quinzenal
 
Sexta-feira 26 de Abril de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

HISTÓRIAS - II

18-01-2019 - Henrique Pratas

Longe vão os tempos em que eu e um amigo meu, amigo na verdadeira aceção da palavra, vínhamos no autocarro que parava a meio da Avenida da Liberdade, coisa que sempre presámos muito os dois, mas que cada vez está mais longe da forma como a idealizávamos.

Escrevia eu que descíamos a meio da Avenida da Liberdade e íamos beber um pintelho, sim uma bebida preparada não sei com que ingredientes, mas que nos assentava muito bem. Feita esta primeira paragem técnica, descíamos a Avenida até aos Restauradores até aos “Piratas” e aí nova paragem, técnica. Éramos recebidos soberbamente pelo saudoso senhor Simões dono do estabelecimento. Entretanto e há medida que descíamos a Avenida, encontrávamos algumas pessoas que tinham a arte e o saber adquiridos de desenhar e pintar os grandes cenários dos teatros e dos cinemas que existiam no Parque Mayer, na Avenida da Liberdade e nos Restauradores. Como este País deu sempre um “inestimável” valor a estas pessoas que faziam obras de arte inigualáveis a maior parte deles já nesse tempo encontrava-se sem guarida, muitas das vezes os dois contribuíamos com uns parcos 100,00 escudos, que já dava para a cama daquele dia. Ora como fazíamos este trajeto e não somos pessoas de contabilizar ou de fazer alarde desta ação, posso-lhes escrever que o fizemos muitas vezes, não resolvemos nada é certo, mas ao menos tentámos.

Como lhes ia escrevendo chegávamos aos “Piratas”, lá ia mais um “perna de pau”, um “pirata” ou outra bebida que nos apetecesse e muitas das vezes a dose era reforçada porque a sede era muita. O pior era quando tínhamos que ir há casa de banho que ficava no piso superior e tinha-se que subir uma escada em caracol. O pior não era a maior parte das vezes, subir, as maiores dificuldades residiam no descer. Aí sim era preciso uma ginástica digna de um atleta olímpico, as escadas em caracol eram muito acentuadas e muito retorcidas e o esforço para as descer era muito, às vezes hercúleo para que não nos descotevelássemos e viéssemos por elas abaixo, isto nunca aconteceu connosco mas com outra “rapaziada” já bem carregada aconteceu amiudadas vezes.

Esta era a “peregrinação” ou caminho de “penitência” que fazíamos porque passávamos por muitas pessoas e sentíamos o estado em que a população se encontrava.

Um belo dia de Verão em que almoçámos apenas uma sapateira e bebemos o líquido que estava contido em duas garrafas de vinho verde branco fresquíssimo as coisas pioraram, mas tivemos a oportunidade de ver uma coisa que ninguém ou muito poucas pessoas tiveram a oportunidade de ver. Como lhes disse o nosso almoço foi esse e no fina do dia de trabalho apesar de eu viver para o lado contrário acompanhei o meu amigo até à estação de caminho-de-ferro que se inicia no Terreiro do Paço com destino a Cascais.

A “Peregrinação” foi a mesma que vos descrevi, acrescida de umas ginjinhas e de uns “eduardinhos”, isto sem ofensa ao nosso Coordenador, no Rossio.

Começámos a descer a Rua Augusta e tal e qual como Galileu Galilei a meio da Rua Augusta, olhámos para o arco e reparámos que ele se movia, a conclusão foi a mesma tanto de um como de outro, olhámos um para o outro e só pela troca de olhares percebemos que algo não estava bem, era o arco que se estava a movimentar de um lado para o outro, sem que nos tivesse pedido autorização.

Lá continuámos o nosso trajeto sem mais demandas mas sempre que olhávamos para o arco ele mexia-se e aí criámos uma teoria o “Arco da Rua Augusta Move-se”, fomo-nos aproximando do mesmo até que muito perto dele olhámos para cima e lá estava aquele movimento deslizante de um lado para o outro. Com a certeza de que tudo o que víamos era verdade porque os nossos olhos assim o confirmavam, retomámos o nosso caminho até há estação de comboio, passando pela Rua do Arsenal. Atónicos com este “fenómeno” acabado de ser visualizado e confirmado pelos dois encaminhámo-nos para o British Bar, local onde parava o antigo Marquês da Fronteira pessoa de uma enorme cultura e de fácil trato, mas com um volume corporal de grande dimensão. Chegados a este “templo” bebemos mais dois líquidos, contidos em copos que eles faziam e que nunca divulgaram o seu conteúdo, era segredo, foi a resposta que sempre me deram, era o senhor Silva que nos servia. Era uma bebida que assentava que num uma “luva”, suave, saboroso e inigualável, ainda descobri um dos componentes que era o “drambui”, que me foi confirmado os outros nunca os soube. Ora aí chegados e se o Marquês de Fronteira, estava e era fácil de o encontrar, porque estava sempre sentado na primeira mesa do lado direito de quem entrava, ele que já tinha horas de ter chegado dizia-nos por nos sentarmos na mesa dele. Era um gosto independentemente de tudo o que se poderia passar e que as pessoas visualizavam, as conversas que tínhamos com ele eram de uma riqueza atroz, porque possuidor de uma cultura inigualável e utilizava uma linguagem muito simples e cativante para conversarmos, foram inesquecíveis estes momentos, embora o “preço” que pagávamos no dia seguinte era de grande dificuldade, mas a vida é composta destes momentos. Como lhes escrevi o antigo Marquês de Fronteira era enorme fisicamente e intelectualmente e desprendido de qualquer pudor, para quem conhece o local onde está a estátua do Duque da Terceira, ele chegava e parava a sua grande viatura em cima do passeio, porque não tinha paciência para ir há procura de lugar era o empregado que algumas das vezes ia estacionar a viatura ou em alternativa era rebocada pela policia, mas ele não queria saber da viatura para nada, apenas para o transportar para o local o resto não queria saber de nada. Chegou a passar lá dias inteiros e outros em que ficava lá de um dia para o outro, porque no caso vertente para se ter a cesso à casa de banho tinha que se descer umas escadas que não eram largas e como ele era “avantajado” e depois de muitas bebidas, quando ia à casa de banho já não conseguia sair, o que valia é que já todos conheciam a situação e então ele solicitava alguém que fosse ao palácio buscar uma muda de roupa, depois de ter passado a noite na casa de banho que tinha chuveiro e no dia seguinte saía.

Este episódio repetiu-se por várias vezes, mas como lhes escrevi, o que aquele Homem sabia era inigualável e era um gosto ouvi-lo, aprendeu-se muito, porque ele vivia a vida, ajudava quem podia, porque o podia fazer, só que partilhava o conhecimento e as experiências.

Um comentário que ele sempre fazia e perguntava a todos porque é que o Duque da Terceira estava voltado par o rio Tejo e acrescentava, caramba o homem já deve estar farto de ver o rio, não há ninguém que o mude de posição para que ele possa visualizar outra paisagem. A reação da maior parte das pessoas era de espanto e simultaneamente pensava se ele estava bom da cabeça, era o agitador de consciências e provocador ao mesmo tempo, gostava que as pessoas questionassem tudo, isto é que pensassem.

Henrique Pratas

 

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome