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Episódios da minha vida (4)

03-02-2017 - Henrique Pratas

A maior parte das nossas visitas de estudo eram sempre a Évora, à capela dos ossos, ao templo de Diana e outros monumentos que porque aquela zona existem. Recordo-me que a primeira vez, situando-me nos anos 70 – 71 lá vinha a primeira visita de estudo, o agradável da visita era também o facto de podermos almoçar ma Escola Comercial de Évora que era frequentado só por raparigas, coisa que em Lisboa era proibida, apesar de a marcação ser em cima de nós, lá lhes trocávamos as voltas e sempre arranjámos um tempo para estar com as nossas colegas em sítios mais recatados, não para fazer nada de especial, apenas para por a conversa em dia e trocarmos umas impressões digitais.

Numa das vezes fomos acompanhados como era condição necessária por um PIDE, quando soubemos ficámos furiosos, já ninguém queria ir, cá o rapaz, pensador diz para os seus amigos e companheiros, não há problema, esqueçam vamos embora que em tempo oportuno trataremos do assunto. Desta vez tínhamos liberdade de decisão para almoçar na Escola em Évora ou para almoçar fora. Falei nisso ao meu pai e em vez de dinheiro deu-me um cartão-de-visita dele e disse para ir ao restaurante do Geão em Évora, eu nunca lá tinha ido e ia um bocado a medo, levava apenas um cartão que nem sequer era ticket restaurante, nessa altura nem se pensava nisso e lá vou eu à procura do restaurante encolhido, com um cartão no bolso, pois não sabia o que me esperava. Descoberto o restaurante, entrei perguntei pelo senhor Geão que por acaso estava no restaurante, aproximou-se de mim e perguntou-me como me chamava, eu respondi Henrique Pratas, ah, és o filho do Pratas, aqui as coisas começaram a ficar melhor já me estava a tratar com mais intimidade, comecei a ficar à vontade, quando ele se volta para mim e me diz escolhe a mesa que quiseres que já te vão servir, ganhei o dia, foi mais um processo de aprendizagem, onde pude verificar que às vezes não é preciso dinheiro para nada, sentei-me fui servido como um lorde e no final fiz aquele papel de saber quanto é que custa o almoço, ele volta-se para mim e diz-me vai-te embora rapaz que as contas não são feitas contigo, mas sim com o teu pai e eu como sou bem-mandado agradeci e vi-me embora, como tinha disponibilidades financeiras pois não tinha gasto dinheiro com o almoço o que é que me lembrei, comprei uma garrafa de vodka e guardei-a, muito bem guardada.

Chegada a hora da partida sentei-me ao lado do PIDE, que normalmente se sentava nos últimos bancos do autocarro, como eu já conhecia a personagem sabia que ele ia reagir bem quando lhe mostrasse a garrafa de vodka e assim foi, mostrei-lhe a garrafa e ele perguntou-me para que era, eu disse-lhe que era para trazer para casa mas se ele fizesse questão tinha todo o gosto em lhe oferecer a mesma. Os olhos deles brilharam e eu lá lhe dei a garrafa para ele a beber, aproveitei para lhe lembrar que a devia beber toda pura até à reta que antecede a entrada na autoestrada, a designada reta da Estalagem do Gado Bravo. O PIDE começou a beber diretamente pelo gargalo durante a viagem e eu a controlar o estado do animal, já próximo da referida reta como ainda faltasse um restinho eu disse-lhe vá vamos embora ainda falta um resto, ele já completamente alcoolizado e já sem saber fazer coisa com coisa, para demonstrar que era homem bebe o resto de um trago só e colocou-se a jeito para fazer uma viagem inesperada, chegados à terá da Estalagem do Gado Bravo, disse ao motorista que abrandasse e se aproximasse mais da valeta, como devem saber ali as valetas são altas e normalmente tem água, como o PIDE estivesse com calor, pois só queria as janelas abertas, porque exalava calor e encostou-se à porta de saída traseira do autocarro e eu muito sutilmente só fiz uma coisa que foi abrir-lhe a porta e ele descotovelou-se e caiu para dentro das valetas que estavam cheias de água, não lhe aconteceu nada a não ser ter ficado lá todo molhado e sujo de lama e eu disse ao motorista para seguir viagem, não esperando por ele. Não sei como regressou a Lisboa, nem nunca mais fomos incomodados quando fazíamos a viagem de estudo, o que é certo é que não sofremos consequência nenhuma e eu ainda estou para saber o que é que se passou e cada vez que lá passo recordo-me sempre deste episódio que me dá uma vontade de rir imensa, mas olho para ver se ele ainda lá está mas não o vejo.

Henrique Pratas

 

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