Edição online quinzenal
 
Quinta-feira 25 de Abril de 2024  
Notícias e Opnião do Concelho de Almeirim de Portugal e do Mundo
 

GRUNHOS

21-07-2017 - Henrique Pratas

Vão achar muito estranho o título que dei a esta minha crónica, mas o mesmo resultou do facto de ter lido um artigo oriundo do Reino Unido, onde se realizou um estudo com o intuito para avaliar a capacidade de diálogo das pessoas e o seu espirito de iniciativa e os resultados são aterradores.

Socorri-me desta palavra, porque a minha imaginação não encontra outra mas que define o estado a que as pessoas vão chegar se não colocarem de parte a obsessão compulsiva pela utilização dos Iphones, Ipads e outros instrumentos que a tecnologia colocou à nossa disposição para nos facilitar a vida e não para a tornar num inferno, onde as pessoas já não conseguem interagir umas com as outras.

Da pesquisa que fiz sobre o nome do estado a que chegaremos, que não foi fácil encontrei apenas o que vos transcrevo e que que alguma forma vai de encontro ao que pretendo chamar a atenção.

Então por “Grunho” que é uma derivação regressiva de grunhir, substantivo masculino, porco ou javali, pessoa rude ou grosseira.

É nesta última parte da rudimentar definição que eu encontro a minha base de sustentação para poder atribuir ao texto que quero partilhar convosco, pessoa rude ou grosseira é naquilo que nos estamos a transformar, porque interagimos pouco uns com os outros, porque não conversamos o que devíamos falar e a capacidade de iniciativa praticamente não existe porque não é estimulada antes pelo contrário, a subjugação, a falta de opinião ou a concordância sistemática é o que se deseja.

Do que li o estudo realizado, com uma amostra bastante representativa pelas universidades londrinas, concluiu a tendência para as pessoas comunicarem uma com as outras desceu abruptamente chegando a níveis muito baixos entre os 6 a 10% e quanto à capacidade de iniciativa esta é praticamente inexistente, resume-se a uns meros “militantes” que gostam e possuem capacidade de imaginação.

Isto se não fosse grave, não seria preocupante, a tecnologia que se desenvolveu no sentido de melhorar a qualidade de vida das pessoas tornou-se num instrumento de alienação que serve muitos os interesses políticos e do status quo instalado. É isso que vos quero transmitir as pessoas deixaram de ser pessoas, porque não exercem as mais elementares capacidades que lhes foi dada à nascença a capacidade de poder falar, de interagir e de imaginar.

O aparecimento dos meios tecnológicos que surgiram tornaram as pessoas utilizadoras obsessivas compulsivas dos mesmos, deixaram de praticar o exercício da fala/comunicação entre elas, ocorreu uma retração nesta maneira de estar. Este fenómeno é conhecidos de todos vós as pessoas não falam pessoalmente, olhos nos olhos umas com as outras, ou falam por telefone, telemóvel ou por mail, esta prática generalizada concorreu para o estado a que chegámos as pessoas já não sabem falar, pronunciam umas palavras, muitas vezes sem nexo e sem conhecer o significado das mesmas. Quantos de vós já não assistiram a pais e filhos que se sentam numa sala de espera de um consultório ou serviço público e enquanto esperam, em vez de falar uns com os outros, estão a jogar ou a falar ao telemóvel, seja ela mais ou menos sofisticado, ou a jogar na consola de jogos e então pergunto eu onde é que fica a comunicação verbal entre as pessoas?

Não gostaria de chegar a esta conclusão mas a comunicação/informação verbalizada praticamente não existe e caminha-se a passos largos para um analfabetismo, castrador inqualificável. Isto para mim é assustador.

Já hoje em dia temos empresas que nos enviam mails ou mensagens às quais ficamos vedados de responder porque a caixa de correio eletrónica de onde são enviadas não aceitam resposta, ou seja não há direito ao contraditório. Em meu entender as entidades que regulam estas atividades deviam estar mais atentas porque este comportamento viola os mais elementares direitos da Constituição da República Portuguesa e do Código de Procedimento Administrativo. No caso das operadores de telecomunicações existentes no mercado português, NOS, MEO, VODAFONE e outras que possam existir estão a ter comportamentos de dumping, quero eu dizer as pessoas são invadidas por mails, ou SMSs e o direito de resposta está-lhes completamente vedado, a não ser por uma linha telefónica criada para o efeito, mas independentemente do inicio da chamada lhes informarem que a mesma está a ser gravada para efeitos de transação comercial ou para formação dos colaboradores o que é certo é que o cliente não fica com nada na sua posse, a não ser uma mãos cheia de nada. Estamos a trilhar caminhos muito perigosos e cheios de armadilhas onde todos caem sem exceção, isto porquê, pela razão que vos invoquei não existe direito ao contraditório ou seja a capacidade de resposta por escrito.

Estamos a alimentar um monstro que se está a tornar insaciável tendo em consideração a gula e a voracidade que algumas organizações/empresas se instalam no mercado, per deu-se a meu ver a relação cliente prestador de serviços, que no passado existia e as pessoas podiam argumentar, nos dias de hoje foi-lhes retirado sub-repticiamente essa capacidade e por isso nos estamos a tornar numa sociedade monocórdica, incapaz de dialogar e de argumentar, através do mais velho processo de comunicação que é o verbal.

Isto é muito triste mas é a realidade.

Abordando o tema da capacidade de iniciativa, também é letra morta independentemente de nos estarem sempre a bombardear, através de atos políticos, dos meios de comunicação social a fazer apelas à iniciativa a mesma é nos cerceada, assim que apresentamos alguma ideia, dizem-nos logo, “eh, lá espere aí um bocadinho, a iniciativa tem limites que são estes e estes”. Mas o que é isto, questiono eu, apela-se à capacidade de iniciativa, atributo que nós portugueses temos uma capacidade que a meu ver deveria ser mais orientada, sim escrevi orientada e não cerceada, porque a nossa capacidade de imaginação é das mais férteis do Mundo, só que não a cultivamos e a orientamos no sentido de criar uma melhor sociedade.

No estudo que já lhes mencionei, conclui que a capacidade de iniciativa é praticamente nula, porque de acordo com o mesmo, os programas preconcebidos e desenvolvidos pelos designados especialistas fechados em salas de trabalho ou gabinetes leva as pessoas a formatarem um comportamento de apenas saber executar o que lhes é pedido pelo sistema que lhes colocam à frente, logo a restrição à capacidade de imaginação está a ser restringida ao máximo.

Quantos de vós já não se dirigiram a Instituições/Organizações, sejam elas de cariz público ou privado e lhes dizem que não podem fazer nada porque não têm sistema, quantas vezes, isso já vos aconteceu e tiveram que voltar ao mesmo local mais do que uma vez?

A questão que vos deixo então antes de existir sistema as coisas não funcionavam, será que estamos prisioneiros de sum sistema abstrato que desconhecemos por completo, pensem nisto e vejam se não tenho razão.

Em síntese estamos presos por um sistema que não conhecemos e não dominamos, somos dominados por ele, não falamos ou interagimos uns com os outros e a capacidade de iniciativa tende para zero, que raio de sociedade se criou.

Vivemos no País da “GRUNHOLÂNDIA”.

Henrique Pratas

 

Subscreva a nossa News Letter
CONTACTOS
COLABORADORES
 
Eduardo Milheiro
Coordenador
Marta Milheiro
   
© O Notícias de Almeirim : All rights reserved - Site optimizado para 1024x768 e Internet Explorer 5.0 ou superior e Google Chrome