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Gentes da Aldeia dos Afetos

24-02-2017 - Henrique Pratas

A motivação que me leva a escrever este texto decorre do facto de eu poder falar sobre pessoas que apesar de humildes eram dignas, de palavra, de valores que eu apesar de ter nascido nesta grande cidade Lisboa, encontrei na aldeia dos afetos tudo aquilo que não encontrávamos nas grandes cidades.

Foram algumas destas pessoas conforme podem ver na fotografia que vos anexo celebravam a Segunda-Feira da Boa Viagem, em 17 de abril de 1933, numa curta viagem até ao Castelo de Almourol.

Ressalta que não é preciso ter muito para que as pessoas sejam felizes o que é importante é que estejam unidas e as relações entre elas se pautem por princípios e valores que nos nossos dias alguns consideram como indesejáveis e consideram-nos porque ser coerente, ter palavra obriga a um comportamento de verticalidade que não é fácil de honrar, cumprir e fazer cumprir, mas naquele tempo em que eu não era nascido era assim como lhes descrevo eu só mais tarde, pois nasci em 1956, vim a usufruir desses ensinamentos que me foram transmitidos por algumas das pessoas que estão na fotografia.

Alguns de vocês já deve ter notado que faço muitas vezes referências a estas pessoas, não é por acaso, não sou conservador nem pouco ou mais ou menos, mas questiono sempre se o avanço tecnológico que se deu e que em grande parte veio ou deveria ter dado melhor qualidade de vida às pessoas, o designado avanço civilizacional não fez com que as pessoas perdessem qualidades e atributos que tinham e deixaram de ter.

Na minha opinião e sustentada pelo contato que tive com estas gentes que podem ver na fotografia, se repararem bem bastava que existisse qualquer coisa para se comer (sopas de sável) e beber, alguém que soubesse o que bastasse para que fizesse uma música e o baile estava armado até ao anoitecer, depois era o regressar a casa, sem o conforto que há hoje mas em que as pessoas não são mais felizes do que aquelas eram.

Escrevi anteriormente sopas de sável um pitéu, na altura em que o rio Tejo tinha sável com fartura e onde se podia nadar, hoje temos poluição provocada pelas emissões efetuadas pelas celuloses de Vila Velha de Ródão e do Caima em Constância, acompanhado de todos os objetos daqueles que se querem ver livre deles e sem o mínimo de respeito o despejam num rio que deveria ser de todos. Encontramos tudo, máquinas de lavar roupa, bidões, e todos os monos que as pessoas não querem em casa e como não sabem o que lhes fazer, facilmente e sem consciência de qualquer espécie os deitam ao rio.

É desta consciência, deste civismo se quiserem colocar as coisas nestes termos que eu tenho saudades, ao tempo as propriedades não estavam vedadas, mas ninguém se atrevia a mexer no que não lhe pertencia, ai daquele que se atrevesse, para além de lhe acertarem o passo era escorraçado pela prole da aldeia. Nos dias de hoje as propriedades estão vedadas e devidamente guardadas e são assaltadas ou roubadas todos os dias, depois vem a queixa para a GNR, depois segue-se o Tribunal e no fim temos uma mão cheia de nada.

Repito não sou conservador, mas se me perguntarem se gostava mais da relação que havia entre as pessoas há uns anos atrás, refiro-me aos anos 60, respondo-vos imediatamente que sim gostava muito mais. Naquele tempo podíamos acreditar nas pessoas, hoje a maior parte das pessoas são uma desilusão total, aparentam o que não são para passarem por importantes, quando o que é importante é o que se tem dentro da cabeça, o embrulho ou o manto se quiserem, não contam para nada.

Nos dias de hoje a generalidade das pessoas pensam que só têm direitos e obrigações nada, nos tempos que lhe escrevo as pessoas tinham essa condição pelo simples facto de serem responsáveis e terem códigos de conduta perfeitamente claros, com direitos e sobretudo obrigações para com os outros, quanto mais não fosse de não lhe faltar ao respeito.

É com tristeza que lhes escrevo este texto porque entendo que as pessoas não deveriam ter perdido as qualidades que os seus antepassados tinham, aqui comparativamente com o avanço tecnológico, houve para mim um retrocesso, quando deveria um aumento da qualidade de vida e um funcionamento mais harmonioso entre as pessoas, já que o avanço tecnológico veio aliviar a carga de trabalho que as pessoas tinham, ficando com mais tempo disponível para a família e os outros concidadãos, mas não foi assim, apareceram os automóveis e todo o tipo de tranquitanas e as pessoas deslumbram-se e em vez de partilhar e ajudar o “parceiro”, começaram a tentar lixar-se uns aos outros e a questão fica para quê?

Nós quando nascemos a única coisa certa que temos na vida é que um dia mais tarde ou mais cedo morrermos e o mais triste disto tudo é que não sabemos nem o dia nem a hora, e eu volto a perguntar, vale a pena andar a perder tempo com coisas que não têm trambelho nenhum? Houve SMS, cartas, mails ou o que quer que seja, será que não há mais nada de importante para resolver do que saber o que é aquele “menino” fez ou disse. Estas atitudes nem no meu tempo de instrução primária, ou mal ou bem, nós aprendíamos, da pior maneira a assumir as nossas responsabilidades, se não assumíssemos ficávamos todos de castigo.

É assim que eu me sinto apetece-me por uma série de ”meninos” mal-educados de castigo ad eternum, mas deparo-me logo com uma dificuldade não sei se teria espaço para pôr tanta gentalha.

Henrique Pratas

 

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