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DOSSIERS
 
RESOLVER O ENIGMA DA PRODUTIVIDADE
Autor: James Manyika e Myron Scholes

18-05-2018

SÃO FRANCISCO –Há vários anos que um dos maiores enigmas da economia tem sido explicar o declínio no crescimento da produtividade nos Estados Unidos e noutras economias avançadas. Os economistas têm proposto uma ampla variedade de explicações, que vão desde a medição imprecisa, a “estagnação secular”, até ao questionamento sobre se as recentes inovações tecnológicas são produtivas.

Mas a solução para o enigma parece residir na compreensão das interações económicas e não na identificação de um único culpado. E, em relação a essa matéria, poderemos estar a chegar ao fundo da questão sobre o porquê de o crescimento da produtividade ter diminuído.

Analisando a década desde a crise financeira de 2008 - um período notável para a acentuada deterioração no crescimento da produtividade em muitas economias avançadas -identificamos três excelentes características: o nível historicamente baixo do crescimento na intensidade de capital, a digitalização e uma fraca recuperação na procura. Juntas, estas características ajudam a explicar o porquê de o crescimento anual da produtividade ter caído 80%, em média, entre 2010 e 2014, passando de 2,4%, uma década antes, para 0,5%.

Começa com uma desaceleração historicamente fraca da intensidade de capital, um indicador do acesso da mão-de-obra a máquinas, ferramentas e equipamentos. Em média, o crescimento neste conjunto de ferramentas para os trabalhadores diminuiu –e até atingiu valores negativos nos EUA.

No período entre 2000 e 2004, a intensidade de capital nos Estados Unidos cresceu a uma taxa anual composta de 3,6%. Entre 2010 e 2014, diminuiu a uma taxa anual composta de 0,4%, o desempenho mais fraco no período pós-guerra. Um colapso dos componentes da produtividade laboral mostra que o desaceleramento da intensidade de capital contribui em cerca de metade, ou mais, da diminuição no crescimento da produtividade em muitos países, incluindo os EUA.

O crescimento na intensidade de capital foi enfraquecido por um abrandamento substancial no investimento em equipamentos e estruturas. E para piorar, o investimento público também tem estado em declínio. Por exemplo, os EUA, a Alemanha, a França e o Reino Unido vivenciaram uma recessão a longo prazo entre 0,5 e um ponto percentual no investimento público, entre a década de 1980 e o início da década de 2000, e o número manteve-se ou diminuiu desde essa altura, criando significativas lacunas infraestruturais.

Investimentos incorpóreos, em áreas como software, e investigação e desenvolvimento, recuperaram muito mais rapidamente da pequena queda pós-crise, em 2009. O crescimento contínuo em tais investimentos reflete a onda de digitalização –a segunda característica extraordinária deste período de crescimento da produtividade anémico –que agora assola várias indústrias.

Por digitalização, queremos dizer tecnologia digital –tais como computação em nuvem, comércio eletrónico, Internet móvel, inteligência artificial, aprendizagem automática e Internet das Coisas (IoT) –que está a ir além da otimização de processos e a transformar os modelos empresariais, a alterar as cadeias de valor e a esbater os limites entre as indústrias.

O que diferencia esta última onda de desenvolvimento da década de 1990 nas Tecnologias de Informação e de Comunicação (TIC) é a amplitude e diversidade das inovações: novos produtos e funcionalidades (por exemplo: livros digitais e monitorização de localização em tempo real), novas formas de distribuí-los (por exemplo: transmissão de vídeo) e novos modelos empresariais (por exemplo: Uber e TaskRabbit).

No entanto, há também semelhanças, particularmente no que diz respeito ao efeito no crescimento da produtividade. O economista Robert Solow constatou de forma notável que a revolução das TIC foi visível em todo o lado, exceto nas estatísticas de produtividade. O Paradoxo de Solow, como era conhecido (em homenagem ao economista), foi eventualmente resolvido quando alguns setores –tecnologia, retalho e grossista –provocaram um aumento súbito de produtividade nos Estados Unidos. Atualmente, podemos estar na segunda ronda do Paradoxo de Solow: embora as tecnologias digitais possam ser vistas em todo o lado, elas ainda não fomentam o crescimento da produtividade.

Uma investigação do McKinsey Global Institute (MGI) demonstrou que os setores que são altamente digitalizados em termos de ativos, utilização e capacitação dos trabalhadores –tais como o setor da tecnologia, da comunicação social e dos serviços financeiros –têm uma produtividade elevada. Mas estes setores são relativamente pequenos em termos de percentagem do PIB e do emprego, ao passo que grandes setores, tais como os cuidados de saúde e a venda a retalho são muito menos digitalizados e também tendem a ter uma produtividade baixa.

A investigação do MGI também sugere que embora a digitalização prometa oportunidades significativas de aumento da produtividade, os benefícios ainda não se materializaram à escala. Numa recente pesquisa McKinsey, empresas mundiais relataram que menos de um terço das suas operações, dos seus produtos e dos seus serviços principais eram automatizados ou digitalizados.

Isto pode refletir barreiras na adoção e efeitos de desfasamento, bem como custos de transição. Por exemplo, na mesma pesquisa, as empresas com transformações digitais em curso disseram que 17% da sua quota de mercado em produtos ou serviços principais foi “canibalizada” pelos seus próprios produtos ou serviços digitais. Além disso, menos de 10% das informações geradas e que fluem através de corporações está digitalizada e disponível para análise. À medida que estes dados se tornam mais prontamente disponíveis através de blockchains, computação em nuvem ou ligações IoT, novos modelos e inteligência artificial irão permitir às corporações inovar e agregar valor através de oportunidades de investimento nunca antes vistas.

A última característica que se destaca neste período de desaceleração histórica da produtividade é a fraca procura. Sabemos, através de responsáveis pelas decisões empresariais, que a procura é crucial para o investimento. Por exemplo, numa pesquisa MGI realizada no ano passado descobriu-se que 47% das empresas que aumentaram os seus orçamentos de investimento, só o fizeram por causa do aumento da procura ou das expetativas de procura.

A lenta recuperação da procura após a crise financeira foi um fator chave que dificultou o investimento em vários setores. A crise aumentou a incerteza sobre a direção futura que os consumidores e a procura de investimento iriam tomar. A decisão de investir e aumentar a produtividade foi corretamente adiada. Quando a procura começou a recuperar, muitas indústrias tinham excesso de capacidade e de espaço para expandirem e contratarem sem necessitarem de investir em novos equipamentos ou estruturas. Isso conduziu a valores mínimos históricos no crescimento de intensidade de capital –o único grande fator por trás do crescimento de produtividade anémico –no período entre 2010 e 2014.

Mas, à medida que mais empresas adotam soluções digitais e aprendem através delas, e à medida que novas formas de emprego e oportunidades de investimento fortalecem a recuperação da procura, prevê-se que o crescimento da produtividade recupere. Uma panóplia de fatores contribuem para os ganhos de produtividade, mas é a máquina a vapor do século XXI –digitalização, dados e a sua análise - que irá alimentar e transformar a atividade económica, agregar valor e possibilitar ganhos de produtividade que aumentem o rendimento e o bem-estar.

James Manyika

James Manyika é presidente do McKinsey Global Institute e sócio sénior do escritório da McKinsey & Company em São Francisco..

Myron Scholes

Myron Scholes, Prémio Nobel de Economia, é Professor de Finanças, emérito, da Stanford Graduate School of Business e co-criador do modelo de opções de fixação de preços na Black-Scholes.

 

 

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