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A Rede Portuguesa de Museus

14-02-2014

Face ao exposto, chegou o momento de abordarmos o projecto da Rede Portuguesa de Museus e o seu impacto no panorama museológico nacional. Neste Capítulo, descrevemos o projecto da Rede, nos múltiplos desafios que imprimiu no contexto da organização e articulação entre os museus.

Enquadramento conceptual

Considerando as diferentes definições de rede nos dicionários de língua portuguesa, verificamos um elo de ligação entre todas elas enquanto “ malha feita de fios entrelaçados com espaços regulares que formam uma teia”. Ora, esta rede entendida como uma teia traduz-se, em nosso entender, num sistema aberto, de movimentos irregulares e ilimitados, com fluxos constantes de partilha de informação. De entre os autores que abordaram o tema, citámos Fritjof Capra (1996) que se refere a este conceito numa perspectiva social, salientando que “sempre que olhamos para a vida olhamos para as redes (...)” (pp. 77-78). Segundo o mesmo autor, essas estruturas deverão ser capazes de dinamizar fluxos que, articulando-se uns com os outros, serão o garante da sua própria sustentabilidade. (Capra, 1996: 125-130). Nesta teorização sobre o conceito, citámos também Manuel Castells (2000) para quem uma rede é “(...) um conjunto de nós interconectados.” (p. 98)

Estariam, até agora, nas ciências exactas como a Matemática e a Física, os grandes campos de utilização e divulgação deste conceito, porém, o mesmo tem vindo a ganhar, ao longo do tempo, um outro valor no âmbito das ciências sociais e humanas, bem como na reflexão global da sociedade. Assim, ao ter-se tornado numa expressão recorrente e determinante nas diferentes áreas do conhecimento, assumiu-se também como forma de gestão de organizações culturais.

Considerando novamente Castells (2000), este modelo organizacional usa no seu domínio práticas descentralizadoras, mas regradas, com vista a desenvolver outras metodologias de trabalho (pp. 120-145). Da mesma forma, entendemos salientar que este tipo de sistema assumiu, nas diferentes células ou núcleos que o constituem, um sentido de partilha, planeamento e continuidade, na prossecução de objectivos comuns e/ou individuais.

Do ponto de vista da gestão, esta forma revestiu-se de uma importância considerável, por permitir a flexibilização da mesma, isto é, a possibilidade de serem integradas nestas redes, unidades com diferentes níveis de recursos, que apesar de pertencerem a um sistema partilhado de interesses comuns, vêem salvaguardada a sua individualidade.

A implementação de um sistema deste tipo assentará na vontade e na disponibilidade dos envolvidos, que se deverão mostrar activos no bom desempenho de cada uma das instituições que a ela pertencem. O mesmo é dizer que, mais do que em qualquer outra estrutura e partindo do princípio de que esta será uma forma voluntária de organização, os elementos constituintes deverão ser os protagonistas do trabalho, numa atitude proactiva e de procura pela realização dos projectos. Seguindo as orientações de Lameiras-Campagnolo e Campagnolo (2002) o conceito de rede aproxima-se em grande verdade do conceito de sistema, senão vejamos:

“Estas duas estruturas aparecem, pela natureza distinta a um tempo das suas finalidades e das suas fronteiras, como duas classes diferenciadas de organização: - o sistema, dotado de uma fronteira alterável e de uma finalidade concebida parcialmente aquando da sua génese e precisada no decurso do seu funcionamento. Enquanto o sistema pode ser assim sumariamente definido como um conjunto de elementos interdependentes expressamente escolhidos com o fim de responder a uma finalidade global, a rede aparece como um conjunto de elementos (nós e conexões) ‘em construção’, cuja finalidade (...) pode acolher sucessivas alterações pontuais ou eventuais rectificações.” (Lameiras-Campagnolo e Campagnolo , 2002: 26)

Relativamente à aplicação do conceito de rede em contexto museológico, os dois autores consideram também coerente em aproximá-lo da noção de sistema como complemento à

“(…) capacidade organizativa de conjuntos físicos e informacionais. Aproximar esses dois conceitos significa sublinhar as suas afinidades: estes dois conjuntos finalizados são ambos multidimensionais, caracterizáveis pela extensão e pela permeabilidade das suas fronteiras, pelas matérias, pelas formas, pelos estilos e pelas funções das suas componentes internas, pela natureza e pela malhagem das suas interconexões, pelos seus equipamentos, pelas competências e pelas acções materiais, memorizantes e comunicativas, dos seus protagonistas. (...).” (Lameiras-Campagnolo e Campagnolo, 2002: 26)

Numa abordagem de crescente globalização do mundo actual, existiu uma percepção cada vez mais frequente da necessidade de novas teorias organizacionais, que possibilitassem a sustentabilidade dos projectos, nomeadamente no âmbito cultural, pelo deficitário investimento público nesta área. É neste sensível ponto que um sistema com as caraterísticas que temos vindo a enunciar e com as possibilidades que proporcionaria a novos modelos de gestão, poderia efectivamente vir a ter um papel preponderante.

Em síntese, este modelo organizacional, no campo cultural, poderia assegurar a sobrevivência das diversas partes, contribuindo para o seu desenvolvimento através de acções de interacção, integração, discussão, partilha, flexibilização e promoção.

Logotipo da RPM

Fonte: http://www.imc-ip.pt/pt-PT/rpm/ImageDetail.aspx

Milheiro*, Marta (2013) Contributos para uma candidatura à Rede Portuguesa de Museus – o caso do Museu Municipal de Almeirim (trabalho de Projecto para obtenção do grau de Mestre em Museologia).

*Licenciada em História da Arte e Mestre em Museologia pela FCSH - Universidade Nova de Lisboa.

 

 

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