07-02-2014
É difícil ignorar o que tem vindo a ser falado sobre as moedas virtuais (bitcoins) nos últimos dias. A moeda virtual, que possibilita aos utilizadores executar transacções monetárias com um significante grau de anonimato, tem subido de valor, atingindo nesta altura cerca de 650€.
Ainda se seguirão longos debates sobre o próximo passo na evolução das moedas P2P: o eventual armamento das moedas cibernéticas. “Bitcoin” já se tornou favorita entre os ciber-criminosos. Seja no fomento de lavagem de dinheiro, narcotráfico, ou na possibilidade de executar transacções monetárias de forma anónima, via internet, tornando a criminalidade on-line de fácil execução e sem riscos significativos.
O facto de pelo menos 2600 lojas aceitarem “bitcoins”, em todo o Mundo, provocou uma ampla inflação no valor da moeda, facto que atraiu investidores de todo o Mundo com interesse no lucro fácil.
As “Bitcoin” também conseguiram várias imitações, que resultaram em aumentos abruptos do valor da moeda, como é o caso da “Litecoin” – outra moeda virtual -, idêntica à anterior, apenas com várias distinções a nível do software utilizado. Segundo várias fontes, existem mais de 70 tipos diferentes de moedas virtuais no mercado.
A utilização deste serviço anónimo pode ser utilizado para fazer donativos para entidades sem que se deixe rasto, dificultando ou mesmo impedindo acções mais massivas de polícias e dos serviços de informações. Existe uma moeda virtual islâmica, idêntica à “Bitcoin”, também com outras especificações, que permite a doação de uma percentagem de fundos a determinada fundação islâmica. Angariação de fundos e lavagem de dinheiro são os mais óbvios benefícios destes grupos, podendo, inclusivamente, grupos terroristas ou de interesses duvidosos criar a sua própria moeda virtual.
Não é fácil indicar o funcionamento de uma moeda virtual dominada por grupos terroristas, mas um ciber-criminoso pode dispersar uma moeda virtual em forma de vírus ligada a um eventual esquema de investimento. Após divulgar a sua moeda, o criminoso pode dispersar o vírus por todos os utilizadores da “carteira virtual”.
Dependendo do tipo de ataque, o vírus poderia expor a identidade dos utilizadores; neutralizar as suas “carteiras virtuais”; retirar valores das suas contas, ou roubar informações das suas redes. Num caso mais grave, terroristas poderiam infectar seus próprios computadores e contas on-line através da moeda, e dessa forma, aumentar a possibilidade do vírus se transferir para a rede dos clientes virtuais.
A sociedade ocidental utiliza de forma indispensável estruturas ligas a sistemas de computadores inter-ligados entre si. Falamos de “networks”, de “redes”, mas não é simples saber quem e o que está por detrás da capacidade de gerir dados e ajudar na tomada de decisões.
O compartilhamento de arquivos através de software por todos conhecidos, como o “Limewire” ou “eMule”, poderá vir a ser um habitat natural para a dispersão de vírus, tal como as moedas virtuais poderão, no futuro, vir a ser consideradas uma “arma”. A questão não é se, mas quando ocorrerá o primeiro ataque, e quem estará por detrás dele, e qual o impacto de destruição causado?
Prof. Doutor Pedro Simões
Investigador em Segurança e Criminologia UICCC