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Como a promoção das importações pode aumentar o excedente comercial da China
Autor: Shang-Jin Wei

16-11-2018

Os países direccionam frequentemente fundos públicos para promoverem as exportações dos seus próprios bens e serviços. Mas direccionar recursos para promover as importações – como a China está a fazer com a sua primeira International Import Expo, que acabou de ser inagurada em Xangai – é verdadeiramente raro.

A  Import Expo  anual, que fará parte da estratégia global da China para promoção de importações, atraiu milhares de empresas de todo o mundo com a promessa de grandes encomendas colocadas por firmas chinesas, nomeadamente as empresas estatais a quem o governo atribuiu a tarefa de tornar esta exposição num sucesso.

Se a exposição for bem-sucedida no aumento das importações, poderia esperar-se que contribuisse para a redução do excedente comercial da China. Mas isso poderá não acontecer.

A China é um país abundante em trabalho, não apenas em termos do número absoluto de pessoas, mas também relativamente ao capital e a outros recursos. Embora a proporção relativa tenha vindo a evoluir, o custo médio do trabalho na China ainda equivale a perto de 85% da média mundial. Se a China diminuir as barreiras à importação, os bens intensivos em capital formarão uma parte substancial das importações adicionais, substituindo os bens intensivos em capital produzidos internamente.

Os empréstimos bancários, o trabalho, a terra e outros recursos anteriormente aplicados na produção destes bens precisarão de ser reafectados, muito provavelmente para sectores onde a China tem uma verdadeira vantagem comparativa, como a produção de exportações. Como consequência, as exportações globais da China provavelmente aumentariam paralelamente às suas importações. Por outras palavras, as políticas que visam a promoção das importações acabarão provavelmente por promover também as exportações.

Uma investigação que conduzi com Jiandong Ju e Kang Shi sugere algo ainda mais forte que isto: quando um país relativamente abundante em trabalho reduz as barreiras às importações, as exportações acabam por crescer mais que as importações. As importações adicionais de bens intensivos em capital expandem efectivamente a reserva de capital do país, reduzindo a remuneração do capital nacional. Isto cria um incentivo para as empresas e famílias enviarem mais capital para o estrangeiro, e o modo para conseguir isto é assumir um maior excedente comercial.

Isto pode parecer um contra-senso. E, na verdade, em países com maior abundância de capital como os Estados Unidos, o aumento de importações (principalmente de produtos intensivos em trabalho) aumentaria a remuneração dos capitais, criando um incentivo para a entrada de capitais internacionais no país. Neste caso, um aumento das importações está associado a um aumento do défice comercial. Se estivermos acostumados a pensar na experiência de países relativamente ricos, poderemos não compreender que o mesmo aumento nas importações pode levar a movimentos opostos nos saldos comerciais, caso se tratem de países em desenvolvimento ou desenvolvidos.

A experiência anterior da China ilustra bem esta realidade. A adesão em 2001 à Organização Mundial do Comércio obrigou a China a liberalizar substancialmente o seu regime de importações. O país reduziu a sua taxa média de tarifas à importação, de 15% no fim da década de 1990 para cerca de 5% em 2006, e reduziu muitas barreiras não-tarifárias à importação, como as restrições que definiam as empresas que se podiam dedicar legalmente ao comércio internacional. Como consequência, as importações da China dispararam, crescendo mais de 15% anualmente em USD – mais rapidamente que o PIB entre 2001 e 2007. Mas o seu excedente comercial também aumentou drasticamente durante este período.

Embora a responsabilidade de um maior excedente comercial seja frequentemente atribuída a uma taxa de câmbio real subvalorizada, a nossa investigação sugere que o programa de liberalização de importações da China possa também ter sido um factor significativo. Do mesmo modo, embora a diminuição do excedente comercial da China depois de 2007 seja normalmente considerada como resultante da crise financeira global, a nossa investigação sugere que o fim do programa chinês para a liberalização das importações em várias fases também pode ter desempenhado um papel.

É importante notar que a China ainda pode reduzir o seu excedente comercial bilateral com um determinado parceiro, mesmo que o seu excedente global aumente. E mesmo que a   Import Expo   aumente, em vez de reduzir, o excedente comercial global do país, poderá ter outros benefícios. Para começar, a diminuição do custo das importações aumentará o poder de compra das famílias chinesas e o seu acesso a produtos que podem melhorar a sua qualidade de vida.

As empresas chinesas também beneficiarão com os custos mais baixos das peças e equipamentos estrangeiros, já que isso aumentará a sua competitividade global – um outro canal através do qual a redução das barreiras à importação pode provocar um melhoramento das exportações.

Finalmente, a   International Import Expo   complementará outras medidas da China para a liberalização do seu mercado, nomeadamente a redução das barreiras à entrada para empresas financeiras estrangeiras.

A China possui um mercado enorme e em crescimento, a que os outros países pretendem aceder. Independentemente do impacto das suas medidas para promoção de importações sobre o excedente comercial global do país, o mundo tem bons motivos para saudar iniciativas como a   International Import Expo .

Shang-Jin Wei

Shang-Jin Wei, ex-economista-chefe do Banco Asiático de Desenvolvimento, é professor de Economia e Negócios Chineses e professor de Finanças e Economia na Universidade de Columbia.

 

 

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