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A GRANDE SACUDIDELA NO MERCADO DE TRABALHO
Autor: J. Bradford Delong

24-12-2021

Aproximadamente 13% dos empregos de baixa remuneração na Alemanha não seriam viáveis se os trabalhadores entendessem como suas opções externas são boas de fato. Essa é a conclusão de um artigo  recente de Benjamin Schoefer, colega meu aqui na Universidade da Califórnia (Berkeley), e de seus co-autores, Simon Jäger, Christopher Roth e Nina Roussille.

“Ao comparar as opções externas subjectivas dos trabalhadores com medidas objectivas de ganhos salariais de dados combinados empregador-empregado”, notam eles, “muitos trabalhadores acreditam equivocadamente que seu salário atual é representativo do mercado de trabalho externo - empregados objetivamente mal-pagos (ou bem-pagos) são super pessimistas (ou super optimistas) quanto a suas opções externas”.

Traduzindo, a implicação é que, se algo fosse abalar as falsas crenças dos trabalhadores de baixa renda sobre quão pobres são suas opções externas, as condições ocupacionais e do mercado de trabalho mudariam fundamentalmente. O mesmo insight básico com certeza também vale para os Estados Unidos, só que mais ainda, porque o salário mínimo federal americano é muito menor, em relação à produtividade média, que o da Alemanha.

Se alguma vez houve tal sacudida, foi na pandemia de covid-19 e em suas consequências económicas generalizadas. Dados recentes mostram que 3%  dos trabalhadores dos EUA - 4,4 milhões de pessoas - deixaram seus empregos em Setembro. Este índice de demissão mensal não só é notavelmente alto; é inédito, em especial quando se considera que a relação - emprego - para   população  americana ainda é de apenas 59,2%, quase dois pontos abaixo de seu pico de Fevereiro de 2020.

O que está acontecendo no mercado de trabalho dos EUA? Em tempos normais, os números actuais sugeririam que a América está lidando com uma grande escassez de empregos. No entanto, a disposição descomunal dos trabalhadores de deixar seus empregos para procurar coisa melhor indica que estes não são tempos normais.

Existe uma lista padrão de explicações para essa assim chamada Grande Renúncia. Um factor óbvio é o medo de covid-19, em particular entre aqueles que vivem com parentes idosos ou imune comprometidos. Trabalhadores de baixa renda não querem passar várias horas em ambientes do sector de serviços que os obriguem a entrar em contacto próximo com outras pessoas, muito menos com a parcela considerável ainda não-vacinada da população.

Um problema relacionado é a interrupção das creches, o que muitas vezes força ao menos um dos pais a ficar em casa. Muitos observadores também argumentam que os trabalhadores se sentem fortalecidos porque ainda estão abastecidos pelo dinheiro dos programas de auxílio da pandemia. E outros afirmam que os últimos dois anos têm levado mais pessoas a parar para admirar a paisagem, em vez de trabalhar sem trégua num emprego desagradável e de baixa remuneração. (O problema dessa explicação, observa   Paul   Krugman, do New   York   Times, é que a Europa Ocidental, que viveu uma experiência geral parecida, não está passando por uma Grande Renúncia ou depressão na parcela de adultos empregados.)

Um efeito notável da pandemia é que ela tem alimentado uma transformação nos empregos e no local de trabalho que teria levado décadas não fosse pelo vírus, ou sequer teria acontecido. Considere, por exemplo, a mudança generalizada para o trabalho administrativo remoto; a rápida automação de componentes substanciais do trabalho de serviço; ou a transformação do varejo - que exigiu muito mais motoristas de entrega e muito menos vendedores nas lojas físicas.

Essas mudanças estão trazendo uma grande comodidade para muitos consumidores e funcionários. De repente, as ferramentas online estão boas o bastante para ninguém precisar comprar pessoalmente para ter ideia da qualidade de um produto. (E, se o produto entregue não for o esperado, sempre se pode devolvê-lo.) Os sectores afectados por essas mudanças não vão voltar à situação pré-pandemia.

A menos que os funcionários recebam licenças explícitas de seus postos de trabalho, recompor a divisão do trabalho para restaurar o emprego após uma grande interrupção é sempre um processo longo e doloroso. Na década de 2010, o retorno ao pleno emprego parecia vinculado a um limite de velocidade de um ponto percentual ao ano, no mínimo porque a demanda continuava relativamente fraca, à medida que legisladores fiscais e monetários se dedicavam a lutar contra os dragões-fantasma da dívida e da inflação.

Não seria uma boa política económica para a recuperação actual estar amarrada a este limite de baixa velocidade. Uma recuperação rápida exige que empregadores dos EUA ofereçam as melhores ofertas aos trabalhadores de baixa renda que, ao pedir demissão em massa, estão obviamente exigindo isso. A retomada requer a remoção rápida das principais barreiras do lado da oferta para a participação no trabalho: a escassez de creches e o próprio vírus. E exige uma economia de alta pressão, de modo que seja óbvio para os trabalhadores paralelos que há boas oportunidades por aí.

O governo do presidente Joe Biden e a maioria democrata no Congresso devem reconhecer que tanto trabalhadores quanto empresários precisam de muito mais apoio agora do que as empresas americanas padrão conseguem oferecer. A Europa oferece um exemplo promissor. Os EUA precisam de mais deles.

J. BRADFORD DELONG

J. Bradford DeLong é professor de economia na University of California, Berkeley e investigador associado do National Bureau of Economic Research. Ele foi secretário adjunto do Tesouro dos Estados Unidos durante a administração Clinton, onde esteve fortemente envolvido nas negociações orçamentárias e comerciais. Seu papel na concepção do resgate do México durante a crise do peso de 1994 o colocou na vanguarda da transformação da América Latina em uma região de economias abertas e cimentou sua estatura como uma voz de liderança nos debates de política económica.

 

 

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