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Resolver os problemas da acessibilidade aos serviços financeiros
Autor: Jacqueline Musiitwa

31-08-2018

No mês passado, o Reino Unido acolheu a primeira Cimeira Global sobre Deficiência,  para ajudar a concentrar a atenção do mundo nas necessidades das pessoas com necessidades especiais. A agenda esta recheada de tópicos como o desenvolvimento de um ensino equitativo, o fim da discriminação, e a aproximação da tecnologia às comunidades de pessoas com necessidades especiais – especialmente em países pobres do Sul Global.

Mas um desafio que não recebeu a atenção que merecia é uma componente frequentemente ignorada das políticas para o desenvolvimento: o acesso aos serviços financeiros. Perdeu-se uma oportunidade – não apenas para os mil milhões de pessoas portadoras de deficiência, mas também para as instituições que as deveriam servir.

O reforço da acessibilidade aos serviços financeiros é bom para os negócios e para o crescimento económico. Segundo um estudo do Barclays, sempre que os clientes com necessidades especiais conseguem gerir o seu dinheiro, a vulnerabilidade económica diminui e a saúde económica global melhora. Além disso, com mais de 1 bilião de dólares de rendimento disponível, o denominado mercado de necessidades especiais é uma das maiores bases potenciais de clientes do mundo. Por outras palavras, os prestadores de serviços financeiros têm todos os motivos para servirem as pessoas com necessidades especiais. Então porque faz a maioria das empresas exactamente o oposto?

Um dos motivos é a falta de conhecimento. Como as pessoas com necessidades especiais têm normalmente rendimentos inferiores aos seus pares não-incapacitados, aos prestadores de serviço tem muitas vezes faltado o incentivo para alargarem a sua oferta a essas pessoas. Mas, à medida que se presta mais atenção ao potencial total do mercado, as instituições financeiras começam a ajustar em conformidade as suas linhas de produtos. Ao fazerem-no, devem resolver quatro questões para maximizarem os benefícios para os clientes com problemas de acessibilidade.

Primeiro, as empresas de serviços financeiros devem esforçar-se mais por compreenderem as necessidades dos seus clientes, actuais e futuros. Por exemplo, com melhores informações, um banco de um determinado mercado poderá melhorar a acessibilidade das suas plataformas móveis de serviços bancários. Essencialmente, foi o que aconteceu no Standard Chartered Bank na Índia no ano passado, quando os funcionários desenvolveram um sistema assistido por voz, para ajudar os clientes portadores de deficiência visual a acederem às suas contas on-line. As informações de boa qualidade também são essenciais para a eficácia dos grupos de defesa, permitindo-lhes insistir com os fornecedores para que estes melhorem os seus serviços.

Segundo, o envolvimento não se deve ficar pelos produtos inovadores; também deve ser alargado ao mercado de trabalho. Simplificando, a indústria dos serviços financeiros deveria contratar mais pessoas com necessidades especiais, investindo em tecnologias de assistência como leitores de braille e dispositivos para comunicação alternativa e aumentativa. A necessidade de diversificação da força de trabalho é particularmente intensa nos Estados Unidos, onde uma em cada cinco pessoas é portadora de incapacidade.

Terceiro, as pessoas com necessidades especiais devem ser sempre incluídas nos debates sobre o modo de alargamento e de fortalecimento da independência financeira. Em 2013, quando o Grupo Bancário Lloyds estabeleceu um grupo de análise para examinar os efeitos da demência sobre o comportamento dos clientes, o envolvimento com os clientes levou à carta dos Serviços Financeiros adaptados a pessoas com demência. Este documento inovador codificou o modo como os bancos devem adaptar produtos a clientes com dificuldades cognitivas. Eventuais iniciativas futuras deverão seguir este modelo colaborativo, para garantir que a tomada de decisão a todos os níveis é facilitada por uma concepção centrada nas pessoas.

E, finalmente, os governos devem comprometer-se a resolver esta questão, repetindo as acções de países como o Reino Unido, que associou os serviços para pessoas com necessidades especiais ao financiamento para o desenvolvimento. Com o apoio certo, o progresso alcançado nestes desafios complexos pode ser esmagador; por exemplo, na organização Financial Sector Deepening Uganda, onde trabalho, usamos fundos Britânicos para o desenvolvimento no alargamento dos serviços financeiros às pessoas com necessidades especiais em comunidades rurais. A nossa visão consiste em encorajar a emergência de programas semelhantes em muitos outros países do mundo. Com a ratificação, por 91 países, do Protocolo Opcional à Convenção dos Direitos das Pessoas com Necessidades Especiais, fica claro que existe suficiente apoio político para estas iniciativas. O desafio está em transformar as promessas em acções.

Nas próximas décadas, a população mundial de pessoas com necessidades especiais crescerá, à medida que os avanços da medicina permitirem que as pessoas tenham vidas mais longas, mais saudáveis e mais cheias. Fornecer acesso aos serviços financeiros a pessoas com necessidades especiais é uma das melhores maneiras de nos defendermos da discriminação e de promovermos a capacitação no longo prazo. A inclusão financeira plena será lenta, para uma comunidade frequentemente denominada como o “grupo minoritário de crescimento mais rápido no mundo”. A tarefa dos activistas, defensores, líderes empresariais esclarecidos, e legisladores consiste em sublinhar os benefícios sociais e económicos da sua consecução.

Jacqueline Musiitwa

Jacqueline Musiitwa, bolsista do Aspen New Voices 2014, é uma advogada reguladora e especialista em finanças inclusivas no Uganda.

 

 

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