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Os heróis do nosso tempo

07-02-2014 - Carlos Ademar

Hesitei, mas acabei por decidir dar a conhecer uma mensagem eletrónica que me chegou. Naturalmente, para o efeito, cortei todos os elementos que pudessem levar à identificação do autor. Hesitei porque, desde logo, se trata de uma mensagem pessoal e depois porque o ato da publicação pode ser confundido com algum gesto narcísico.

No entanto, com a consciência dos riscos em que incorro, acabei por decidir-me pela publicação por duas razões principais: a primeira prende-se com a humanidade que a mensagem encerra, a ligação terna, comovente até, entre mãe e filho; depois, porque as palavras que vão ler nos dão conta da vida real, da dureza do quotidiano dos mais desfavorecidos desta sociedade. De facto, todos os dias se alarga o fosso que separa pobres e ricos, com o número dos primeiros a aumentar por força do enfraquecimento acelerado da classe média, que deve ser o principal motor de uma sociedade saudável.

Para o atestar, servimo-nos de um mero exemplo que todos conhecem, mas que convém manter à tona do pensamento. Num contexto de contínua redução do consumo interno, por falência do principal tronco da estrutura económica do País, a classe média, e que tem levado à falência de milhares de empresas e aos números astronómicos de desempregados, paradoxalmente, verificou-se em 2013 o aumento de 23% da venda de automóveis de luxo. 23%… Que mundo é este? Que Estado é este? Dá que pensar, mas as conclusões parecem-me óbvias e vão claramente ao encontro do que atrás ficou escrito. Deixo-vos, pois, com as palavras de um jovem português destes tempos.

«Caro Carlos Ademar,

(…) Sempre passei por bastantes dificuldades, e a minha mãe sempre me educou a lutar por tudo aquilo que quero, e foi então que decidi enviar-lhe este e-mail.

Eu tenho 20 anos, e entrei na faculdade este ano. Desde a minha entrada na faculdade, que tenho passado por grandes dificuldades a nível financeiro. A minha mãe trabalha como empregada doméstica, embora seja bastante doente do coração, e se sinta cansada com muito pouco. Eu procuro trabalho constantemente, mas cada vez é mais difícil arranjar emprego. Apesar disso, a minha mãe é uma lutadora. Nunca me deixa desistir de nada, e faz tudo para que me sinta bem. Às vezes nem sei como a compensar daquilo que ela me faz, e no que depender de mim irei cumprir todos os seus sonhos.

É por isto que lhe envio o e-mail. No outro dia, fomos passear os dois a um centro comercial, e quando estávamos na Bertrand, ela pegou no seu livro O Chalet das Cotovias, e comentou comigo que a patroa tinha aquele livro, e que por vezes ela ia lendo algumas passagens, e que o livro era muito bom. Quando a questionei porque não o comprava, a resposta foi simples,

direta, e que me custou bastante ouvir “ Porque tu tens que comprar livros para a faculdade ”. Custou-me porque sei que ela o faz para o meu bem, e por vezes deixa de pensar nela. Eu não tenho dinheiro para lhe comprar o livro, todo o dinheiro que tenho, é-me dado por ela, e é sempre para comprar algo que é mesmo necessário, como tal, gostaria de saber se me pode ajudar, e oferecer um exemplar à minha mãe. Pode ser um que não tenha sido posto à venda, ou que esteja danificado. Tenho a certeza que ela ia adorar, e irá perceber que também eu farei tudo o que estiver ao meu alcance para a ajudar.

Se me poder ajudar, poderá enviar pelo correio (Rua…) ou poderei eu levantá-lo no sítio que lhe for mais conveniente. Gostava imenso que me ajudasse!

Mesmo que não possa, quero que saiba que continuará com dois grandes fãs e seguidores do seu trabalho.

Desejo-lhe o melhor possível, e deixo-lhe os meus sinceros cumprimentos.»

(assinatura)

 

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