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NATAL – FAST

04-01-2019 - Henrique Pratas

Faço notar que nenhum dos “colaboradores” do Noticias escreveram sobre “O NATAL”, eu tinha este texto para enviar para publicação, mas não senti vontade em enviá-lo, tomando a devida nota que ninguém elaborou nenhum texto sobre este tema, decidi contrariar esta tendência, porque provavelmente todos os que dão o seu contributo para o Noticias possam sentir que “alinhavei” em breves palavras.

Tal e qual como a fast-food passámos há muitos anos a ter um Natal do mesmo tipo, provavelmente não será apenas esta quadra serão em todas as datas em que se assinala algo.

As pessoas habituaram-se a comprar tudo o que é desejável e o que não é para a ceia de Natal assim como as prendas compram tudo a rodos sem saber se o que estão a comprar vai agradar a quem a vão oferecer, isto tornou-se numa época comercial.

Longe vão os anos em que na aldeia dos meus avós maternos, eu com os carolos do ilho que se guardavam para acender o lume, fazia o presépio, utilizava os carolos para construir a barraquinha, utilizava o musgo que apanhava nas barreiras e num canto da lareira lá ia eu construindo o meu presépio, com as poucas personagens que possuía ou mesmo as indispensáveis.

Mas existia uma personagem que eu não dispensava era um soldado devidamente ataviado, de louça e não sei porquê ele estava sempre presente numa posição mais alta do que as outras peças, não sei lhes explicar a razão mas lá estava ele no cimo de um monte que fazia de arma ao ombro, como que o controlar o que ocorria cá por baixo. Esse soldado era a minha relíquia, para onde eu ia ele também me acompanhava, penso que foi a minha avó que mo ofereceu quando esteve nas termas das Caldas da Rainha a fazer tratamentos, andava comigo por tudo quanto era sitio, gostava do boneco tinha uma farda como os militares daquela altura cinzenta e um cinto castanho acompanhado da respetiva cartucheira que lhe cruzavam o ombro e se prendia nas ancas também de cor castanha, a arma como lhes descrevi embainhada e com o capacete usado pelo Corpo Expedicionário Português. Não lhes sei dizer o que é que o boneco tinha que era uma adoração para mim, andava comigo para todo o lado como referi, até quando andava de bicicleta metia-o no bolso até que um belo dia cai da bicicleta e ele partiu-se, tentei colá-lo mas nunca consegui que ficasse grande coisa, enfim quando ia para o presépio já não ia com o seu ar imponente, apresentava um ar próprio de quem tinha perdido a sua vitalidade, mas eu teimava em colocá-lo na sua posição. Mas recordo-me que ou mal ou bem o presépio que fazia estava carregado de afeto e com todas personagens que via por aquelas zonas. Os pinheiros eram apanhados no pinhal com o devido cuidado, não se cortava uma árvore que aparentava ter um bom crescimento. Posso escrever que era tudo mais natural, que representava o local onde se vivia e os trabalhos que eram por lá executados.

A partir da altura em que se massificou a feitura do presépio, perdeu-se a capacidade para inventar, já aparecia tudo feito e com o evoluir dos tempos em vez do musgo natural já aparecia musgo sintético, tornou-se tudo muito mais industrial, mais fácil de fazer mas com menos imaginação a funcionar. A maior parte das vezes os presépios refletem uma realidade que não é aquele aonde as pessoas vivem, é uma coisa estranha e cheia de artefactos que não têm nenhuma aderência à realidade e depois é tão simples fazer um presépio, compra-se tudo praticamente feito, em matérias não naturais, plastificadas, velcro e a árvore é uma coisa de plástico apoiada num tripé de alumínio, que suporta supostamente uma árvore verdadeira, mas não o é. Alguns pensarão saudosista, sou, não tenho vergonha de assumir as coisas de bom que ocorreram no meu passado, o presépio e a árvore de natal eram feitos por muitas pessoas, que com o pouco de que dispunham faziam tudo por tudo para construir uma coisa bonita, que levava o seu tempo. Este tempo permitia às pessoas falarem uma com as outras entrosarem-se, trocarem opiniões, “olha lá, não achas que é melhor fazer assim, desta maneira….”, “não, não estás a ver que assim fica melhor…” e assim se ia fazendo lentamente, sem pressas mas com a devida antecedência os preparativos para o natal, onde não faltavam os coscorões, as aze vinhas, o arroz doce, as fatias paridas e outro tipo de doces e bolos característicos, de cada uma das zonas, que se foram perdendo no tempo há medida que as mulheres que os sabiam foram desaparecendo.

É a isto que chamamos por evolução da sociedade, se é vou ali e venho já, é certo que surgiram as questões ambientais que levaram à proibição do corte desenfreado dos pinheiros, com o qual eu concordo, mas poder-se-ia ter feito de outra maneira sem proibir, controlando os abates, se viajarmos por este País fora vimos pinheiros em demasia alguns deles poderiam ter sido abatidos para se manter a tradição, o que ainda acontece em muitas regiões. O aroma do pinheiro é outro completamente diferente, nós tentamos liofilizar tudo ou imitar a maior parte dos aromas que são naturais, mas melhor do que eu sabem muito bem a diferença entre um e outro. Um é natural outro para lá chegarem terão que usar produtos químicos que serão tão ou mais maliciosos para a saúde pública, do que cortar de forma ordenada, controlado e criteriosa os pinheiros para o natal.

A árvore de natal mais linda que tive até aos dias de hoje foi o meu pai que a trouxe da Serra de Sintra, não era um pinheiro era da mesma família mas mais fechado, não sei o nome, mas fiquei espantado com a sua beleza e até a colocar no vaso devidamente acondicionado não deixei que ninguém lhe tocasse. Eu acho que nem antes nem depois, mas este ramo de árvore veio da Serra de Sintra, porque ao tempo os guardas da serra que andavam a fazer a limpeza das árvores como medida preventiva para que não ocorressem fogos no Verão faziam o “trabalho de casa” no Inverno e davam a quem queriam ramos de onde se podiam fazer árvores de natal. Mas como nós não temos meio-termo, ou damos ou deixamos de dar acabou-se com esta prática que a meu ver era mais preventiva do que o que agora se faz e os ecologistas quando se abate uma árvore, aqui d’el rei que se está a cometer um crime ecológico. Há que saber distinguir uma coisa da outra, eu próprio entendo que o nosso País deveria ter mais árvores, vegetação, mas devidamente cuidada, com critério, com a aplicação das técnicas que hoje temos há nossa disposição, onde existe espaço para tudo, para que existam as árvores e os diferentes tipos de arvoredos e em determinadas alturas se façam pequenos abates para quem quer manter a tradição de ter uma árvore de natal verdadeira.

Será que já chegámos a uma altura em que consideramos que a época natalícia que integra a quantidade de “farsas” que ocorrem na sociedade em que vivemos.

Henrique Pratas

 

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