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DOSSIERS
 
O NACIONALISMO ACTUAL É MAU PARA OS NEGÓCIOS
Autor: Lise Kingo e Scott Mather

12-04-2019

O sistema de cooperação internacional que emergiu das cinzas da II Guerra Mundial está em risco. O multilateralismo e a as instituições que o sustentam – incluindo a Organização Mundial do Comércio, as Nações Unidas, e a União Europeia – estão a ser questionados à medida que mais países aderem ao nacionalismo autárcico, que nalguns casos origina instabilidade política e até conflitos. Então, porque não se aplicam muito mais os líderes empresariais e financeiros no combate a estas tendências perturbadoras?

A história do pós-guerra demonstra que a integração económica global – nomeadamente, o comércio mais livre e um maior investimento transfronteiriço – ajuda os mercados e as sociedades a prosperarem, com a melhoria significativa da saúde, do ensino e da esperança de vida em muitas regiões do mundo. É verdade que a globalização também produziu desequilíbrios sociais importantes, que alimentam o descontentamento popular. Mas rejeitá-la, como cada vez mais pessoas fazem, ameaça o próprio sistema que ajudou a criar prosperidade, a combater a pobreza, e a engrossar as fileiras da classe média global.

Os negócios e as finanças terão sido possivelmente os maiores beneficiários da ordem política e económica internacional aberta e regulamentada. Porém, os directores executivos e os presidentes de empresas raramente usam as suas vozes influentes na defesa do multilateralismo e da cooperação internacional.

Isso acontece em parte porque a maioria das empresas privadas ainda se dedica à pressão tradicional, frequentemente através de associações profissionais, e relacionada com os regulamentos e políticas nacionais. Do mesmo modo, os conselhos de administração tendem a tratar de questões básicas de governação e de gestão de risco, e raramente abordam preocupações geopolíticas mais abrangentes – e quando o fazem, os directores têm frequentemente dúvidas sobre o modo de contribuir de forma relevante.

Mas perante o aumento da desordem global, os líderes empresariais e financeiros já não se podem dar ao luxo de se mostrarem reticentes. Pelo contrário, deveriam dedicar-se a três coisas para apresentarem uma defesa forte e renovada da cooperação internacional.

Para começar, precisam de redescobrir e de voltar a comprometer-se com os valores e princípios centrais às principais organizações multilaterais, especialmente a OMC e a ONU. Estas organizações simbolizam a crença de que, frequentemente, os países chegam a melhores resultados no longo prazo se trabalharem em conjunto, em vez de sozinhos. Neste aspecto, o secretário-geral da ONU António Guterres apresentou recentemente argumentos persuasivos para um “multilateralismo em rede” que ligue os organismos como aquele a que preside com organizações e iniciativas regionais importantes.

Segundo, os responsáveis empresariais devem apoiar formalmente iniciativas multilaterais importantes do sector privado. Os milhares de empresas e de investidores que subscreveram o Pacto Global e os Princípios para o Investimento Responsável da ONU, por exemplo, ainda são a minoria. É necessário que muitos mais se consciencializem e subscrevam. Outros programas importantes do sector privado com uma origem ou orientação multilateral incluem os Princípios do Equador do sector bancário (originalmente provindos do Banco Mundial) e as Orientações para Empresas Multinacionais da OCDE.

Estas iniciativas, e outras que se lhes assemelhem, ajudam de dois modos. Muitas – incluindo o Pacto Global da ONU – envolvem a colaboração entre várias partes interessadas. Por outras palavras, reúnem o sector privado e o sector público, a sociedade civil e outros intervenientes, na abordagem de questões internacionais críticas, como o primado do direito, a governação global e as alterações climáticas.

Por outro lado, os decisores globais respondem frequentemente a estas iniciativas e coligações com a criação de novas possibilidades de cooperação. A ONU, por exemplo, iniciou recentemente um exercício em multilateralismo com uma abordagem financeira: um fórum de investimento anual concebido para a promoção da colaboração e da celebração de acordos entre governos e investidores institucionais.

Finalmente, os líderes empresariais e financeiros deveriam dedicar-se inteiramente à nova agenda global para a sustentabilidade. Esta será provavelmente a melhor aposta contra as ameaças, desafios e inseguranças globais, e apresenta oportunidades extraordinárias para ter um impacto global positivo.

Os 17 Objectivos do Desenvolvimento Sustentável e as suas metas associadas são um plano para a humanidade, e, acrescentaríamos, para a economia global. A consecução dos ODS tornaria a globalização mais sustentável e inclusiva, ao mesmo tempo que enfrentaria a ameaça das alterações climáticas.

As organizações do sector privado precisam de integrar os ODS nas suas estratégias empresariais e de investimento, e não apenas por motivos altruístas. A Comissão para o Desenvolvimento Empresarial e Sustentável estimou que as empresas e os investidores poderiam aproveitar oportunidades de mercado no valor mínimo de 12 biliões de dólares até 2030, e criar até 380 milhões de empregos, se se dedicassem apenas a alguns ODS essenciais.

E em Janeiro, na reunião anual do Fórum Económico Mundial em Davos, o Pacto Global da ONU e a PIMCO encorajaram conjuntamente empresas, investidores e governos de todo o mundo para darem alta prioridade aos ODS e para explorarem modos de financiar a evolução nesse sentido, nomeadamente com novos instrumentos, como as “obrigações ODS”.

A cooperação global é crucial para a nossa segurança e o nosso êxito económico comuns, mas está a ser ameaçada. Ao apoiarem publicamente o multilateralismo, os líderes empresariais e financeiros podem ajudar a moldar um futuro mais próspero e sustentável – para as suas organizações e para o mundo.

LISE KINGO

Lise Kingo é directora executiva do Pacto Global das Nações Unidas.

SCOTT MATHER

Scott Mather é Director de Investimentos das Estratégias Principais dos EUA na PIMCO.

 

 

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